A maior árvore do quintal ouve os segredos de uma menina cheia de sonhos. Numa noite, contando as estrelas, a menina adormece, voa pelo alto das casas e vê uma moça de saia de fogo e cara de boi. Será que a criatura veio assustá-la?
Árvore mangueira é um curta-metragem inspirado na infância da autora, Necylia Maria da Silva Monteiro, que relembra as histórias contadas por sua avó e sua relação com o quintal da casa onde passava as tardes brincando e comendo manga do pé. “Recorro à minha infância sempre que desejo afirmar minha identidade, o lugar de onde vim, as pessoas que me nutriram, os saberes que trago como memória”, revela.
A produção explora as possibilidades do teatro de sombras e da câmera de celular. As silhuetas usadas para contar a história foram feitas de acetato ou mesmo de objetos que Necylia tinha em casa, como livros e jarros de plantas. E a luz usada para criar as sombras foi um flash de celular projetado num lençol branco. O principal desafio foi justamente trabalhar com os recursos disponíveis em casa e com pouco pessoal, em razão da pandemia de covid-19. “Eu acabei acumulando muitas funções… E tive receio de que isso prejudicasse a qualidade da produção”, revela a autora, que fez a direção, a manipulação das silhuetas, a iluminação, a edição e também compôs a sonoplastia do vídeo.
Artista de teatro e circo e pesquisadora de produções artísticas para a infância, Necylia atua na criação dramatúrgica e na palhaçaria. Além de possuir graduação em teatro pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), em 2020, concluiu também o seu mestrado, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sobre dramaturgia para a infância, tendo publicado diversos artigos que contribuíram para discussões na área.
O tema da infância, portanto, acompanha a autora em sua vida acadêmica, mas também em sua prática artística: há alguns anos, ela vem coletando histórias de sua infância num projeto chamado Memórias em Maranhês, no qual revisita brincadeiras, lendas, causos e outras histórias que seus avós lhe contavam. O Infâncias plurais foi “uma oportunidade de conhecer outros horizontes, outras escutas sobre o tema, de me manter em movimento e também de me aproximar da linguagem audiovisual”, conta Necylia.
O importante, segundo ela, é fazer algo que não subestime a capacidade das crianças de presenciar e sentir uma obra de arte. Nesse sentido, o seu objetivo é uma dramaturgia de olhos abertos para a contemporaneidade e para um mundo com diversidade de conhecimentos e realidades. Sabendo-se que muitas crianças vivem infâncias de perdas e de precarização da vida, Necylia reforça que todas as histórias merecem ser contadas, pois “o olhar de um eu criança pode ser rico em possibilidades”.