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Como falar sobre coronavírus: 8 sugestões do Unicef

Imagem de pai e filha negros deitados no chão. Eles estão sorrindo e desenhando com lápis colorido em um caderno.

Por que a escola fechou? Por que as pessoas estão usando máscaras? Por que lavar as mãos de novo? Por que não podemos visitar a vovó? Pode ser que, a cada dia da quarentena, os porquês das crianças se multipliquem. Pode ser também que elas não consigam elaborar perguntas sobre a situação, mas expressem carência e ansiedade por meio da raiva, da agitação ou do silêncio. Cabe aos adultos perceber o impacto da mudança de rotina sobre elas e traduzir o que o mundo está vivendo com a pandemia de coronavírus. Como então falar sobre coronavírus com as crianças?

Diante dessa demanda, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que busca promover a defesa dos direitos das crianças, organizou oito orientações para ajudar os pais a falar  sobre o coronavírus com as crianças. O conteúdo é destinado às famílias em geral, pais, cuidadores, educadores e outros profissionais que trabalham com infância. Confira:

Como abordar o coronavírus com crianças?

O momento pede escuta ativa, um gesto que envolve afeto, cuidado e, principalmente, disponibilidade. No dia 12 de março, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou uma nota com considerações sobre a saúde mental e psicossocial da população durante a pandemia de Covid-19, sugerindo uma série de atitudes para evitar sofrimentos, como buscar formas acolhedoras de expressar o medo.

Portanto, os adultos devem estar atentos aos sinais de tristeza ou ansiedade das crianças e convidá-las a falar livremente sobre o coronavírus. Elas precisam se sentir confortáveis em fazer qualquer tipo de pergunta. A dica é descobrir o quanto elas já sabem e seguir a partir deste ponto.

“Não minimize ou se esquive das preocupações da criança. Assegure-se de reconhecer os sentimentos dela e lhe garantir que é natural sentir medo dessas coisas”, sugere o Unicef.

Para compreender e desenvolver a escuta ativa, leia a entrevista do Lunetas sobre este tema com a antropóloga Adriana Friedmann, na matéria Muito além do ouvido: o que é efetivamente escutar uma criança?

A criança deve ser reconhecida como indivíduo pleno, capaz e dotado de subjetividades que fazem dela um legítimo ator social; ou seja, a criança é um sujeito de direitos. Isso quer dizer que elas merecem respostas sinceras sobre o que está acontecendo no mundo. E o papel do adulto, nesse cenário, é protegê-las, utilizando a linguagem necessária e apropriada para cada idade.

A orientação do Unicef é não inventar informações, mas usar as perguntas das crianças para explorar respostas juntos e incentivá-la a pensar sobre o assunto e falar sobre coronavírus, sem medo. Sites de organizações internacionais como o UNICEF e a Organização Mundial da Saúde podem ser fontes de referência. Mas é importante lembrar que as notícias online nem sempre são precisas e, muitas vezes, o melhor caminho é consultar um especialista.

Pensando em como iniciar esse tipo de conversa de uma forma lúdica, com crianças entre dois e seis anos, a psicóloga e professora colombiana Manuela Molina publicou um livro em PDF com ilustrações divertidas e dados importantes sobre o coronavírus. O Covibook é gratuito e está disponível online em português, italiano, inglês e espanhol.

(Fonte: divulgação COVIBOOK)

A conversa não precisa ser assustadora. Já se sabe até aqui que uma das formas mais eficazes de proteger as pessoas contra a contaminação do coronavírus é a higiene, principalmente, lavar as mãos de forma regular, com água e sabão. O aprendizado pode ser divertido. Por que não recorrer ao Palavra Cantada e realizar a ação juntos? Ou, quem sabe, fazer a dancinha sobre como lavar as mãos, com os vietnamitas Quang Đăng!

Muita informação e imagens perturbadoras chegam por todos os lugares e, às vezes, pode parecer que a crise está muito próxima de todas as famílias. Se os adultos não estão sentindo se sentindo seguros, a sensação não é diferente para as crianças. “As crianças podem não distinguir entre imagens na tela e sua própria realidade pessoal, e podem acreditar que estão em perigo iminente”, afirma a nota do Unicef.

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) também divulgou uma série de sugestões sobre como abordar o assunto com as crianças, sugerindo aos pais, famílias e profissionais da educação, honestidade e precisão ao abordar o tema, para evitar o pânico e o estresse.

O ideal é manter as rotinas regulares o máximo possível, especialmente na alimentação e horas de dormir. Se a agenda das famílias precisar ser reorganizada, a recomendação do Unicef é criar oportunidades para elas brincarem e relaxarem, quando possível. Os adultos devem tranquilizar as crianças, compartilhando que a situação pode ser tediosa ou assustadora por algum tempo, mas que seguir as regras ajuda a manter todo mundo em segurança.

Para ajudar as famílias com ideias criativas de brincadeiras nesse período, o Lunetas reuniu um série de dicas para a quarentena:

De acordo com o CDC e as Nações Unidas, o surto de coronavírus trouxe inúmeros relatos de discriminação racial. Por isso, as famílias, cuidadores e adultos de confiança das crianças, devem verificar se elas não estão enfrentando ou contribuindo para o bullying.

“Explique que o coronavírus não tem nada a ver com a aparência de alguém, sua origem ou o idioma que falam”, reforça o Unicef.

A literatura pode ajudar no combate ao bullying. Nem só de livros didáticos ou assinados por especialistas no assunto é feita essa discussão. Histórias de ficção acionam na criança outros sentimentos importantes para lidar com o problema. Já falamos bastante disso no Lunetas e você pode ler aqui as dicas do terapeuta familiar, Alexandre Coimbra Amaral, sobre como as famílias podem acabar com o bullying ou as dicas de como evitar que seu filho se torne o agressor. Também temos sugestões de dez livros para ajudar a conversas sobre o assunto:

Mesmo diante da crise em vários setores, uma rede de apoio e cuidado tem se fortalecido no mundo: há um crescimento de profissionais da saúde, cientistas, professores, jovens e muitas outras pessoas que estão trabalhando para interromper a pandemia de covid-19. Aulas à distância, cursos online gratuitos, lives no Instagram com contação de histórias para as crianças e outras iniciativas, como a própria atitude do isolamento domiciliar, podem confortar as famílias e é importante compartilhar com as crianças que esse é um momento de cuidar de si e uns dos outros.

A força do exemplo é pedagógica e as crianças podem buscar referências na atitude dos adultos. “Se você estiver ansioso ou chateado, reserve um tempo para si mesmo e procure outras famílias, amigos e pessoas de confiança em sua comunidade. Reserve algum tempo para fazer coisas que o ajudem a relaxar e se recuperar”, recomenda o Unicef.

“A educação das crianças acontece por meio das coisas que dizemos, das ideias que argumentamos, mas é, sobretudo, uma experiência que se dá por transmissão. É preciso fazer, realizar e deixar acontecer conosco o que estamos dizendo para elas que é correto e responsável”, afirma a psicanalista Ilana Katz.

Pesquisadora na área da infância, ela defende que os adultos estão diante de uma grande oportunidade de construir um diálogo construtivo com sobre responsabilidade coletiva e humanidade. Ilana Katz aprofunda a ideia em sua coluna no Portal Lunetas: O que vamos dizer às crianças sobre o corona vírus ? 

Durante a conversa, os adultos devem ter em mente que, embora as crianças estejam fora do grupo de risco, elas podem ser contaminadas da mesma maneira e são veículos de transmissão que podem afetar as populações mais frágeis, incluindo os avós e os próprios pais. Por isso, a verdade sobre os riscos e a informação de qualidade sobre medidas de prevenção importa.

Vale desenho, contação de história, gincana da higiene, transformar álcool em gel em “spray anti-monstro” ou simplesmente uma informação sincera como “eu também não sei, filha, vamos descobrir”. Algumas famílias irão recorrer às informações científicas e outras ao mundo da fantasia para encontrar respostas. Independentemente da escolha, o importante nesse momento é o esforço coletivo por meio da prevenção. Então, por que não incluir as crianças desde já podem nessa missão?

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