Com uma mesa composta por três mães, o tema central foram as relações de gênero e o papel do homem na educação das crianças. Na plateia, muitos homens, conselheiros tutelares e educadores compartilharam suas visões e experiências em suas profissões e vidas pessoais na busca pela desconstrução. Muito se falou sobre a importância de criar meninos que vivam bem sua masculinidade. As mulheres compartilharam as dificuldades de ser a principal cuidadora das crianças: “Quando eu pari meu filho, morreu aquela mulher e outra mulher nasceu”, trouxe a doula Fernanda Pacheco sobre as revoluções internas pelas quais passam as mulheres. Vanessa Anacleto, fundadora do Movimento Infância Livre de Consumismo defendeu que todos nós, tendo filhos ou não, deveríamos lutar por políticas públicas para as crianças.
“A gente nasce várias vezes ao longo da vida, e ir para a escola é um nascimento”. Foi assim que o educador Severino Antônio definiu o que significa a escola para as crianças. Muitos professores presentes contaram suas experiências e dificuldades na rede pública. Para que a criança seja livre, e exerça sua plena potência na escola, é preciso antes de tudo que pensemos em quem está no cuidado diário com as crianças: os professores. A advogada do Criança e Consumo, Ekaterine Karageorgiadis, exemplificou como as empresas se aproveitam das fragilidades das escolas para propor atividades e vender produtos. Já Célia Pena, da região do rio Xingu, é pedagoga e mestre em Educação pela UFPA (Universidade Federal do Pará), e relembrou as memórias dos lugares onde foi educada pela “mãe terra” e pelo “pai rio”, como ela diz.
“Para ela, temos que abrir nosso coração, recebendo a própria criança que nós fomos”
“No último painel, ficou forte a necessidade de as crianças conhecerem o próprio território em que vivem. Isso vale tanto para as crianças ribeirinhas quanto para as que moram na cidade. Pela experiência de Walter Oliveira, criador do coletivo Jovem Tapajônico, a criança só passa a se dedicar ao seu território e fortalecer sua cultura quando entende a história daquele espaço. Aí ela começa a tomar posse e dizer:
“isso aqui é meu e eu vou lutar por isso”, disse.
O Lunetas Avista surgiu a partir de uma vontade de ampliar os olhares, ser plural, conhecer de perto as infâncias do Brasil, e fazer a conversa que o portal faz virtualmente, porém ao vivo. O objetivo é reunir qualquer pessoa interessada na temática da infância, conversar e compartilhar experiências, em um espaço de acolhimento e trocas.
Não é uma palestra convencional e sim um diálogo onde todo mundo tem tempo para falar e ser ouvido.
Hoje em dia fala-se muito das crianças como um símbolo do futuro, como a possibilidade de transformação da sociedade. Sim, é claro que elas são os adultos de amanhã. Mas é também verdade que muitas vezes essa afirmação faz com que nos esqueçamos de suas necessidades, vontades e sua potência de transformação no presente. Elas são o presente.
Como nós, adultos, a aldeia inteira necessária para cuidar de uma criança, podemos propiciar um ambiente seguro para que elas apenas “sejam”?