Severino Antônio, Luciene Silva e Ana Cláudia Arruda Leite conversam sobre a escuta de crianças na Ciranda de Filmes
O Educador Severino Antônio falou sobre protagonismo infantil e a importância de escutar as crianças na última roda de conversa da mostra Ciranda de Filmes.
No último sábado, 22, a Ciranda de Filmes conversou sobre as linguagens da criança e as possibilidades de potencializarmos a escuta e o protagonismo infantil nos diferentes contextos. Em uma roda de debate, houve a participação do educador Severino Antônio, que abordou uma série de temáticas relacionadas à infância.
Diferentemente das outras rodas, em que os convidados partilharam memórias de suas próprias infâncias, Luciene Silva, coordenadora do Centro de Formação do Educador Brincante da Oca – Escola Cultural compartilhou como seus educandos exercem o protagonismo sendo criança.
Já Severino Antônio, doutor em Educação pela Unicamp, descreveu memórias de outras crianças que ela mantinha guardadas. O debate foi mediado por Ana Claudia Arruda Leite, uma das idealizadoras da Ciranda de Filmes.
Severino dividiu com a plateia situações reais de crianças protagonistas. “É assim que eu penso a criança como protagonista, pensadora, criadora de poemas e de indagações”, disse o especialista, que há quarenta anos trabalha com ensino de Redação e Leitura, Literatura, Filosofia.
Uma garota cuida de uma joaninha que perdeu uma perna. Em outra ocasião ela entrega um autorretrato para o avô dizendo que era para que ele não se esqueça dela.
“Isso, é empatia, é cuidado com a vida. É também trazer a presença do que não está presente, é tornar presente o ausente. Isso para mim é protagonismo, é a criança sendo criadora de vida, de história, criadora do texto da própria vida”, aponta Severino.
A menina corre alegremente no corredor da escola e logo pedem que ela pare dizendo que é proibido. Ela então para e, numa naturalidade espantosa, pergunta: ‘Mas aqui não se chama corredor’?
“Essa experiência de indagação da linguagem é uma investigação das palavras. A infância é radicalmente poética porque ela esta próxima dos sentidos”, afirma o educador.
Uma garota bem pequena, com um pouco mais de um ano, fica olhando o pai que tenta consertar um móvel. Logo ela pega um brinquedo como se fosse uma chave de fenda e sai tentando consertar todos os móveis da casa. Faz de novo e de novo.
“Essas são as duas matrizes do pensamento infantil: fazer de conta e fazer de novo. Isso é descoberta do mundo, é fazer de novo é criação da vida”, diz Severino.
Um menino de três anos com a mãe no quintal: ‘Deus fez isso, fez esse céu, fez a nuvem, essa árvore comprida e até essa formiguinha’?
O educador analisa: “Essa passagem no macro-mundo para a formiguinha pequena é o pensamento mágico da infância.”
Luciene Silva além de desenvolver pesquisas em Cultura Infantil e Música tradicional é coordenadora do Centro de Formação do Educador Brincante da Oca – Escola Cultural.
Na instituição as crianças são alfabetizadas e os educadores que lá atuam acreditam que se a palavra não chegar ao grau de brinquedo a criança não aprende. “Quando eu começo a descobrir essas maravilhas, inclusive viajando e resgatando as cantigas, eu vejo que não tenho nada para ensinar”, afirma.
As experimentações, as descobertas e invenções que eles fazem acontecem em todas as instâncias, no desenho e na música. “Quanta elaboração, quanta observação do entorno, quanta consciência. E são todas as coisas que ficamos tentando ensinar com papel e caneta”, explica Lucilene.
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