Para Ellen Tadd, a expressão “viver no momento” é problemática. Entenda o porquê.
Ellen Tadd sobre mindfulness para crianças e a ideia de viver só o momento: "Nossas histórias individuais e coletivas são ricas em lições. Compreender o passado pode nos ajudar a não cometer os mesmos erros".
Recentemente, eu li um artigo sobre os benefícios do treinamento de mindfulness nas escolas escrito por Anne Trafton. “Em sua definição, mindfulness é a habilidade de concentrar sua atenção no momento presente, ao invés de se distrair com estímulos externos ou pensamentos internos”. Certamente existe uma vantagem em ensinar as crianças a se concentrarem nas tarefas escolares ou na aula de uma professora sem se distraírem.
Vários estudos demonstram que crianças ficam menos estressadas e sentem menos sentimentos negativos quando elas aprendem a praticar os exercícios de meditação mindfulness. Isso parece ótimo e é difícil discordar. Porém, uma dimensão do treinamento de mindfulness com a qual eu não compactuo é que esses exercícios enfatizam viver no momento, ao invés de se concentrar no passado ou no futuro. Eu entendo a lógica, afinal muitas vezes as pessoas, inclusive crianças, sentem arrependimento em relação ao passado e ansiedade em relação ao futuro. Mas ao meu ver, adaptar a expressão “viver no momento” é problemático.
Nossas histórias individuais e coletivas são ricas em lições. Compreender o passado pode nos ajudar a não cometer os mesmos erros.
Manter uma visão do futuro pode nos ajudar a seguir em frente mesmo durante os altos e baixos no caminho da expressão dos nossos anseios. A minha preocupação é que quando as crianças aprendem mindfulness, elas estão recebendo somente os benefícios a curto prazo da mensagem de “viver no momento”. O lado negativo desse condicionamento pode levar elas a evitar questões importantes nas suas vidas pessoais e também no mundo.
É verdade que a realidade é difícil de encarar e pode ser estressante. Apesar disso, não seria melhor oferecer às crianças ferramentas para lidar com desafios que promovam a resiliência e a resolução de problemas, ao invés de promover a ideia de que dar atenção ao passado ou ao futuro pode causar estresse, medo e distração?
Na verdade, eu sou uma grande defensora de ensinar as crianças a se concentrarem, mas não somente no presente.
Em outros artigos que eu escrevi para o Lunetas, eu falei da minha compreensão do sistema de chacras, que existe na aura de todas as pessoas. Ele é feito de sete centros de energia, alinhados do topo da cabeça até a base da coluna. Cada centro representa uma parte distinta da nossa natureza. O chacra do terceiro olho, localizado no centro da testa, é o centro da sabedoria, do foco e da concentração.
Quando crianças aprendem a se concentrar, elas ativam este centro. Seja focando na respiração, em um ponto de foco em um poster, ou concentrando intensamente na leitura de um texto. Foco e concentração não só previnem a distração, como também ativam o bom senso. Quando se observa o passado com foco, memórias íntimas ou narrativas históricas podem ser observadas através da lente da sabedoria. A habilidade de tomar boas decisões fica aguçada, uma qualidade necessária para planejar os detalhes adequados e importantes para o futuro. Ao invés de enfatizar viver no momento, na minha opinião deveríamos ensinar técnicas de foco e concentração para crianças com uma abordagem que sirva de antídoto e de prevenção contra o arrependimento e a ansiedade.
Pode parecer que estou procurando pelo em ovo, mas eu acredito que é um ponto essencial. Ensinar às crianças a importância das habilidades de foco e o poder do terceiro olho ofereceria o benefício do treinamento de mindfulness sem o lado negativo.
Ano atrás, eu dei uma palestra sobre esse conceito para um grupo de estudantes. Eu pedi para eles fecharem os olhos enquanto eles resgatavam uma memória de alguma situação difícil. Ao mesmo tempo, eu pedi para eles observarem as suas reações emocionais a esse evento. Depois, eu falei para eles tocarem no centro da sua testa para ajudar a encontrar o local do chacra do terceiro olho. Após localizarem esse ponto, eu falei para eles focarem toda a sua atenção ali enquanto lembravam da mesma memória. Eu queria que eles próprios sentissem a importância do terceiro olho. Após a minha palestra, um jovem estudante se aproximou com um olhar de espanto. Ele dizia, repetidamente, “eu não sentia raiva quando eu focava através do meu terceiro olho”.
Crianças de todas as idades podem aprender uma variedade de hábitos e técnicas de foco que podem ser integradas na rotina escolar. Essa poderosa habilidade pode ajudar as crianças a desenvolverem uma boa concentração e equilíbrio emocional no momento, mas também pode servir para revisitar situações do passado para adquirir novas revelações e uma perspectiva mais sábia. Com habilidades de foco que foram treinadas e aguçadas, o momento atual, o passado e o futuro podem ser vivenciados e atravessados com mais prudência.
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