Desenvolvimento: ‘não devemos superestimular o bebê’, diz médica

"É importante que se conheça cada fase do desenvolvimento para que se possa estimular a criança de maneira adequada", defende a pediatra Mariana Granato

Da redação Publicado em 05.09.2017

Resumo

Mariana Granato, pediatra do Hospital Albert Einstein fala sobre o desenvolvimento do bebê e os cuidados que devemos ter com os superestímulos.

Com a notícia que vai chegar um bebê em casa, cria-se um campo de expectativas em toda a família. É um período de adoráveis descobertas e surpresas, mas também podem aparecer entraves e obstáculos nesta incrível jornada que é cuidar de uma criança pequena.

Temos assistido no Brasil um aumento da incidência de diagnósticos psicopatológicos da infância e junto com isso, a crescente discussão sobre o aumento da medicalização de crianças e adolescentes em virtude de diagnósticos realizados a partir de uma visão cada vez mais patologizante e determinista de infância como transtornos de conduta, hiperatividade, ansiedade dentre outros.

“É importante que os pais conheçam e entendam o que é o desenvolvimento considerado ‘normal’, para identificarem eventuais atrasos que sejam relevantes”, assegura Mariana Granato, pediatra do Hospital Israelita Albert Einstein.

“É importante que se conheça cada fase do desenvolvimento para que se possa estimular a criança de maneira adequada”, defende

Diversos estudos vêm demonstrando a viabilidade de se identificar sinais iniciais de problemas de desenvolvimento nos primeiros anos da criança. Sendo assim, quanto mais cedo é realizada a intervenção necessária ao bom desenvolvimento do bebê, melhores são os resultados.

O desenvolvimento infantil pode ser avaliado a partir da observação da aquisição dos marcos do desenvolvimento ou por meio de escalas, como a Escala de Denver e a ASQ (Ages and Stages Questionnaire). “O próprio pediatra da criança pode fazer essa avaliação e, caso haja alguma dúvida, a criança pode ser encaminhada para um especialista em desenvolvimento infantil (como pediatra do desenvolvimento ou neurologista infantil)”, diz a pediatra.

Uma das maiores preocupações das famílias é com relação ao desenvolvimento da fala da criança. Esperar muito por esse marco, muitas vezes, pode gerar angústia e frustração nas famílias. Mas será que a ciência considera como padrão normativo alguma idade para o bebê começar a falar? Segundo a médica, a reposta é sim.

Comumente, as crianças começam a falar as primeiras palavras por volta de um ano, vão aumentando progressivamente o vocabulário e, por volta de um ano e meio já utilizam de 10 a 25 palavras. Por volta dos dois anos as crianças já conseguem unir duas ou três palavras para formar pequenas frases.

É normal que ocorram algumas variações nesses marcos e algumas crianças podem demorar um pouco mais para atingi-los, sem que isso seja motivo de preocupação

Entretanto, se esse atraso for além do esperado, os pais devem conversar com um pediatra, visando esclarecer melhor o motivo da demora em atingir a habilidade. O quadro abaixo apresenta os principais sinais de alerta referentes ao desenvolvimento da linguagem e da socialização.

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Referência: Pediatria Rev. 2010;31;364-367.

Outro assunto que permeia a vida de todo pai e mãe de bebê pequeno é o sono, ou a falta dele, em em muitos casos. E este também é um aspecto muito importante para o desenvolvimento dos bebês. “Um bebê que não dorme bem, não terá energia para brincar e aprender durante o dia”, diz. Nos primeiros três meses de vida os bebês passam pouco tempo acordados (em geral dormem por volta de 18 horas por dia). Dos quatro aos 12 meses dormem em média 12 a 16 horas por dia (incluindo as sonecas) e de um a dois anos de 11 a 14 horas por dia”, detalha Mariana.

Estimular X observar

“As crianças devem ser estimuladas de maneira lúdica e em situações do dia a dia. É importante que os pais e cuidadores brinquem com criança, conversem bastante, leiam livros, etc. Por outro lado, devemos ficar atentos pois o excesso de atividades também pode ser prejudicial, fazendo com que a criança fique cansada e estressada. Por tanto, é importante que a criança tenha tempo para tudo: brincar e descansar adequadamente”.

E quando se fala em brincar,  ela defende que é brincar com interação e sem telas: “deixar criança assistindo televisão ou brincando com tablets não é algo que promove um estímulo relevante, por mais que seja um ‘programa educativo'”.

Devo estimular meu filho a andar? A engatinhar? A sentar sozinho? 

“Não há necessidade de fazer um estímulo específico para a aquisição de determinada habilidade. O que os pais devem fazer é promover as condições para que a criança possa desenvolvê-las”. Por exemplo, não há necessidade de colocar a criança na posição de engatinhar ou algo desse tipo. “Mas é fundamental que os pais permitam que a criança brinque no chão, com independência, para que ela possa perceber que pode se deslocar e descubra por conta própria como fazer isso”, finaliza Mariana.

*Este conteúdo foi produzido pelo extinto Catraquinha em setembro de 2017, em parceria com o Hospital Israelita Albert Einstein. Em maio de 2018, o Catraquinha migrou para o Lunetas.

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