“Para entender melhor a simbologia de lavagem da roupa, acesse: www.usereserva.com/cuidadoscomaroupa Ou dê para sua mãe lavar. Ela sabe fazer isso bem”

Estes são os dizeres da etiqueta de uma das camisetas da marca carioca Reserva. A coleção é antiga, de 2014, e inclusive rendeu grande repercussão negativa na época, clique aqui para relembrar.

Porém, o incômodo com a etiqueta voltou à tona esta semana, quando um consumidor da marca postou a imagem da etiqueta nas redes sociais, junto com uma reclamação: “A nova coleção de camisetas Reserva deveria se chamar Machismo Nosso de Cada Dia“. Não demorou para que o caso tomasse grandes proporções, revelando que a questão ainda é um tema latente.

Em seu post – que já ultrapassa os 10 mil compartilhamentos em pouco mais de 48 horas – imediatamente começaram a aparecer manifestações contrárias à sua problematização. Além disso, há também diversas manifestações homofóbicas, de machismo e de incitação ao ódio.

Comentários como “Vai dizer que sua mãe nunca lavou sua roupa?”, “Tudo agora é machismo, que gente chata” e outros posicionamentos tachando a denúncia de “mimimi” revelam o perigo da internalização de alguns padrões sociais, que levam algumas pessoas a considerarem normal a distinção de gênero na divisão de tarefas.

Enquanto algumas pessoas ressalvam que é “só uma brincadeira”, é preciso refletir sobre o que tem por trás de atribuir a uma mulher a responsabilidade por lavar roupa. Por isso, o Lunetas conversou com blogueiras ativistas para entender o que há por trás desses dizeres.

Luíza Diener, do Potencial Gestante, sugere a inversão de papeis para que o preconceito contido no texto fique mais claro. “Em pleno 2017, no auge da primavera das mulheres, soa um tanto quanto inadequado (para não dizer folgado) acreditar que esse tipo de conhecimento deva pertencer unicamente às mulheres. Por que não colocam ‘dê para o seu pai lavar’? Porque provavelmente não vai fazer muito sentido, certo? Essa pequena nota reforça o tal do ‘lugar da mulher’ (sic), o que inclui a sua mãe”, explica.

Ela ressalta também outra questão crucial a se considerar, a responsabilidade social de uma marca com alcance nacional, e defende que os criadores coleção poderiam ter se saído muito melhor se a intenção era fazer uma brincadeira. “Quer fazer gracinha na etiqueta? escreva “toma vergonha na cara, abestado! Cresça e vá aprender a lavar a própria roupa”, problematiza Luíza.

A professora Danyelle Santos, do blog Quartinho da Dany também traz sua visão sobre o significado implícito nesse posicionamento em relação às mulheres. ”

“É inadmissível que uma marca propague preconceitos e machismo de forma tão naturalizada como se fosse algo cômico”

“Machismo não é cômico, não é uma brincadeira e não deveria ser reforçado por grife nenhuma. O machismo explora mulheres, maltrata e mata. No mínimo, todos nós deveríamos boicotar uma marca que reproduz a violência contra as mulheres”, defende Santos.

Procurada pelo Lunetas, a assessoria de imprensa da marca Reserva não se posicionou em relação à sua visão sobre a maternidade. “A etiqueta destacada na imagem é de uma peça da coleção antiga da Reserva. Essa comunicação não está mais presente nos nossos produtos”, afirmaram em declaração enviada à redação.

Por isso, fique atento à forma como as marcas que você consome se posicionam diante dos assuntos vitais à manutenção de uma sociedade mais justa e igualitária.