Na história do filme chinês "Bao", uma mãe superprotetora idealiza sua relação com o filho, comprometendo a construção de sua identidade
Cheio das metáforas e alegorias comuns às produções da Pixar, o curta-metragem "Bao" faz o retrato de uma mãe superprotetora, e convida a refletir sobre os excessos de culpa e preocupação que acompanham a experiência da maternidade.
Cheio das metáforas e alegorias comuns às produções da Pixar, o curta-metragem “Bao”, ganhador do Oscar 2019 de melhor curta de animação, faz o retrato de uma mãe superprotetora. A partir disso, convida a refletir sobre os excessos de culpa e preocupação que costumam acompanhar a experiência da maternidade. Dirigido pela cineasta chinesa Domee Shi, o filme trabalha com elementos de fantasia e coloca ao expectador um estranhamento já nas cenas iniciais, quando o filho surge na história.
A protagonista é uma dona de casa que cozinha bolinhos para o marido com muita dedicação. Um dia, um dos bolinhos cria pernas, braços e rosto, e ganha feições de bebê. Depois de alguns segundos elaborando aquele novo e inusitado ser, a mulher se afeiçoa a ele e passa a criá-lo com cuidado extremo.
Então, a história se desenvolve a partir da relação entre eles. Um misto de amor incondicional e necessidade de proteção absoluta de tudo e de todos. O que passa a incomodar o filho, que se torna “um homem criado” com seus próprios desejos e aspirações. Uma pista disso é que a figura do pai desaparece da história, pois todo o afeto, a dedicação e a rotina da mãe passam a ser exclusividade do filho.
Um dia, quando o garoto aparece com uma namorada e dá sinais de que vai sair de casa, a mãe fica sem rumo. E, para impedi-lo de se mudar, ela engole o filho. Sem chão e esvaziada de seu papel materno, a mãe entra em uma tristeza profunda. Então, em uma cena que não vamos contar para evitar spoiler, algo acontece para alertar quem assiste sobre o poder nocivo das projeções dos pais sobre os filhos.
É nesse ponto que o filme problematiza a maternidade superprotetora. E chama atenção para a importância de não centralizar a vida emocional da mãe no filho ou na filha. O curta traz em metáfora a vontade inconsciente da progenitora de “engolir” as crias. O que muitas vezes acontece, sem que se perceba. Dessa forma, o filme instiga a pensar sobre a importância de criar os filhos para serem independentes e autônomos. Livres de qualquer projeção dos pais ou desejo de satisfazer suas próprias vontades. Não é à toa que o “Bao” escolhe a figura de um bolinho para concretizar essa relação, algo sem vida que de repente cria autonomia e existência própria.
“Bao” é ambientado na Ásia e, apesar de trazer na rotina da casa diferenças de hábitos, culinária e ritmo de vida, o filme mostra também que o vínculo materno-filial é uma linguagem universal. O curta-metragem de oito minutos está disponível na plataforma Disney+.
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