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Criar adolescentes requer respeito às novas personalidades

Imagem de capa para matérias sobre a personalidade do adolescentes mostra um grupo de adolescentes diversos, vestindo roupas coloridas e conversando.

A adolescência é uma fase repleta de mudanças em que meninos e meninas buscam mais autonomia e exploram suas identidades e procuram a própria personalidade. Ao mesmo tempo, é um desafio para os pais e as mães dentro desse universo, pois nem todas as famílias estão preparadas para aceitar mudanças, que podem ser desde a aparência, jeito de se vestir, novos interesses e até outras amizades.

Nesse movimento, como superar a frustração ou a surpresa de perceber que o filho ou filha está se tornando diferente do que foi projetado? Para a psicóloga clínica Lúcia Helena Lago, que atende pais e mães de adolescentes, este período precisa ser de muita paciência e diálogo. “A relação com os filhos, desde o início, é sempre marcada por um certo narcisismo porque há um espelhamento que fazemos no filho de nós mesmos e dos nossos ideais e aspirações”, afirma.

Ela explica que os planos e as projeções são, em um primeiro momento, importantes, “pois é como investimos totalmente nessa relação”. Porém, a psicóloga enfatiza que, ao longo do desenvolvimento das crianças, a família deve entender que cada filho vai constituir uma personalidade.

“É preciso que os pais e as mães olhem para esse filho como um sujeito singular, com os próprios desejos e com a própria falta. Só assim é possível estabelecer uma relação amorosa e respeitosa, mas isso não é simples.”

Mudanças podem assustar mas adolescentes precisam de espaço

De Belo Horizonte (MG), o arquiteto Leonardo Werneck, pai de Matias, 13 anos, conta que acompanhar os primeiros momentos da adolescência do filho ainda são desafiadores. Essa fase trouxe à tona emoções como insegurança, medo e apreensão em realizar a missão de pai corretamente e de maneira positiva.

“Ele [Matias] está mais calado e nossa relação está muito mais ‘difícil’ porque ele está buscando o espaço dele. Eu estou tentando entender qual é a minha função agora”, conta o pai.

Lucia Helena Lago afirma que é natural e esperado ver os pais “tomados por um susto e medo desse sujeito desconhecido”. Isso porque, segundo a psicóloga, o adolescente “passa a se apresentar de forma completamente diferente daquela criança que há pouco tempo era doce, cordata e mais fácil de controlar”. Além disso, ela lembra que é uma fase em que “o adolescente experimenta se separar dos pais e se diferenciar para achar seu lugar.”

Para Leonardo, o que facilita esse processo é a construção contínua da relação junto ao trabalho de base, feito ainda na infância do menino. “Daqueles desafios clássicos da adolescência, tenho muito pouco problema com ele hoje em dia, pois Matias não é um adolescente que bate porta, que grita ou questiona com agressividade”, diz.

O pai acredita que esse reflexo é fruto de uma criação compartilhada com a mãe de Matias ao longo da infância. “Sinto que eu fui um pai muito presente, de brincar e participar do dia a dia, mesmo sendo separado da mãe”, diz. “Criamos essa relação de qualidade, de presença real, atentos aos sentimentos dele e tentando dar espaço para que se expresse.”

Nesse sentido, a psicóloga confirma a importância de compreender que a criança precisa de momentos para desenvolver sua individualidade. “Pais mais controladores tendem a ter mais dificuldades com essa fase, pois a adolescência pede espaço, privacidade e, acima de tudo, confiança – que deve ser construída desde a infância.”

O arquiteto Leonardo Werneck enfrenta o desafio diário de aceitar a mudança de comportamento do filho Matias, 13 anos, que ficou mais tímido e calado. “Estou reaprendendo a ser pai, inclusive com novas questões”, diz.

Comunicação direta e amigável pode ser um caminho

Lidar com um “mau humor” e “cara fechada” também foi difícil para a artesã Thaís Pereira, do Rio de Janeiro (RJ). Mãe de Daniel, 14 anos, e de João Vitor, 18, ela viu o comportamento de ambos mudar. Por isso, atravessar essas águas turbulentas, tanto do começo quanto do final da adolescência, misturou momentos de angústia e de euforia.

“Para eles, nós, pais, já não somos mais os heróis ou heroínas de antes”, observa. “Tudo o que falamos parece estar errado, enquanto os amigos se tornam as pessoas mais importantes na vida deles”. Thaís aponta que, ao mesmo tempo, ainda existe uma necessidade de acolhimento e apoio, “mesmo que não admitam”.

“É um equilíbrio delicado entre respeitar o espaço deles e estar presente para orientar e ajudar, pois os adolescentes estão em busca de se encontrar no mundo, e não é uma fase fácil.”

Para lidar com isso, a estratégia é conversar bastante. Embora não tenha sucesso em todas as trocas, o importante, para ela, é manter a comunicação aberta e mostrar disponibilidade para ouvir. “Estar disponível emocionalmente é essencial para abrir portas e manter o vínculo.”

A psicóloga reforça que a escuta ativa e sensível faz a diferença nessa relação. “É abrir mão da ideia de que só o adulto sabe, e se dispor a escutar esse adolescente, querer saber dele, das angústias e questões”, diz. “Mas sem abrir mão da autoridade e da responsabilidade, sem anular o desejo do outro.”

Outra queixa que Lúcia Helena Lago escuta muito dos pais é achar que a mudança de comportamento dos filhos na adolescência é uma afronta ou negação à autoridade. Diante disso, Thaís tenta equilibrar a criação dos filhos com o costume do diálogo mantido desde de que eram crianças. Além disso, ela afirma que conhecer e se aproximar dos amigos deles ajuda muito.

Adolescência é uma verdadeira escola para pais e filhos

“É fácil demais encontrar motivos para reclamar da adolescência. Difícil é encontrar equilíbrio para ajudá-los”, diz o escritor e influenciador digital Geninho Goés, pai da Maria Helena, de 15 anos. Para ele, esse período traz um aprendizado diário. Por isso, ele e o marido, Duda, compartilham conteúdos sobre os desafios da parentalidade de criar cinco filhos, sendo Maria Helena, a mais velha.

“Nossa adolescente em casa nos desafia, pede limites, testa nossa paciência diariamente e faz a gente refletir”, conta. “Ela nos estimula a cuidar da nossa saúde emocional. Então, resolvemos caminhar com ela por essa fase turbulenta, repleta de mudanças físicas e emocionais.”

Os dois pais revelam que as conversas são sempre sinceras e afetivas, para que Maria Helena se sinta acolhida. Eles dizem que aprendem com a menina e que esse período os ajuda a se prepararem para viver mais quatro adolescências pela frente. “Não é fácil, mas não é impossível. A adolescência é uma verdadeira escola para nós”, diz Geninho.

Lúcia Helena Lago explica a adolescência como uma travessia de um túnel bem comprido, “onde pais e mães enxergam a entrada, mas não conseguem ver a saída ou o que sairá do outro lado”. Nessa jornada, nem o adolescente sabe o que o espera porque “é uma travessia em que vai lidar com novas emoções, intensas e inaugurais, que não avisam quando irão chegar e nem porquê”, diz a psicóloga.

Aos pais, Maria Helena dá a dica: que tal se colocar no lugar dos filhos adolescentes? “É uma ótima maneira para os pais desenvolverem uma relação saudável”, diz a menina. Ela reforça a importância da conversa dentro de casa. “Tentem entender o lado deles, pois ser adolescente não é fácil e os filhos precisarão bastante da sua ajuda.”

Para Geninho e Duda, a experiência de criar Maria Helena é mesmo um caldeirão de emoções. Porém, quando os acordos são feitos com uma comunicação sem violência, os atritos são menores. “A adolescência é um mundo em que as pessoas se compararam o tempo todo e isso gera uma insatisfação e insegurança, por isso é importante mostrar valores fundamentais.”

“O desafio é mostrar para o adolescente que o melhor é descobrir quem ele é.”

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