A iniciativa Baleia Rosa, criada por uma dupla de publicitários, propõe ideias para espalhar o bem e combater a violência propagada pelo desafio suicida Baleia
A iniciativa Baleia Rosa, criada por uma dupla de publicitários, propõe ideias para espalhar o bem e combater a violência propagada pelo desafio suicida Baleia Azul.
Nos últimos dias, a imprensa brasileira publicou uma série de notícias envolvendo o “Blue Whale”, ou “Desafio da Baleia Azul”. Trata-se de um jogo de violência e incitação ao suicídio voltado para jovens adolescentes, que começou nas redes sociais da Rússia e logo tomou proporção global.
No Brasil, até o momento, três Estados investigam casos de suicídio relacionados diretamente ao jogo – Mato Grosso, Minas Gerais e Paraíba. A Polícia Civil desses locais começou esta semana a ouvir o depoimento de jovens que participaram da prática.
Firmando-se como uma febre crescente desde o seu surgimento, o jogo guia os usuários por 50 tarefas de automutilação e atitudes autodepreciativas; são “desafios” que vão desde ouvir uma música depressiva até cortar partes do corpo. O objetivo final é tirar a própria vida.
Em entrevista ao G1, o presidente da Safernet, Thiago Tavares, diz que o jogo, inicialmente, foi um “fake news” divulgado em 2015 por um veículo de comunicação russa. “Sendo verdadeira ou não, a notícia gera um contágio, principalmente entre os jovens. Se o jogo não existia, mas com a grande repercussão da notícia, pode ter passado a existir”, diz.
No Brasil, a iniciativa culminou na criação de um projeto que seria o “antídoto” do “Blue Whale”, o Baleia Rosa. Criado por uma dupla de amigos publicitários – em entrevista ao Lunetas, eles preferiram manter sua identidade em segredo para resguardar a segurança dos usuários da página, a proposta é combater a cultura de violência que motiva as práticas por trás dos jogos suicidas.
“Estamos vivendo uma época de muita descrença, ódio, negatividade, impaciência, indiferença, incertezas. Parece que falta esperança nas pessoas! 🙁
Nadando contra esta maré, sabemos que a internet pode ser uma poderosa ferramenta para reverter este quadro. Acreditamos que todos têm a capacidade de ajudar outras pessoas e construir o bem. Espalhe a baleia rosa por onde você for! #baleiarosa”, diz a descrição do projeto
Criado no dia 12 de abril deste mês, a iniciativa já conta com site, fanpage no Facebook, Instagram, Twitter e Spotify – onde compartilham playlists para incentivar a autoestima e confiança.
Funciona da seguinte forma: nos moldes do jogo original, os participantes devem colocar em prática algumas ações – desta vez, positivas – , que podem ser de autoempoderamento, de respeito ao outro ou mesmo de valorização da vida. “Faça um novo amigo”, “Diga inesperadamente que ama seus pais” ou “Passe um dia sem usar palavras negativas” são alguns dos desafios propostos. A regra geral é que todas as ações devem ser registradas nas redes sociais, usando a hashtag #baleiarosa, e marcando @eusoubaleiarosa.
A iniciativa já ganhou projetos irmãos pelas redes sociais afora, com adaptações da ideia para novas tarefas e desafios, que vão desde pular em cima da cama até a acordar alguém no meio da noite para dizer que o ama. “Vimos que surgiram vários grupos e ficamos preocupados com a intenção deles, mas por outro lado, felizes ao mesmo tempo, por ver a ação se espalhando”, explicam A. e R., que pediram para não ser identificados.
Para a surpresa dos idealizadores da iniciativa, que a princípio só queriam propor ações na contramão da negatividade, a página se tornou ponto de acolhida de muitas crianças que se sentem confusas com as notícias de mortes supostamente relacionadas ao “Blue Whale”. Em geral, são crianças que procuram a página para pedir ajuda.
“As crianças geralmente mandam mensagens falando que estão tristes, ou que se cortam, ou que têm algum amigo que se corta. Algumas também dizem que têm problemas de auto-estima, e que acreditam que o jogo [Baleia Rosa] pode ajudá-las a se sentirem melhor”, explicam os idealizadores.
Por conta disso, o Baleia Rosa conta com uma psicóloga especializada para acolher e responder os pedidos de ajuda que chegam por meio da página. “O Instituto Vita Alere, que trabalha com a prevenção e posvenção do suicídio, também já entrou em contato conosco para dar um suporte quando necessário”, contam.
A proporção que o caso tomou chama a atenção para o valor de referência das redes sociais e como o comportamento é socialmente construído, podendo servir de vitrine para as crianças espelharem suas atitudes e valores. Mais do que isso, a história dispara um alerta para a importância de os pais, professores, educadores e cuidadores estarem sempre atentos aos conteúdos que as crianças acessam na internet, mantendo sempre abertos os canais de discussão e diálogo sobre temas considerados tabus, como depressão na infância e outros transtornos mentais.
Enquanto isso, o projeto trabalha para incrementar suas ferramentas de apoio e de monitoramento das mensagens que recebem, para que a página seja cada vez mais um ponto de acolhida de pessoas que não sabem quem procurar. “Elas mandam inbox justamente porque acredito que não se sintam confortáveis para compartilhar publicamente”, diz um criadores.
Comunicar erro
Atenção – Se estiver precisando de ajuda ou souber de alguém que esteja, o Centro de Valorização da Vida presta atendimento por meio do telefone 141. Também é possível entrar em contato via internet, e-mail, chat e Skype 24 horas.