Buscador do Google sugere pornografia infantil na aba anônima

Comportamento do buscador foi descoberto pelo The Intercept; após contato com o Google, resultados não sugerem mais exploração sexual infantil

Eduarda Ramos Publicado em 10.04.2023
Imagem mostra o buscador do Google destacado em rosa, com intervenções de interrogações.
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Resumo

Ao pesquisar por “xvideos”, site de conteúdo pornográfico, em uma aba anônima, o buscador do Google sugeriu resultados de pornografia infantil. Especialistas lembram que as recomendações do algoritmo refletem o comportamento de pesquisas anteriores dos usuários.

As palavras “crianças” e “infantis” foram recomendadas para completar a pesquisa  no buscador do Google quando alguém procurava pelo termo “xvideos”, plataforma de conteúdo audiovisual pornográfico. Depois de um usuário ter relatado a alusão à exploração sexual infantil, em março, o jornal The Intercept fez o teste em aba anônima do navegador Google Chrome chegando ao mesmo resultado.

Embora os mecanismos do buscador do Google tentem adivinhar as buscas dos usuários com base em algoritmos, os resultados recomendados são determinados pelo o que pessoas reais pesquisam. “Bastam algumas (não sabemos quantas) pesquisas idênticas feitas por usuários (pessoas de verdade), tendo como base o mesmo radical de letras iniciais, para o algoritmo aprender que aquelas são sugestões que devem ser exibidas a novos usuários que digitarem no campo de busca o mesmo radical de letras”, diz Kelli Angelini, advogada especializada em direito digital e educação digital.

“Sugestões imorais, perigosas, ilegais, antiéticas, dentre outras, baseadas em pesquisas de usuários reais, ensinam o algoritmo a apresentar tais sugestões”

“Se por um lado as sugestões automáticas do Google podem ajudar usuários a se concentrarem em buscas mais precisas e ter uma singela economia de tempo, também podem indicar palavras inapropriadas, inclusive danosas a crianças e adolescentes, demonstrando a temeridade do que podem estar expostos no ambiente virtual”, finaliza a especialista.

O que o Google fez?

Em nota ao The Intercept, a plataforma disse que o exemplo enviado pela reportagem “viola nossas políticas e já foi bloqueado”, além de ter informado que trabalha para “evitar previsões irrelevantes ou que violem” suas políticas.

“[Isso] inclui previsões violentas, sexualmente explícitas, de incitação ao ódio, depreciativas, perigosas ou que levem a materiais de exploração ou imagens de abuso sexual infantil”. 

Ao repetir a busca após o contato com o Google, as respostas variaram. Em alguns casos, mais uma vez, a procura por “xvideos” teve recomendações de conteúdo ligados à pornografia infantil, afirma o jornal. Em outros, foram sugeridas as seguintes opções: vídeos, vídeos grátis, vídeos engraçados, vídeo motivacional, vídeos infantis (Mundo Bita). As buscas foram repetidas pela SaferNet, organização sem fins lucrativos em defesa dos direitos humanos na internet, e os resultados anteriores não voltaram a aparecer.

Essa não é a primeira vez que o Google sugere e/ou indexa resultados preconceituosos, violentos e/ou criminosos: em 2019, ao procurar “tranças feias” e “tranças bonitas”, mulheres negras e mulheres brancas apareciam nos resultados, respectivamente. 

A redação do Lunetas também fez o teste: no celular, foram feitas buscas em abas anônimas nos navegadores Google Chrome e Safari. Ao escrever “xvideos”, o buscador recomenda os resultados “videos videos” e “videos telugu”.

* Com informações de The Intercept

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