Já viu ‘Atypical’ hoje? 7 motivos para assistir à 2ª temporada

Engraçada e emocionante sem ser piegas, "Atypical" é uma série necessária e urgente. Vamos todos aprender com Zahid a ser um amigo incrível para alguém

Da redação Publicado em 27.09.2018

Resumo

Longe de querer representar com perfeição o que é ser autista, "Atypical" retrata um dos muitos autismos possíveis, expõe as fragilidades dos personagens, e valoriza os erros como aprendizados.

Uma das queridinhas do catálogo recente de produções autorais da Netflix, a série “Atypical” teve sua segunda temporada recém-chegada na plataforma. O Lunetas assistiu, e te conta (quem avisa amigo é: cuidado com os spoilers!) que está ainda melhor que a primeira.

Longe de querer representar com perfeição o que é ser autista – afinal, não se trata disso – a série expõe as fragilidades e os defeitos dos personagens, se aproximando e muito da vida real como todos nós conhecemos. O autismo retratado em sua multiplicidade e complexidade, como deve ser.

Neste ponto, vale reforçar que não é possível fazer um retrato fechado do autismo, considerando a variedade dentro do espectro – leia a reportagem completa que publicamos sobre o assunto. O que a série faz, então, é quebrar estigmas e tirar o autismo do anonimato social, o que pode contribuir para diminuir o preconceito.

O autismo exibido na série é apenas um dos muitos autismos possíveis.

Para quem não conhece, “Atypical” conta a história de Sam Gardner (Kier Gilchrist), o protagonista da série que foi diagnosticado na infância com Síndrome de Asperger – também chamado de autismo funcional ou autismo inteligente. Sam é um adolescente de 17 anos, inteligente, curioso e apaixonado por pinguins. O enredo gira em torno de suas relações com a família, na escola, na terapia, e também de suas descobertas amorosas e sexuais.

“É um programa sobre família, mas também é sobre a comunidade autística, por isso quisemos trazer o máximo de envolvimento possível”, explica Robia Rashid, uma das criadoras da série, em vídeo de bastidores divulgados pela Netflix, que mostra como foi feita a contratação dos atores com autismo que, na trama, fazem parte do grupo de apoio a jovens do espectro que Sam passa a frequentar. Assista abaixo:

Assista ao trailer da segunda temporada:

Aqui, listamos cinco motivos pelos quais vale a a pena assistir a série, e como ela pode ajudar a combater o preconceito.

Atenção: *alerta de spoiler* (mas não muito)

  • 1- A infância de Sam

Se a primeira temporada foca somente na adolescência do protagonista, a segunda parte já mostra bem mais a infância do menino. Relembrando o momento do diagnóstico, aos três anos, a série narra com toques de realismo os impactos que a notícia teve na família.

Ao acompanhar como a mãe e o pai lidaram com o fato de o filho não ser como socialmente se espera que uma criança seja, a série toca em questões sensíveis como o chamado luto do filho idealizado.

Neste ponto, a história também conta como foi a reação de algumas pessoas próximas da família, como um casal de amigos que se afasta deles com medo de Sam machucar seu filho, retratando com crueza a realidade de muitas famílias que vivenciam a dor da discriminação e do isolamento social.

  • 2- Pais imperfeitos

Desde a começo da série, a mãe de Sam é retrata como uma mulher excessivamente preocupada e em muitos momentos obcecada com a segurança de Sam. Com o desdobramento dos acontecimentos, a história vai acompanhando a evolução da personagem, que passa a aprender a delegar funções, pedir ajuda, e enxergar a si mesma como alguém que pode sim errar.

Na segunda temporada, a série mostra mais de perto o perfil emocional do pai, e tira um pouco o foco e a carga mental da mãe. Agora, é ele quem precisa aprender a lidar com os próprios fantasmas, inclusive os do passado. Na história, o pai abandona a família quando descobre que o filho é autista, por medo de lidar com a questão e tudo o que ela envolve.

Considerando que a família tem um papel fundamental para que uma pessoa com autismo consiga ter uma vida plena e ativa, a série ganha muitos pontos nesse quesito. Aqui, os pais vivem errando, se desculpando pelos erros e revendo suas escolhas. O diálogo é valorizado no enredo como outro ponto central de uma vida familiar saudável.

  • 3- Rede de apoio é fundamental

Na primeira temporada, isso já fica evidente, mas é na segunda que a importância crucial da rede de um apoio de um autista ganha foco total. Na série, apesar de vivenciar o bullying e a discriminação na escola, Sam está rodeado de pessoas dispostas a escutá-lo, compreendê-lo e lutar pelo seu acolhimento nos espaços por onde circula.

Paige, a amiga confidente e namorada ocasional, e Zahid, o colega de trabalho e companheiro inseparável, ganham mais cenas, mais importância e protagonizam diálogos memoráveis. São eles que simbolizam como detalhes sutis podem representar muito para alguém do espectro. Se, na primeira temporada, Paige convence a escola a fazer um baile de formatura silencioso para incluir Sam, agora ela luta de frente contra o preconceito dos outros estudantes. O resultado dessa relação é um desfecho surpreendente na história de Sam – que não vamos contar para não estragar a surpresa.

Outra personagem que ganha força é Casey (Brigette Lundy-Paine), a irmã caçula de Sam. Na história, Casey é uma das personagens que mais simboliza a necessidade de não cobrir a pessoa autista de privilégios nem de cuidados excessivos. Ao se mudar de escola, a menina fica insegura de deixar o irmão “sozinho” na rotina escolar, sem sua escolta por perto.

Ao perceber que Sam não só contorna o desconforto da novidade, mas tira de letra a autonomia que ganha e passa a conquistar ainda mais espaço e autoconhecimento, ela revê seus próprios medos e aprende a lidar com eles. Com isso, a relação dos dois se solidifica em um outro lugar, não mais da proteção ininterrupta, mas da confiança e do afeto que independem da distância.

Todas essas relações juntas formam uma teia de afeto e um refúgio de carinho em um mundo tantas vezes cruel. Por mais clichê que possa parecer, elas são uma prova de amor incondicional.

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Divulgação/Netflix

Sam e Paige: rede de apoio é fundamental para o acolhimento social da pessoa com autismo.

  • 4- Lidando com expectativas

Algumas das cenas mais marcantes da segunda temporada talvez sejam as interações entre Sam e sua mãe, que agora está muito mais segura de seu desenvolvimento, e confiando em suas conquistas. A história retrata com delicadeza a dificuldade de uma mãe e um pai ajustarem as expectativas quando se trata de ter um filho com autismo.

O que será que ele vai poder realizar? Ele vai ter amigos? Vai sair de casa sozinho? Vai poder cursar uma universidade? Com um olhar empático ao contexto de cada indivíduo do espectro, “Atypical” estimula a pensar sobre a necessidade de valorizar cada conquista, sem depositar expectativas, e com disposição para acolher as frustrações.

Na segunda temporada, Sam está terminando o Ensino Médio, e tem que escolher qual universidade vai fazer. Uma sucessão de acontecimentos faz ele próprio rever suas escolhas, equilibrando suas próprias expectativas, para além da de seus pais.

  • 5. O impacto das terapias 

Na primeira fase da série, o expectador entende que ele tem uma relação já solidificada com sua terapeuta, Julia (Amy Okuda), que o acompanha há anos. Agora, a relação dos dois se aprofunda e ganha novos contornos, quando a terapeuta decide não atendê-lo mais (sem spoilers sobre o porquê).

Depois de passar por uma fase dolorosa de adaptação à falta de Julia, e diversas tentativas de outros profissionais, Sam cria novas e efetivas estratégias para viver bem e entender seus sentimentos. O caderno de anotações sobre expressões e leitura facial que ele leva para todo canto na primeira temporada ganha novos e muitos aprendizados.

Ao encontrar um novo caminho terapêutico, dessa vez um grupo com outros jovens também autistas, Sam passa a relacionar de perto com aqueles que vivem as mesmas dificuldades que ele. Assim, a série dá a importância devida ao acompanhamento profissional e multidisciplinar para o sucesso de um indivíduo com transtornos sensoriais, principalmente nesta fase da vida.

  • 6. Escola regular

Sam frequenta uma escola regular e pública. Existem problemas, sim, mas todos eles são resolvidos com diálogo e empatia por parte da gestão escolar. A instituição oferece aconselhamento para os estudantes, e no caso de Sam o processo é conduzido de forma sensível e cuidadosa, sem recair na facilitação incapacitante, ao contrário.

O garoto é acolhido em suas dúvidas sobre qual curso escolher, e é orientado a seguir suas aptidões – na série, o personagem adora desenhar e se interessa especialmente por retratar os animais marinhos, o que não só é percebido como valorizado como um diferencial de sua singularidade.

Apesar de não refletir a realidade de todas as escolas, considerando que muitas instituições públicas de ensino não têm o básico, vale a pena notar como a série representa com algum grau de realismo a jornada de inserção de Sam na comunidade escolar.

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Divulgação/Netflix

Os irmãos Sam e Casey desenvolvem uma relação de cumplicidade e apoio mútuo.

  • 7-  Atípico, sim, mas com uma vida normal

A vida de alguém do espectro autista não é perfeita. Assim como nenhuma vida pode ser. É isso que “Atypical” busca retratar, sempre com o cuidado de equilibrar situações desafiadoras com as conquistas do personagem, a fim de não recair nem no extremo positivo e nem no negativo em excesso.

Na segunda temporada, fica mais evidente a preocupação dos roteiristas de retratar as interações entre neurotípicos e neuroatípicos com realismo, e sem romantismo. Assim como inevitavelmente acontece na vida real, algumas pessoas simplesmente não vão entender nem acolher os autistas, mas para cada uma dessas vai existir outra que está disposta a estender um ombro amigo.

Com isso, a série consegue atrair o olhar daqueles que não convivem com o autismo de perto. Afinal, não é preciso ter um autista na família para se interessar em contribuir para uma sociedade mais acolhedora e humana. Vamos todos aprender com Zahid a como ser um amigo incrível para alguém perto de nós.

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