‘Uma coisa é uma coisa’: oficina gratuita de poesia para crianças

As crianças poderão criar seus próprios poemas a partir da observação de objetos cotidianos, como uma colher, uma pedra, um par de óculos ou um vaso

Da redação Publicado em 16.07.2018
Criança com roupa cor-de-rosa escrevendo com caneta azul e branca. Foto tirada em close.

“Só as crianças e os poetas têm os olhos atentos para o espetáculo do mundo”. A frase acima é do escritor Otto Lara Resende. Para estreitar ainda mais essa relação que parece inata, a Biblioteca Mário de Andrade, no centro de São Paulo, vai realizar, neste sábado, 21 de julho, às 15h, uma oficina de poesia para crianças. “Uma coisa é uma coisa” será ministrada pela poeta Ana Estaregui, autora dos livros “Chá de Jasmim” (Editora Patuá) e “Coração de Boi” (7Letras) – Ambos contemplados pelo edital de poesia do ProaC, sendo o último finalista do Prêmio Alphonsus de Guimaraens, da Biblioteca Nacional, em 2017.

Pode um sapato ser a cama de um camundongo? Uma maçã tem o formato de um coração ou de uma borboleta? Quantas cores enxergamos na casca de um ovo branco?

Uma coisa é uma coisa – Oficina de poesia para crianças

“A partir de um exercício de observação e do contato com objetos cotidianos domésticos (uma xícara, um punhado de fósforos, um par de óculos, um garfo, um gengibre, um sapinho de madeira, uma planta, um caderno em branco, uma escumadeira, uma concha, um relógio antigo, uma tesoura, uma pedra cinza, uma vela, etc…) a oficina propõe que crianças escrevam seus primeiros poemas a partir de um olhar desabituado sobre as coisas do cotidiano”, diz a descrição oficial do encontro.

A participação é gratuita e não é necessário fazer inscrição prévia. Serão distribuídos ingressos com uma hora de antecedência. A oficina é recomendada para crianças a partir dos 10 anos. Porém, qualquer pessoa participar, incluindo crianças em fase de alfabetização.

Para se inspirar, leia alguns poemas de Ana Estaregui

geologia

“essas minhas linhas
da mão
me dizem que nasci
sem sorte
pro amor
a linha do coração: uma trilha
entrecortada descontínua atravessada
andarilha
seguem até o meio da palma, aos buracos
aos tropeços, ainda que sem pedra
no caminho
do médio
ao indicador
como se o abismo
fosse apenas
um vão entre os dedos”

 

***

 

fóssil

“uma flor em
100 milhões de anos
criou garras
e rebentou
no tempo

é hoje
nossa maior
representante
do que poderia ser
um dinossauro
puro.”

 

***

 

chá de jasmim

“o suicídio
da flor de jasmim
é a menina
olhando a rua
e a estranha
possibilidade
de pular

o gosto da folha
morta
o chá de flores
o seu cadáver vegetal
dá início
a uma primavera
cujas pétalas
são
pura ignorância.

 

***

 

queda livre

“a lógica de um poema
às vezes não é clara
mas ele
segurando um chumaço
de papoula
em uma das mãos,
me estende a outra
e diz
pula comigo?”

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