Reunimos três mães para deixar mensagens de coragem e afeto às suas filhas – e a todas as meninas
Mulheres que fazem parte de importantes causas sociais dizem às suas filhas como gostariam de vê-las em um futuro em que todas as mulheres tenham respeito e direitos garantidos.
Que toda menina seja desbravadora, respeitada e que nunca limitem seu potencial. Talvez esse seja o desejo na relação entre mães e filhas. Mas, como incentivar as meninas a lutar por direitos e equidade em um país onde mulheres ocupam poucos espaços de poder e, ainda, são vítimas de violência (são 8 casos a cada 24 horas, segundo o relatório “Elas Vivem: liberdade de ser e viver”, da Rede de Observatórios da Segurança).
Tudo pode começar com o afeto dentro de casa e com a inspiração vinda da própria ancestralidade. Assim, a partir das reflexões do Dia Internacional da Mulher, o Lunetas perguntou para três mães, que também representam importantes movimentos sociais, que mensagem gostariam de deixar para suas filhas. Dilemas da maternidade negra, desafios de ser uma menina atípica e a jornada de pertencer a uma comunidade originária são algumas histórias que fazem parte das relações entre elas. Confira, então, as mensagens de cada uma.
“Que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância, já que viver é ser livre” – Simone de Beauvoir
Como mãe, quero dizer à Iana que, na condição de uma menina negra, possa sempre se humanizar porque a sociedade vai demandar uma força gigantesca. Então, em muitos momentos da vida, ela vai precisar ser forte. Mas, que ela tenha sempre a consciência de que não precisa ser forte o tempo todo.
Que ela se olhe no espelho e veja uma pessoa humana, que vai ter fraquezas, vai sentir medos e, portanto, pode chorar. E quando quiser colo, pode procurar sua rede de apoio. Ela não precisa ser uma super mulher.
Na condição de uma menina negra, sei que vai enfrentar muitos desafios. Então, que ela tenha coragem mas que, sobretudo, ela respeite os seus próprios limites e os seus próprios quereres. Que ela nunca faça pelo outro ou pela outra, aquilo que ela não gostaria que fosse feito por ela.
Espero que ela se priorize e se coloque no lugar de escuta, perguntando “Isso aqui é confortável para mim? Por que estou fazendo isso se eu não quero?”. Sei, porém, que tudo isso é uma construção. Eu levei muitos anos da vida para entender sobre a minha prioridade em relação ao mundo. Espero, então, que ela conquiste essa consciência antes do que eu alcancei.
Menina Alice, desejo que sua presença no mundo seja compreendida, respeitada e valorizada justamente por você ser quem é. Que você possa desbravar seus interesses por dinossauros, pela matemática, pela Amazônia e pelos livros, sem precisar reivindicar acessibilidade ou provar capacidade. Mas também que saiba enfrentar e que tenha muitas outras meninas ao seu lado. E que sua cadeira de rodas e a comunicação alternativa sejam companheiras leais para expandir o mundo.
Desejo que você sinta orgulho do seu corpo e de sua biografia. Assim como sua experiência de pertencimento seja um ato contínuo da própria vida. Que sua presença se imponha e convoque a reconciliação com a humanidade toda vez que anteciparem um diagnóstico ou qualquer descrição limitante.
Quero que saiba que você tem direito a relações de cuidado para uma vida digna e boa. Além disso, saiba que esse cuidado deve ser um compromisso coletivo, porque assim garante não só a sua emancipação, mas a de todas as mulheres. E porque liberdade e justiça são palavras que só pronunciamos no coletivo.
Desejo que você cultive essa capacidade de imaginar outras realidades possíveis, mas sempre amparada no meu amor – e nos tantos outros afetos que você já conquistou e irá conquistar.
Venho aqui falar um pouco como mãe indígena, mulher e porta-voz. Quando a gente tem uma filha, é como um pedaço do corpo da gente. Porque é você se vendo naquela criança, como um espelho e, no olho a olho, ver que tem um pedaço seu. Então, tudo que fazemos vira reflexão porque somos um espelho para as nossas filhas. Por isso é importante repassar o conhecimento e a espiritualidade.
Como mãe da Thaylla, uma menina indígena, posso dizer que estou do lado dela, encorajando e preparando para o mundo cheio de aventuras. Mas essas aventuras são, na verdade, os modos de ser. Que ela seja bem resolvida e livre para enfrentar a vida. Ser mãe de menina é superar desafios.
Tento ser inspiração para minha filha quando saio de casa e ela questiona para onde vou. Vejo um pouquinho de mim nela e digo sempre que estou saindo com um sonho de dar um futuro à ela. Somos fortes, então, vamos à luta, não vamos desistir.