Acidentes domésticos matam mais de 8 mil crianças por ano

Acidentes em geral também responderam por mais de 100 mil internações infantis em 2022; especialistas indicam medidas simples para evitar novos casos

Eduarda Ramos Publicado em 19.05.2023
Imagem em preto e branco de uma criança descendo uma escada. A foto ilustra uma matéria sobre acidentes domésticos.
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Resumo

Medidas simples podem prevenir que crianças sofram acidentes domésticos - responsáveis por mais de 8 mil mortes por ano. Em 2022, quase 110 mil crianças foram internadas por acidentes em geral.

Acidentes domésticos causaram a morte de 8.629 crianças e adolescentes brasileiros de zero a 14 anos em 2022. Foram 162 ocorrências a mais do que em 2021, conforme indicam dados preliminares do Ministério da Saúde. Esse é o segundo maior número em cinco anos, ficando atrás apenas de 2020, quando foram registrados 8.673 óbitos. Nesta mesma faixa etária, foram 109.988 internações por acidentes em geral, como acidentes de trânsito (10%); mas, entre eles, alguns acontecem dentro de casa: quedas respondem por 43% das ocorrências e queimaduras por 20%, segundo levantamento da organização Aldeias Infantis SOS a partir da última pesquisa DataSUS.

Apesar da alta taxa de mortes por acidentes domésticos em 2022, os números de internações por acidentes em geral são menores se comparados com o ano anterior, exceto em ocorrências com armas de fogo, que aumentaram 19,4%; afogamentos, com aumento de 7,61%; e queimaduras, com aumento de 5,5%.

As crianças entre 10 a 14 anos foram as mais internadas por acidentes (37%), com destaque para o crescimento de ocorrências com armas de fogo (27,9%), queimaduras (14,3%) e quedas (6,5%). Em seguida, os casos mais comuns entre crianças entre 5 e 9 anos, são de afogamento (75%), armas de fogo (22%) e sufocação (10%). Já bebês de 0 a 4 anos foram os que mais se afogaram.

Como prevenir acidentes domésticos?

Os primeiros acidentes domésticos, geralmente, acontecem a partir dos quatro meses de vida, quando o bebê começa a rolar e pode cair da cama dos pais ou do trocador, explica Daniel Becker, pediatra e mestre em saúde pública. Ele recomenda que toda criança com capacidade de movimento precisa ser supervisionada permanentemente, por elas não possuírem discernimento para julgar o perigo.

“A criança é uma exploradora, cientista do mundo, ela vai partir pro mundo sem qualquer capacidade de avaliação dos riscos que ele oferece”

Já Erika Tonelli, especialista em Entornos Seguros e Protetores, comenta, em nota, que 90% dos acidentes poderiam ser evitados com ações que tornam o ambiente doméstico e comunitário mais seguro, a partir da promoção de uma “cultura do bem cuidar e do cuidado de qualidade”. Em contrapartida, ela aponta que fatores como a precarização das condições de trabalho somada à exaustão dos cuidadores podem resultar em menos atenção.

Lidar com a segurança de crianças pequenas e grandes em casa começa com medidas simples, como colocar obstáculos na porta da cozinha e manter fechada a porta do banheiro; não deixar à vista e ao alcance delas objetos pontiagudos, cortantes ou que possam ser engolidos; e sempre supervisioná-las quando sair para supermercados, parques e lojas, por exemplo. Segundo Tonelli, consumo de álcool, condições econômicas e sociais desfavoráveis e maior utilização de produtos de limpeza também podem ter gerado um aumento nos casos de queimadura e intoxicação entre crianças de até 1 ano e crianças de 10 a 14 anos.

Em nota, o MS informa que atua na prevenção de acidentes domésticos com crianças por meio de orientações e ações educativas para pais, responsáveis e profissionais da saúde. Além de listar direitos, a Caderneta da Criança indica medidas importantes para evitar acidentes domésticos e outras violências do nascimento do bebê aos 10 anos de idade.

Confira dicas para prevenir acidentes domésticos desde o nascimento da criança!

Quedas

  • Proteger o berço e o cercado com grades altas, com, no máximo, 6 cm entre elas;
  • Não deixar a criança sob os cuidados de outra criança;
  • Colocar redes de proteção ou grades nas janelas que possam ser abertas e barreiras de proteção em escadas e lajes;
  • Ao andar de bicicleta, a criança deve usar capacete de proteção e não circular nas ruas que transitam veículos.

Queimaduras

  • No banho, verificar a temperatura da água (ideal 37ºC);
  • Não tomar líquidos quentes nem fumar enquanto estiver com a criança no colo;
  • Cercar o fogão com uma grade, usar as bocas de trás e deixar os cabos das panelas voltadas para o centro do fogão;
  • Manter a criança longe do fogo, do aquecedor e do ferro elétrico e não permitir que elas brinquem com fogo.

Sufocação

  • Cuidar para que o rosto do bebê não seja encoberto por lençóis, cobertores, almofadas e travesseiros;
  • Oferecer brinquedos grandes e inquebráveis;
  • Afastar sacos plásticos, cordões e fios da criança;
  • Nunca usar talco.

Afogamento 

  • Nunca deixar a criança sozinha na banheira ou perto de baldes, tanques, poços e piscinas;
  • Não é seguro deixar crianças sozinhas em piscinas, lagos, rios ou mar, mesmo que elas saibam nadar.

Choque elétrico

  • Colocar protetores nas tomadas, evitar fios elétricos soltos e ao alcance da criança;
  • Não deixar a criança soltar pipa em locais onde há fios elétricos, devido ao risco de choque de alta tensão.

Intoxicação e medicamentos

  • Manter produtos de limpeza e/ou medicamentos fora do alcance da criança, colocando-os em locais altos e trancados;
  • Não dar remédios que não tenham sido receitados por médicos.

Acidentes no trânsito 

  • O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) determina que a criança de zero a um ano deve ser transportada no bebê-conforto ou conversível, levemente inclinada, colocada no banco de trás, voltada para o vidro traseiro, conforme orientações do fabricante;
  • A partir de um ano, a criança deve ser transportada em cadeira especial no banco de trás, voltada para a frente, corretamente instalada;
  • A partir dos quatro anos, a criança deve usar os assentos de elevação, com cinto de segurança de três pontos, e ser conduzida sempre no banco traseiro;
  • Após os sete anos e meio, a criança pode usar apenas o cinto de segurança de três pontos, no banco de trás. Só é permitido, por lei, sentar no banco da frente a partir dos 10 anos e com cinto de segurança.

Atropelamento

  • Ao sair de casa, segurar a criança pelo pulso, evitando que ela se solte e corra em direção à rua. Não permitir que a criança brinque em locais com trânsito de veículos (garagem e próximo à rua);
  • Escolha lugares seguros (parques, praças e outros) para as crianças brincarem.

* As dicas foram retiradas da Caderneta da Criança, do Ministério da Saúde.

Em casos de acidentes com materiais de limpeza, medicamentos e outros produtos tóxicos, procure um serviço de saúde, chame o Samu (192) e/ou procure o Centro de Informação Toxicológica (0800 722 6001; https://sinitox.icict.fiocruz.br/centros-de-informacao). Recomenda-se levar o rótulo da substância ingerida para o atendimento médico.

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