Por que optar por produtos de higiene naturais para os bebês?

Segundo especialistas, o ideal para os pequenos são produtos naturais e orgânicos, que inspiram conexão e não agridem o organismo ou o meio ambiente

Camilla Hoshino Publicado em 01.06.2022
Na imagem um bebê é colocado, de costas, em uma banheira com água.
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Resumo

Produtos naturais e orgânicos, longe de fórmulas sintéticas, são as melhores opções para bebês e crianças. Segundo especialistas, evitam alergias e doenças, criam conexão com a natureza e ajudam a preservar o planeta.

“Você pode substituir o creme hidratante do seu filho pelo ‘leite’ da aveia triturada no liquidificador.” Os memes à la Bela Gil têm feito sucesso não apenas na cozinha, mas na rotina de cuidado com o corpo e a casa. Eles costumam apresentar dicas de como transformar a rotina familiar, trocando produtos ultraprocessados por “comida de verdade” ou cosméticos comuns por fórmulas limpas. Mas, assim como no universo da alimentação, por que é mais saudável optar por produtos de higiene naturais? 

A dermatologista Patricia Silveira explica que fórmulas com conservantes e fragrâncias sintéticas não são indicadas para bebês, gestantes, lactantes e crianças pequenas, pois atuam como disruptores endócrinos. “Elas causam exposição precoce e desnecessária a substâncias que podem interferir negativamente no funcionamento hormonal do organismo, como alterações nas glândulas tireoides”, afirma. Essas substâncias podem ser absorvidas por ingestão, absorção da pele ou inalação.  

É muito comum que os cosméticos e produtos de higiene pessoal no Brasil contenham níveis altos de parabenos e benzofenonas, de acordo com um estudo realizado por pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, da USP, e publicado na revista Environmental International. A partir de 300 amostras coletadas entre 2012 e 2013, uma das principais descobertas do estudo foi a alta concentração dessas duas classes de disruptores endócrinos na urina de crianças entre seis e 14 anos, especialmente nas regiões Norte e Nordeste. Outra substância encontrada nas amostras foi o bisfenol A, utilizada em alguns plásticos e resinas. Apesar de também afetarem a saúde dos adultos, essa exposição é mais preocupante para crianças, que dependem do balanço hormonal para um desenvolvimento pleno e saudável. 

Onde as substâncias são encontradas

Ftalatos – materiais de limpeza, tintas, carnes processadas, leite e derivados (em contato com embalagens e tubos plásticos)
Bisfenol – alimentos enlatados e bebidas em garrafas de policarbonato
Parabenos – cosméticos, produtos de higiene, papéis (higiênico, panfleto e jornais) e alimentos processados   
Fonte: Estudo publicado na revista Environmental International

Profissional dedicada ao universo da dermatologia natural, Patricia também destaca a presença dos ftalalos, em fragrâncias de produtos como sabonetes, xampus e perfumes, além de serem usados como solventes na fabricação de plásticos mais resistentes para brinquedos e embalagens, por exemplo. Não por coincidência, os resultados do estudo da USP mostram que a substância está presente em 90% das amostras de urina das crianças. “Esses ingredientes estão envolvidos em vários problemas de saúde como obesidade, podendo agir como substâncias cancerígenas”, alerta Patrícia. 

Como escolher os produtos naturais para bebês?

Nos últimos anos, grandes marcas passaram a se livrar de componentes como sulfatos e parabenos. O mercado industrial dos cosméticos e produtos de higiene naturais também tem crescido, mas ainda não é acessível para muitas famílias, como alerta Marcela Rodrigues, jornalista e designer em sustentabilidade. Mesmo com pessoas se interessando em fazer seus próprios produtos em casa, com receitas simples como mistura de óleo de coco e bicarbonato para desodorantes, para que esses processos artesanais sejam seguros, é preciso informação e resgate de saberes perdidos, que também tem um custo.  

Como sugere Patricia, a melhor forma de escolher é observar a composição dos cosméticos e produtos de higiene, verificando se os ingredientes são seguros ou buscando por marcas que tenham a certificação limpa. “Cuidado para não comprar um ‘greenwash’, que são fórmulas que se dizem naturais, mas não são.” Outra dica da dermatologista é consultar um profissional que conheça bem esse mercado e que possa auxiliar na escolha de produtos mais saudáveis para as crianças, evitando problemas de pele como alergias. 

Não se limite apenas em ler os rótulos, pesquise sobre os ingredientes

A dica de Marcela é para que as famílias, cada vez mais, possam ter autonomia em suas escolhas e, eventualmente, produções próprias. Para ela, as perguntas que devem ser feitas durante a escolha de um produto são: quem o fabricou?; onde?; quais os fornecedores?; que tipos de causa essa marca apoia?; ela é transparente sobre os impactos de sua cadeia produtiva? Isso porque, para além da preocupação com a saúde dos bebês e crianças, é preciso pensar na saúde do meio ambiente. Um cosmético limpo não é apenas sobre uma fórmula livre de substâncias suspeitas. O termo limpo também é sobre transparência na cadeia, menos padrões estéticos e, sobretudo, respeito ambiental”, afirma Marcela. 

Impacto ambiental

Você já parou para pensar para onde vão o sabão, o xampu e todos os produtos derivados do petróleo e de outros compostos não biodegradáveis que são consumidos em casa? Não apenas as embalagens que geram lixo, mas também resíduos que descem pela água quando tomamos banho?   

Consumidores mais exigentes com a preservação ambiental têm pressionado empresas a mudarem suas cadeias produtivas, optando por alternativas de produção de menos impacto. Uma delas, como explica Marcela, é não realizar teste em animais. Outro detalhe é, além de buscar produtos que preservem ao máximo a característica das matérias-primas, como plantas e argilas, compreender a origem dessa matéria-prima: uma planta utilizada na produção de um cosmético pode ser cultivada em um sistema de monocultura, com uso intenso de agrotóxicos ou em sistemas mais limpos, como orgânicos, agroecológicos e agroflorestais, sem contaminação de pessoas e do meio ambiente. 

Autocuidado também é amor próprio

Uma massagem corporal antes do banho com óleo de coco, banho à luz de velas, folhas e flores colhidas e espalhadas na banheira do bebê, até o ensino de como preparar suas próprias loções, misturando óleos vegetais e essenciais: para muitas pessoas que cresceram com a ideia de higiene como sinônimo de uma obrigação entediante, pode parecer estranho tentar ressignificar as pequenas ações do dia a dia. Mas essa tem sido, desde cedo, a tentativa da aromaterapeuta e artesã de cosméticos naturais Amanda Sérvulo, com sua filha Sol, 3. 

Para as crianças, tudo é brincadeira. Quanto mais ela acessar esse universo lúdico e gostoso, mais ela vai ter o prazer de realizar aquela ação.

Amanda explica que, principalmente para crianças que vivem nas cidades, os produtos naturais ajudam a construir momentos relaxantes, em contato com aromas mais próximos ao que se encontra na natureza. “Como não possuem aromas sintéticos, os produtos naturais ajudam a preservar o sistema olfativo da criança, um dos principais caminhos de conexão com a natureza por meio dos instintos”, explica. Além disso, os óleos essenciais, por exemplo, que perfumam sabonetes, xampus e cremes naturais, personalizam os produtos para um determinado fim terapêutico. 

Para Amanda e Sol, os momentos de autocuidado acabaram virando oportunidades de troca e fortalecimento de vínculo, em espécies de rituais diários. Dessa forma, até mesmo escovar os dentes, que muitas vezes se torna motivo de conflito ou fonte de exaustão entre cuidadores e crianças, podem adentrar o campo do prazer e do afeto.

“Quero que ela entenda que está sendo cuidada até que ela possa e queira se cuidar sozinha. Desde cedo, a criança pode entender que se cuidar é prazeroso e também é um caminho para fortalecer o amor próprio”, diz Amanda. 

Qual a diferença entre óleos vegetais e óleos essenciais?

Óleos vegetais são gorduras extraídas de plantas, sementes, castanhas, frutos, raízes e grãos. Eles possuem proteínas, vitaminas, sais minerais e são umectantes, antioxidantes, além de outros benefícios. Alguns exemplos são os óleos de coco, amêndoas e semente de uva, ricos em ácido linoleico, mais adequados para massagem nos bebês. Muitos desses óleos são utilizados na aromaterapia como carreadores, isto é, veículos de diluição e condução de óleos essenciais no corpo. 

Óleos essenciais são encontrados em folhas, flores, cascas de fruto, galhos, sementes, troncos e raízes. Eles ficam armazenados nos tricomas das plantas (pequenas bolsas) e são rompidos, naturalmente, por elas, liberando aroma. Apesar do nome, não são uma gordura, mas se solubilizam em fase oleosa, e não em água. Atuam nos níveis fisiológico e emocional.

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