10 livros para ajudar na conversa sobre bullying com as crianças

Porque nem a escola e nem a família sozinhas conseguem dar conta do problema. A literatura pode ajudar (e muito!) no combate ao bullying

Renata Penzani Publicado em 28.09.2016
Ilustração interna do livro Ernesto, de Blandina Franco e José Carlos Lollo. Um monstro roxo e outro verde olham para o outro em um fundo cor de creme.

Resumo

Histórias de ficção acionam na criança sentimentos importantes para lidar com o bullying. Espia só essa dicas de personagens empoderados contra o problema.

O entendimento de que o bullying é um problema sério e real é recente e só ganhou definição legal em 2015, com a lei nº 13.185, que passou a considerar a prática uma “intimidação sistemática”. Até então, era comum que queixas das vítimas do problema fossem taxadas como exagero, tanto no ambiente escolar quanto na própria família. Considerando que muitos traumas da vida adulta têm origem na infância, estimular conversas sobre o tema com as crianças é fundamental.

A literatura sobre o assunto ajuda muito, mas nem só de livros didáticos ou assinados por especialistas no assunto é feita essa discussão. Histórias de ficção acionam na criança outros sentimentos importantes para lidar com o problema.

Para o pesquisador Nestor Garcia Canclini, “a identidade é entendida como uma narrativa que se constrói”

No campo da literatura, portanto, é a representação literária que constrói essa narrativa, e faz com que a criança se reconheça no personagem e criando com ele empatia e identificação. Tomando contato com diversos perfis de opressão e assédio, a criança pode aprender também diferentes posturas na hora de lidar com questões como exclusão, preconceito e isolamento social.

Pensando nisso, listamos dez títulos infantis e infantojuvenis que suscitam reflexões sobre o tema. Histórias que provocam e alimentam a temática sem precisar citar a palavra bullying.

*A ilustração que aparece em destaque neste texto é de autoria de Blandina Franco e José Carlos Lollo, autores do livro “Ernesto” (Companhia das Letrinhas).

1. “Ernesto”, de Blandina Franco e José Carlos Lollo (Companhia das Letrinhas)

Capa do livro "Ernesto", da Companhia das Letrinhas

Já imaginou se pudesse interferir no final triste de uma história e mudar o seu rumo? É isso o que sugere este livro. Enquanto narra a trajetória de Ernesto, um personagem desajustado, melancólico e sozinho por conta das críticas negativas que recebe dos outros, os autores interrompem a história com as temidas três letrinhas: FIM. Ué, mas acabou assim? Ernesto terminou só e abandonado? É aí que o pequeno leitor é convidado a refletir sobre as consequências que palavras e atitudes depreciativas podem ter sobre alguém. De forma sutil e metafórica, o livro sugere a urgência de aceitar o outro como ele é.

2. “Todos zoam todos”, de Dipacho (Pulo do Gato)

Capa do livro "Todos zoam todos", da editora Pulo do Gato

Image

Divulgação

Não se engane com o título: longe de querer naturalizar o bullying, este livro ironiza o assédio ao falar sobre pluralidade social, construção de identidade e afirmação das diferenças. Se todo mundo já foi incomodado por ser alto, baixo, gordo ou magro. Apresentando animais com as mais variadas características físicas e psicológicas, e ressaltando como cada indivíduo tem seu jeito particular de ser e se comportar, “Todos zoam todos” levanta uma reflexão sobre convivência e aceitação. Com isso, o livro propõe o resgate de um brincar natural e saudável, e mostra como são relativas as diferenças, a depender do ponto de vista de referência de quem vive. Como defende sua editora, Marcia Leite, “este é um livro que deixa de lado o didatismo e o politicamente incorreto e convida a criança a pensar, de maneira lúdica e bem-humorada, sobre os sentidos e a existência da diversidade”.

3. “Flicts”, de Ziraldo (Melhoramentos)

Capa do livro "Flicts", de Ziraldo, mostra um arco-íris

Image

Divulgação

Um clássico dos anos 60, “Flicts” é considerado um marco do livro ilustrado no Brasil, e conta a história de uma cor que não encontra o seu lugar no arco-íris por ser diferente de todas as outras. Logo de início, o livro nos apresenta o seu protagonista: “Não tinha a imensidão do amarelo, nem a paz que tem o azul. Era apenas o frágil e feio e aflito Flicts”. A principal questão do personagem é a falta de representatividade, afinal, ele não vê no mundo nada que seja da sua cor. Ao longo de sua trajetória, Flicts assimila pela experiência própria questões como identidade e individualidade, e como as particularidades de cada um nos fazem únicas. Aqui, é possível adquirir uma versão digital do livro.

4. “Bruno e João”, de Jean-Claude Ramos Alphen (Jujuba)

Capa do livro "Bruno & João". Em um fundo amarelo, dois meninos aparecem lado a lado com um pequeno coração no peito, indicando sua relação de afeto

Image

Divulgação

Bruno é grande, alto e robusto. Já João é magro e baixo. Apesar das diferenças físicas dos dois, sua força está no mesmo lugar: o afeto. O livro, de autoria do escritor franco-brasileiro Jean-Claude Ramos Alphen, conta a história de uma amizade que se sustenta pelo desejo de proteção de quem se gosta. Sensível e divertido,  “Bruno e João” suscita uma reflexão sobre a potência da amizade na resolução de conflitos internos da criança, ou seja, de como a identificação pelo outro ajuda os pequenos entenderem seus próprios medos e inseguranças.

5. “Monstro Rosa”, Olga de Diós (Boitatá)

Capa do livro "Monstro Rosa" traz um monstrengo cor-de-rosa sorridente, gordo e de um olho só

Image

Divulgação

Parte da coleção Boitatá, que pretende trazer para o universo infantil discussões sobre questões engajadas, como desigualdade e preconceito, “Monstro Rosa”, escrito e ilustrado pela artista espanhola Olga de Diós, levanta a bandeira da celebração da diferença. O monstro rosa que dá título ao livro representa a discrepância em um cenário de equalização arbitrária dos padrões estéticos e comportamentais. Até perceber que existe um mundo a ser explorado longe dos padrões impostos pela sociedade, o personagem se confronta diariamente com suas diferenças, em uma jornada pela autoaceitação. Para a editora da Boitatá, Ivana Jenkins, o livro faz parte de uma necessidade social de exercitar o olhar para o diferente. “A criança olha para as coisas e acha que é isso, que o mundo está dado. Precisamos sair dos nossas bolhas protegidas”, defende.

6. “O pássaro amarelo”, de Olga de Diós (Boitatá)

A capa do livro "Pássaro amarelo" traz um passarinho amarelo acenando.

Image

Divulgação

Também parte da coleção Boitatá, este livro foi lançado em julho deste ano junto com “Monstro Rosa”. Juntos, os dois compõem uma verdadeira à diferença por meio da representatividade. Aqui, o personagem principal é um pequeno pássaro que tem uma asa mais curta do que a outra. Por conta de sua deficiência, ele não consegue ter o mesmo desempenho que seus amigos em tarefas simples do dia a dia e, claro, não consegue voar. Então, em um insight de autoempoderamento, ele percebe que sua falta pode significar um diferencial, e passa a criar engenhocas que possam lhe fazer voar.

Christian Bruel, Anne Galland e Anne Bozellec (Scipione)

7. “A história de Julia e sua sombra de menino”, de 

Uma criança brinca com sua sombra em diferentes posições.

Image

Divulgação

De tanto sofrer intimidação por se vestir e se comportar como menino, um certo dia Julia acorda e percebe sua sombra transformada: uma sombra de menino. Com um enredo denso e pontuado de discussões sensíveis ao desenvolvimento da criança, como autoceitação e sociabilidade, o livro suscita uma conversa sobre como o nosso papel em sociedade – na escola, no ambiente familiar – muitas vezes se torna um mero reflexo daquilo que esperam de nós. Em “A história de Julia e sua sombra de menino”, questões como respeito, preconceito e valorização da diferente estão presentes.

8. “Pedro e o menino valentão”, de Ruth Rocha (Melhoramentos)

Capa do livro "Pedo e o menino valentão"

Image

Divulgação

Quando percebem que o filho está sendo perseguido na escola por um menino mais velho, os pais do protagonista deste livro resolvem ensiná-lo a lutar judô. A partir daí, o menino passa por um processo de entendimento sobre a diferença entre masculinidade e força emocional, e é levado a refletir sobre a ineficiência da violência física. A partir de uma narrativa simples, este clássico de Ruth Rocha (o livro já ultrapassou a 20ª edição) provoca pais e educadores a pensarem sobre os referenciais de comportamento e sociabilidade que passamos às crianças no ambiente familiar.

9. “A terra dos meninos pelados”, de Graciliano Ramos (Record)

Capa do livro "A terra dos meninos pelados", de Graciliano Ramos

Image

Divulgação

Em um lugar onde todos eram iguais, havia um menino diferente. Com a maestria literária de quem criou Vidas Secas, Graciliano Ramos conta aqui a história de Raimundo tinha o olho direito preto, o esquerdo azul e a cabeça pelada. Pelo olhar enviesado dos outros, o menino era uma aberração e nunca falava coisa com coisa. Porém, sozinho em sua imaginação de criança, o menino criava mundos maravilhosos e desenhava em sua cabeça o deu desejo de um dia encontrar um lugar ao qual pudesse pertencer.

10. “Este é o Lobo”, de Alexandre Rampazo (Dcl Difusão Cultural)

Capa do livro "Este é o Lobo", de Alexandre Rampazo

Image

Divulgação

Este livro trabalha o bullying de um ponto de vista metafórico e altamente simbólico. A história traz em primeiro plano o personagem lobo, que todos já conhecem como o vilão de Chapeuzinho Vermelho. Porém, nem sempre as coisas são o que aparentam ser, e nem as pessoas são o que julgamos que são. Colocado em uma situação de isolamento social por conta da ideia formada que todos fazem dele, o lobo representa aqui o caráter nocivo do pré-julgamento. O leitor que se deixar levar pela proposta do livro vai chegar a uma potente reflexão sobre tolerância e empatia.

Comunicar erro
Comentários 1 Comentários Mostrar comentários
REPORTAGENS RELACIONADAS