77% das meninas brasileiras já sofreram assédio on-line

Pesquisa com 14 mil meninas mostra que 58% delas já sofreram assédio virtual e 19% abandonaram ou reduziram o uso de redes sociais depois de serem assediadas

Da redação Publicado em 09.10.2020
Imagem de uma menina deitada em sua cama olhando para a tela de um celular
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Resumo

A maior pesquisa sobre segurança e violência on-line revelou que 58% das 14 mil meninas e jovens mulheres de 22 países já foram assediadas ou abusadas no ambiente virtual. No Brasil, o número chega a 77%.

Existe um dia exclusivo para se comemorar o Dia Internacional da Menina, você sabia? O dia 11 de outubro foi reservado em homenagem a elas, antecedendo a comemoração do Dia das Crianças, aqui no Brasil. Mas, ao invés de só celebrar, há muitos pontos de atenção para a infância delas. O dado de que praticamente oito a cada 10 meninas e jovens mulheres já sofreram assédio on-line no Brasil, por exemplo, mostra como os percalços de ser mulher em nossa sociedade as sujeitam desde cedo.

Violência e assédio on-line

Essa é uma das descobertas da maior pesquisa sobre segurança e violência on-line “Liberdade on-line? – Como meninas e jovens mulheres lidam com o assédio nas redes sociais”, parte da campanha mundial Meninas Pela Igualdade, realizada pela Plan International Brasil – ONG que promove os direitos das crianças e a igualdade para as meninas. Foram entrevistadas 14 mil meninas e jovens mulheres de 15 a 25 anos em 22 países, incluindo o Brasil, onde 500 meninas participaram, sendo 90% usuárias frequentes das redes sociais. No mundo todo, a pesquisa apontou que 58% das meninas já foram assediadas ou abusadas no ambiente virtual. 

Os ataques são mais comuns no Facebook (62% das brasileiras e 39% no estudo global) e no Instagram (44% das brasileiras e 23% no global). Em nosso país, os ataques via WhatsApp também são relevantes, com 40%. Por isso, meninas e mulheres escreveram juntas uma carta aberta a empresas de mídia social, convocando-as a quebrar o silêncio e criar formas mais eficazes de denunciar abusos e assédio. Além de 44% defenderem que essas companhias precisam fazer mais para protegê-las, a Plan International também está pedindo aos governos no mundo todo para que implementem leis específicas para lidar com a violência on-line baseada em gênero e garantir acesso à justiça a essas meninas que sofrem abuso. 

Assédio infantil de meninas no ambiente virtual

Segundo o estudo, meninas que usam mídia social em países de alta e baixa renda estão cotidianamente sujeitas a mensagens explícitas, fotos pornográficas, perseguição on-line e outras formas de abuso.

A violência on-line fez com que quase uma em cinco (19%) das meninas assediadas no mundo parassem ou reduzissem significativamente o uso da plataforma, enquanto uma em dez (12%) mudou a forma de se expressar. No recorte brasileiro, 39% das meninas que já sofreram assédio on-line ignoraram seus assediadores e continuaram usando a rede social da mesma forma e 20% desafiaram publicamente o assediador escrevendo uma resposta.

O abuso também prejudica a vida off-line das meninas, com uma em cada cinco (22%) das entrevistadas dizendo que elas ou uma amiga ficaram preocupadas por sua segurança física. Entre as brasileiras, 46% das meninas e de suas amigas enfrentam mais assédio nas redes sociais do que na rua. 

No Brasil, o ataque mais comum registrado foi a linguagem abusiva e insultuosa (58%), seguido de ataques à aparência, incluindo vergonha do corpo (54%) e constrangimento proposital (52%). Aqui, os comentários racistas (41%) e homofóbicos (40%) tiveram percentuais relevantes. No mundo, a questão homofóbica chega a 56%. 

A faixa etária mais frequente para que as situações de assédio on-line comecem é entre 12 e 16 anos, mas há testemunhos de garotas que foram assediadas pela primeira vez entre 8 e 11 anos, embora, em tese, o uso das redes sociais seja permitido a partir dos 13 anos. O assédio é praticado majoritariamente por pessoas estranhas (47%), anônimas (38%) e fora do círculo de amizade (38%), segundo relatado por meninas brasileiras.

Quase 40% das crianças e adolescentes de 9 a 17 anos já observaram casos de discriminação na web: 26% são ligados à raça, 16% a atributos físicos e 14% à orientação sexual (dados da pesquisa TIC Kids Online (2017). No Brasil, 127 mulheres e meninas se mataram, entre 2015 e 2017, por causa de exposição on-line.

Embora uma em cada três meninas (35%) na pesquisa global tenha denunciado os abusadores, a situação persiste porque eles abrem novas contas e um número significativo de pessoas precisa denunciar o conteúdo prejudicial antes que qualquer ação seja tomada. Por aqui, 46% denunciaram o assediador e 21% tornaram o perfil privado.

O assédio tem um impacto profundo no bem-estar das meninas, com 41% relatando estresse mental e emocional, 39% sensação de insegurança física e 29% baixa autoestima ou perda de confiança.

Como meninas e jovens mulheres lidam com o assédio nas redes sociais?
14.071 meninas e jovens mulheres participaram do estudo quantitativo realizado em 22 países (Alemanha, Austrália, Benin, Brasil, Canadá, Colômbia, Equador, Espanha, EUA, Filipinas, Gana, Guiné, Holanda, Índia, Indonésia, Japão, Nigéria, Noruega, Quênia, República Dominicana, Tailândia e Zâmbia). Elas foram questionadas sobre suas experiências de uso do Facebook, Twitter, Instagram, Tik Tok, Snapchat, WhatsApp, WeChat, YouTube e Line.

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