Vacina: escolha das famílias ou obrigatoriedade de saúde pública?

Para alguns especialistas, a não vacinação representa um perigo extremamente nocivo à saúde pública de uma forma geral

Da redação Publicado em 28.12.2017 Atualizado em 21.09.2022
Foto de uma criança onde aparece em foco o seu braço recebendo uma vacina
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Resumo

Diante de um crescente movimento contrário à vacinação em todo o mundo, médicos e especialistas cada vez mais defendem a importância da vacinação na infância.

Procedência, efeitos colaterais, desencadeamento de condições nocivas são alguns dos receios que rondam o assunto “vacinação infantil” no Brasil. Pais e mães se dividem entre quem vê nas vacinas o santuário da proteção dos filhos e quem acredita que a vacina em crianças pode deixá-las mais suscetíveis a doenças.

Por outro lado, a vacinação foi responsável por erradicar doenças como varíola, poliomielite, sarampo, rubéola e síndrome da rubéola congênita, além de minimizar consideravelmente casos de coqueluche e meningite.

  • A vacina é uma substância produzida a partir de bactérias ou vírus mortos ou enfraquecidos. Ao ser introduzida no corpo do ser humano, a vacina provoca uma reação do sistema imunológico, promovendo a produção de anticorpos – os leucócitos – contra aquela substância.

Devido à importância do assunto para a infância e as muitas dúvidas que o tema suscita, o Lunetas investigou quanto disso é mito e o quanto é risco real. Afinal, vacinas podem ser uma escolha de cada família ou uma obrigatoriedade de saúde pública?

Para o pediatra e infectologista do Hospital Israelita Albert Einstein, Alfredo Gilio, as vacinas são pilares imprescindíveis da imunidade da criança, principalmente por sua dupla importância: de um lado, sua atuação em cada indivíduo que a recebe, e, de outro, seu valor social e histórico. O médico explica:

“A vacinação é uma das principais medidas para a prevenção de uma série de doenças. Tem uma importância muito grande individualmente e epidemiologicamente, ou seja, para redução ou mesmo erradicação de algumas doenças”

Como funciona no Brasil

O Programa Nacional de Imunização foi criado em 1973. De lá para cá, o que mudou? Quais parâmetros são seguidos hoje? Há divergências entre a recomendação do Ministério da Saúde (Calendário Nacional de Imunização) e da Sociedade Brasileira de Pediatria.

“Para os calendários do Programa Nacional de Imunizações (PNI), são seguidas as premissas: a disponibilidade de uma vacina segura e eficaz para uma determinada doença, o seu custo e a possibilidade de atingir o maior número possível de crianças”

“No calendário da Sociedade Brasileira de Pediatria, são acrescentadas algumas vacinas e também se sugere algumas outras apresentações de vacinas para as mesmas doenças que são prevenidas através do PNI. É importante ressaltar que o Programa Nacional de Imunizações do Brasil é um dos mais completos do mundo”, explica o pediatra.

Quanto à procedência das vacinas utilizadas hoje no país e seu caminho até chegarem no paciente, o profissional conta que varia bastante, mas que, independente de sua origem, a distribuição, regulação e orientação à população são conduzidas pelo Ministério da Saúde. “As utilizadas no Brasil podem vir dos laboratórios nacionais como o Instituto Butantan e de laboratórios internacionais”, esclarece.

Ainda sobre essa questão, o médico defende a qualidade do produto disponibilizado no país. “As vacinas disponíveis hoje são bastante seguras e eficazes. Não há risco significativo de doenças graves. O risco mais frequentemente referido que é o de autismo após vacinas já está completamente descartado na literatura médica mundial”, diz Alfredo.

Movimento antivacina

No extremo oposto da questão, estão os defensores da não vacinação, o chamado “movimento antivacina”. É crescente no mundo todo o número de pais que se recusam a vacinar seus filhos, movidos por uma série de fatores como a descrença no sistema de saúde, a desconfiança sobre a procedência das vacinas oferecidas (sobretudo na rede pública) e também por acreditarem que vacinar contra doenças erradicadas é desnecessário.

A este fenômeno social e cultural, os médicos deram o nome de “desaparecimento da percepção de risco”, ou seja, quando uma população ou mesmo um grupo de profissionais despreparados deixa de ter rigor sobre a importância de se proteger contra uma determinada doença há muito desaparecida.

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Os adeptos do movimento antivacina são contrários à ideia de expor o corpo a um agente viral ou bacteriano sintetizado.

Para a homeopatia, por exemplo, a vacina seria responsável por desencadear reações inflamatórias no organismo, teoria que o pediatra Alfredo Gilio desmente. Outras correntes – religiosas, filosóficas e de outras ordens –, como a Antroposofia, por exemplo, acreditam que é mais saudável para o corpo desenvolver imunidade de forma natural, ou seja, por meio da própria doença quando ela ocorrer. O pediatra explica:

“Muitas doenças estão sob controle justamente por causa da vacinação. Quando ocorre relaxamento nas taxas de cobertura dessas vacinas a doença reaparece, como aconteceu recentemente com o sarampo”

Segundo o Ministério da Saúde, todas as doenças prevenidas pelas vacinas que constam no calendário de vacinação, se não forem alvo de ações prioritárias, podem voltar a se tornar recorrentes.

Para os especialistas, a não vacinação representa um perigo extremamente nocivo à saúde pública de uma forma geral, uma vez que as famílias que optam por esse caminho estão considerando somente o efeito individualizado da prática, desconsiderando a consequência em nível macro, social e histórico.

“As famílias que optam por não vacinar os seus filhos estão deixando-os expostos às doenças que as vacinas protegem e que nem sempre são doenças leves. Ao mesmo tempo, estão expondo outras crianças ou adultos que podem contrair essas doenças se tiverem contato com seus filhos ”, defende Alfredo.

Conhecimento protege

Já o médico infectologista Renato Kfouri defende que, diante de tantas posições contrárias, a informação é a principal aliada, e por isso é preciso ficar atento às pesquisas desenvolvidas sobre o assunto.

“É importante observar os estudos de segurança das vacinas, que acompanham populacionalmente os efeitos de cada uma delas. São estudos muito sérios, com dados que seguem afirmando sua importância. Com isso, a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e dos ministérios dos países é para que se dê as vacinas de acordo com os calendários”, diz.

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No site do Ministério da Saúde, o chat do Zé Gotinha responde às principais dúvidas sobre vacinação.

A maioria das vacinas oferecidas em clínicas privadas de imunização e as disponibilizadas na rede pública de saúde é a mesma. “Entretanto, para outras há diferenças na apresentação, por exemplo, reduzindo o número de picadas ou reações adversas. Além disso, algumas vacinas não são disponibilizadas na rede pública”, explica o pediatra.

Para fazer download do Calendário Nacional de Vacinação, clique aqui.

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