Conflitos entre Ucrânia e Rússia trazem dúvidas sobre como acolher os sentimentos das crianças e lidar com suas questões no período
Falar sobre guerra não é uma tarefa fácil. Entre crianças mais novas ou mais velhas, o acolhimento deve ser a base para transmitir a elas fatos da realidade.
Os conflitos entre Ucrânia e Rússia tomaram os noticiários e as crianças não ficam isentas de serem expostas aos fatos, na TV ou na internet. O caos e a violência da guerra geram dúvidas sobre o porquê por trás dos acontecimentos e é preciso que adultos saibam como conduzir essa conversa.
Como abordar o tema “guerra” com as crianças? Das mais latentes às mais explícitas, as guerras do século XXI têm motivações e formatos variados. O Lunetas conversou com educadores e um psicólogo para entender como tratar sobre esse tema tão delicado com os pequenos: em casa ou na sala de aula, é urgente criar um ambiente que respeite as dúvidas das crianças e acolha seus sentimentos em tempos tão complicados.
“É um tema que gera interesse. Às vezes, eu faço perguntas pro sexto ano sobre o que eles gostariam de estudar e eles sempre falam das guerras contemporâneas”, conta Gabriel Baroni, professor de história do ensino fundamental II. Apesar do tema estar relacionado a mortes, perdas e violência, é importante que as crianças estejam cientes de que as coisas acontecem, com o devido cuidado na abordagem para não traumatizá-las.
“A guerra não é um jogo, não é um brinquedo, não é o que um filme de ação mostra”
Se a criança procurar um adulto e o questionar sobre a guerra, “o canal de comunicação com a criança deve ser acolhedor, com atenção”, indica o professor Vinícius Yan, educador no ensino fundamental I e II, e em cursinhos pré-vestibular.
Para o conflito entre Ucrânia e Rússia, não realizar comparações anacrônicas e oferecer contextualizações prévias que embasam a situação são as principais recomendações. José Rodrigo Pereira, professor de história, reforça o cuidado em evitar a visão maniqueísta de bem e mal. “Para explicar um conflito em sala de aula de maneira mais didática, é necessário abordar aspectos que abrangem os dois lados do acontecimento”.
Para ensinar crianças mais velhas, o historiador também sugere o uso de mapas e de conceitos-chave (como direitos civis, interesse territorial e OTAN), além de aproveitar a oportunidade para abordar o significado de “nação”, pois temas como movimentos separatistas dentro da Ucrânia e a problemática em invadir um país podem vir à tona.
“Esteja atento e aberto ao que as crianças trazem para a discussão. Afinal, o aprendizado é uma via de mão dupla”
“Muitas vezes, o que as crianças estão precisando é de um interlocutor para desabafar sobre medos que também são nossos”, comenta Alexandre Coimbra Amaral, psicólogo e colunista do Lunetas. Nem todos os pais são historiadores, internacionalistas e/ou geógrafos que estudam o conflito entre Ucrânia e Rússia para oferecer respostas bem explicadas. Então, conversar sobre esse assunto com as crianças pode ser mais uma oportunidade de abordar sentimentos que podem estar atravessando os pequenos.
“Conversar com as crianças sobre guerra é ter a consciência de que você não vai ter resposta para todas as perguntas delas”
Alexandre também recomenda não expor as crianças aos noticiários que tenham imagens violentas. Isso não significa ocultar a verdade, que sempre deve ser dita, mas mediar o que chega até as crianças, privilegiando a informação de qualidade e notícias com credibilidade. “Na conversa com os pequenos, é preciso reforçar que o ideal seria que guerras não acontecessem, salientando a importância dos direitos humanos”, aponta o psicólogo.
“As meninas e os meninos da Ucrânia precisam de paz, desesperadamente, agora” – Unicef
Segundo a Agência da ONU para Refugiados (Acnur), em 2021, a Síria foi o país com maior número de refugiados: aproximadamente 6.748.000 pessoas se deslocaram do país. Já na Ucrânia, estima-se que mais de 1,2 milhão de pessoas tenham saído do país desde 24 de fevereiro de 2022.