Situação da infância no mundo: é hora de agir, convoca UNICEF

O relatório "Situação Mundial da Infância" apresenta a dura realidade de milhares de crianças ao redor do mundo

Da redação Publicado em 30.06.2016

Resumo

"Temos uma escolha: investir nessas crianças agora ou permitir que o nosso mundo se torne ainda mais desigual", diretor executivo do UNICEF, Anthony Lake.

Toda sexta-feira, Amena Akhter, mãe de Hafsa, 22, reúne a família, marido, sogro, sogra e filha, para uma refeição. Eles moram juntos em Bangladesh e, embora não tenham muito, o aluguel do modesto apartamento aonde moram custa cerca de um terço da renda da família, têm o suficiente para fornecer um ambiente seguro, de amor e carinho para Hafsa.

Apesar de toda criança nascer com o direito a uma infância segura, com educação, carinho e alimentação adequada,  basicamente, o que uma criança precisa para crescer e ter uma vida adulta produtiva e próspera, milhões de crianças pelo mundo ainda têm seus direitos básicos negados, e são privadas de tudo o que precisam para crescer de forma saudável.

“Negar a centenas de milhões de crianças oportunidades justas na vida faz mais do que ameaçar seu futuro, alimentando ciclos intergeracionais de desvantagem: coloca também em perigo o futuro de suas sociedades.

Nós temos uma escolha: investir nessas crianças agora ou permitir que o nosso mundo se torne ainda mais desigual e dividido”, diretor executivo do UNICEF, Anthony Lake.

Divulgado no último dia 28 de junho, o principal relatório do UNICEF, “Situação Mundial da Infância“, apresenta a dura realidade de milhares de crianças ao redor do mundo, que vivem em situação de pobreza e vulnerabilidade, e traça uma perspectiva de futuro nada animadora.

De acordo com o material, a não ser que sociedade, empresas e governos se comprometam a acelerar esforços para reverter essa situação, até 2030, cerca de 69 milhões de crianças menores de cinco anos morrerão de causas evitáveis, 167 milhões de crianças viverão na pobreza e 750 milhões de mulheres terão se casado ainda crianças.

Histórias de vidas que se tornam estatisticas e dados

Na foto ao lado,  em Bangladesh, Rexona Begum, 30, a mãe de Sumiya Mollah (sem camisa), 5 e Moriom Mollah, 6, fazem sua refeição. No prato, batatas e arroz. Rexona faz o seu melhor para cuidar de sua família, mas muitas necessidades básicas estão além de seu alcance.

Sumiya foi diagnosticada com desnutrição. Embora a família seja proprietária de sua própria casa, não possui terra ou outros meios para fornecer uma alimentação mais diversificada para as crianças.

Seguindo a recomendação da clínica local, a mãe começou a incorporar mais vegetais nas refeições.  A família, mesmo com a renda reduzida, também investiu em algumas galinhas, para terem ovos e carne para comer.

Ainda assim, é impossível para eles seguirem muitas das recomendações da clínica. O abastecimento de água potável mais próximo fica a uma distância de 1km, uma ONG instalou recentemente um filtro há, portanto, pelo menos, têm acesso a água potável. Mas, a privação de água limpa e as condições insalubres já causaram muitos males às crianças da família, como diarreias.

As privações são transmitidas de geração para geração, e formam um ciclo vicioso que aprofunda a desigualdade e ameaça as sociedades em todos os lugares.

As crianças que não têm a oportunidade de desenvolverem as habilidades necessárias para competir como adultos não conseguem quebrar esses ciclos em suas próprias vidas, e também não poderão dar à seus filhos uma chance.

Se não conseguirem superar a pobreza, a falta de água potável e a desnutrição, as filhas de Rexona poderão estar entre as 69 milhões de crianças menores de cinco anos morrerão de causas evitáveis, ou as 167 milhões de crianças viverão na pobreza.

O relatório da UNICEF indica que crianças mais pobres têm duas vezes mais probabilidade de morrer antes do seu quinto aniversário e de sofrer de desnutrição crônica do que as mais ricas. Em grande parte da Ásia Meridional e da África ao sul do Saara, crianças nascidas de mães sem educação formal têm quase três vezes mais probabilidade de morrer antes dos 5 anos de idade do que aquelas nascidas de mães com o ensino secundário. E as meninas das famílias mais pobres têm duas vezes mais chance de se casar ainda crianças do que as meninas de famílias mais ricas.

Embora a educação desempenhe um papel único para que todas as crianças tenham chances iguais, o número de crianças que não frequentam a escola aumentou desde 2011, e uma proporção significativa dos que vão à escola não está aprendendo. Aproximadamente 124 milhões de crianças hoje não vão à escola primária nem ao primeiro ciclo da escola secundária, e quase duas a cada cinco que terminam a escola primária não aprenderam a ler, escrever ou fazer contas simples.

Mas nem tudo está perdido. O material destaca o fato de que investimentos em  crianças mais vulneráveis pode trazer benefícios imediatos e de longo prazo. Políticas de transferência direta de renda, o Bolsa Família entre elas, por exemplo, têm demonstrado sua utilidade em ajudar as crianças a permanecerem na escola por mais tempo e avançarem para níveis mais elevados de educação. Em média, cada ano adicional de educação que uma criança recebe aumenta sua renda, quando adulta, em cerca de 10%. E, em média, para cada ano adicional de escolaridade concluído por jovens adultos em um país, as taxas de pobreza desse país caem 9%.

Como transformar essa realidade?

Por fim, o relatório aponta alguns caminhos principais para que governos, empresas e sociedades possam seguir e contribuir para a construção de um mundo mais igualitário, que assegura às crianças seus direitos básicos.

Em primeiro lugar, com informação.  Por meio de dados qualificados e precisos sobre a situação das populações em diferentes territórios, governos e parceiros de desenvolvimento podem direcionar e expandir seus investimentos de forma precisa e eficaz. O material cita especificamente as políticas de transferência de renda direta para ajudar as famílias a pagar as taxas escolares .

Em segundo lugar, com integração, com políticas públicas transversais. Um exemplo citado pelo material é a introdução de programas de alimentação escolar em Bangladesh, que tem sido associada ao aumento da aprendizagem e desenvolvimento cognitivo das crianças.

Em terceiro, com investimento focado em oferecer à crianças em situação de vulnerabilidade a oportunidade de competir em situação de igualdade com aquelas com de condições mais privilegiadas. As decisões de investimentos dos governos, sugere o relatório, devem focar em impactar populações em situação de pobreza.

Em quarto, com inovação. Por meio de soluções que entreguem bens essenciais, serviços e oportunidades para as crianças e comunidades mais vulneráveis.

Por fim, com envolvimento. Governos, organizações internacionais e sociedade civil devem trabalhar em conjunto com sociedades em situação de vulnerabilidade para enfrentar desafios comuns, como retirar crianças da pobreza extrema, promover os direitos de meninas e mulheres e, fundamentalmente, a expandir oportunidades para todos.

Guiados por esses cinco princípios, podemos reduzir drasticamente as desigualdades de oportunidades para as crianças dentro de uma geração. É a coisa certa a fazer, e a coisa inteligente a fazer. Agora é a hora de traçar o nosso rumo para um mundo mais justo.

Com informações de Unicef.

Comunicar erro
Comentários 1 Comentários Mostrar comentários
REPORTAGENS RELACIONADAS