‘A criança precisa de palavras de vida’, diz Severino Antônio

"Já sei o que é o cor-de-rosa, é vermelho devagarinho". Em seu novo livro, Severino Antônio e Katia Tavares investigam a poesia natural das crianças

Renata Penzani Publicado em 24.09.2019
Imagem da capa do livro”A poética das infâncias” de Severino Antonio e Katia Tavres. Conversa com quem educa as crianças. Foto de uma mão segurando o livro
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Resumo

Em seu novo livro, "A poética das infâncias", os educadores Severino Antônio e Katia Tavares estimula nos educadores o interesse pela poesia das crianças.

Quem ouve os educadores Severino Antônio e Kátia Tavares, autores de “A poética da infância“, se reparar bem, vai notar que tem ali naqueles tons de vozes amaciadas uma matéria-prima que vem de outro lugar. Esse outro lugar se chama infância. Mais especificamente, a poética das infâncias. Um lugar que eles habitam com a familiaridade de quem já esteve lá e hoje revisita diariamente para fazer o seu trabalho de relembrar o mundo que como, diria o poeta Thiago de Mello, “é de infância que o mundo tem precisão.”

O novo livro dos autores acaba de ser publicado pela editora Passarinho. Depois de compartilhar com os leitores o resultado de sua escuta das imagens e dizeres filosóficos das crianças no livro “Constelações, uma escuta poética da infância“, Severino e sua companheira Katia agora trazem neste novo livro aproximações entre o modo de ser das crianças com a pedagogia. Assim, o livro se torna uma potente referência para quem busca colocar em prática abordagens de aprendizagem mais conectadas com a essência das infâncias.

“Cada criança é feita da matéria-prima do mundo, da circulação da vida, das circunstâncias históricas e sociais, mas ao mesmo tempo, feita de sonhos, movida por desejos e sentidos que descobre ou atribui à vida”, dizem os autores no livro.

Definições infantis para o mundo

Feito o best-sellerA casa das estrelas“, do professor e poeta colombiano Javier Naranjo, este “A poética das infâncias” também traz definições das crianças para as coisas do cotidiano. Para quem gosta de ressignificar as palavras, o livro é um verdadeiro brinquedo.

Uma criança de cinco anos, por exemplo, disse à professora que já sabia o que era cor-de-rosa. “É vermelho devagarinho”. Ou a criança que não queria dormir, e resistiu o quanto pôde ao sono, até ele começar a finalmente chegar. “O escuro está entrando nos meus olhos”. Esses e outros exemplos aparecem na obra, entrecortados por textos teóricos voltados para professores e também para os interessados em geral na escuta das crianças e em poesia.

Para Severino Antônio, o adulto que se permite a uma conexão com a poesia das crianças, ganha de volta sua vitalidade. “A criança precisa de palavras de vida, de celebração da vida, e não de depreciação, que só reduzem ao erro e ao desafeto. Precisamos tomar muito cuidado com as palavras que usamos com elas”, diz o professor.

O significado da “poética das infâncias”

Quando perguntamos a ele do que se trata, afinal, a tal “poética das infâncias”, ele explica remetendo ao estado inaugural da criança em relação a si mesma e ao mundo. “A poesia natural da infância existe por vários motivos. Primeiro, porque a criança está fazendo a descoberta do mundo. Ao mesmo tempo, ela está descobrindo a palavra. As coisas para ela estão nascendo, são recém-nascidas”, afirma.

“A criança vê com olhos novos, olhos livres. Com ela, o mundo está sempre começando de novo”

Mas, ninguém melhor do que os próprios autores para contar o que um livro é. Por isso, o Lunetas aproveita a ocasião para conversar com os dois para conhecer de perto esse novo trabalho, e repercutir essa tal matéria-prima com a qual eles ficam tão vontade: o jeito-criança de observar o mundo. Assista:

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