"Já sei o que é o cor-de-rosa, é vermelho devagarinho". Em seu novo livro, Severino Antônio e Katia Tavares investigam a poesia natural das crianças
Em seu novo livro, "A poética das infâncias", os educadores Severino Antônio e Katia Tavares estimula nos educadores o interesse pela poesia das crianças.
Quem ouve os educadores Severino Antônio e Kátia Tavares, autores de “A poética da infância“, se reparar bem, vai notar que tem ali naqueles tons de vozes amaciadas uma matéria-prima que vem de outro lugar. Esse outro lugar se chama infância. Mais especificamente, a poética das infâncias. Um lugar que eles habitam com a familiaridade de quem já esteve lá e hoje revisita diariamente para fazer o seu trabalho de relembrar o mundo que como, diria o poeta Thiago de Mello, “é de infância que o mundo tem precisão.”
O novo livro dos autores acaba de ser publicado pela editora Passarinho. Depois de compartilhar com os leitores o resultado de sua escuta das imagens e dizeres filosóficos das crianças no livro “Constelações, uma escuta poética da infância“, Severino e sua companheira Katia agora trazem neste novo livro aproximações entre o modo de ser das crianças com a pedagogia. Assim, o livro se torna uma potente referência para quem busca colocar em prática abordagens de aprendizagem mais conectadas com a essência das infâncias.
“Cada criança é feita da matéria-prima do mundo, da circulação da vida, das circunstâncias históricas e sociais, mas ao mesmo tempo, feita de sonhos, movida por desejos e sentidos que descobre ou atribui à vida”, dizem os autores no livro.
Feito o best-seller “A casa das estrelas“, do professor e poeta colombiano Javier Naranjo, este “A poética das infâncias” também traz definições das crianças para as coisas do cotidiano. Para quem gosta de ressignificar as palavras, o livro é um verdadeiro brinquedo.
Uma criança de cinco anos, por exemplo, disse à professora que já sabia o que era cor-de-rosa. “É vermelho devagarinho”. Ou a criança que não queria dormir, e resistiu o quanto pôde ao sono, até ele começar a finalmente chegar. “O escuro está entrando nos meus olhos”. Esses e outros exemplos aparecem na obra, entrecortados por textos teóricos voltados para professores e também para os interessados em geral na escuta das crianças e em poesia.
Para Severino Antônio, o adulto que se permite a uma conexão com a poesia das crianças, ganha de volta sua vitalidade. “A criança precisa de palavras de vida, de celebração da vida, e não de depreciação, que só reduzem ao erro e ao desafeto. Precisamos tomar muito cuidado com as palavras que usamos com elas”, diz o professor.
Quando perguntamos a ele do que se trata, afinal, a tal “poética das infâncias”, ele explica remetendo ao estado inaugural da criança em relação a si mesma e ao mundo. “A poesia natural da infância existe por vários motivos. Primeiro, porque a criança está fazendo a descoberta do mundo. Ao mesmo tempo, ela está descobrindo a palavra. As coisas para ela estão nascendo, são recém-nascidas”, afirma.
“A criança vê com olhos novos, olhos livres. Com ela, o mundo está sempre começando de novo”
Mas, ninguém melhor do que os próprios autores para contar o que um livro é. Por isso, o Lunetas aproveita a ocasião para conversar com os dois para conhecer de perto esse novo trabalho, e repercutir essa tal matéria-prima com a qual eles ficam tão vontade: o jeito-criança de observar o mundo. Assista:
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