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‘Quinzinho’ e o racismo que tira o brilho dos olhos das crianças

Ilustração do livro "Quinzinho" em que um adulto. ajoelhado, interage com uma criança. Ambos são negros.

Em uma sexta-feira, Quinzinho perdeu o brilho nos olhos de jabuticaba. Perdeu também as palavras. A tristeza teve uma razão mais profunda do que um desentendimento comum entre colegas: ele foi alvo de racismo na escola.

Nesta história que marca a estreia de Luciano Ramos na literatura infantil, texto e imagem convergem para potencializar o enfrentamento ao racismo com exemplos positivos. Por sua atuação com masculinidades, paternidades e gênero com recorte de raça, Ramos nos convida a acompanhar como uma família feliz lida com esse problema que não deveria existir, mas é realidade em muitos lares, desde o café da manhã em casa e a caminho para a escola.

Para entender o que tirava o brilho dos olhos de Quinzinho, o silenciamento sai de cena, e o pai abre espaço para o diálogo e o conhecimento, despertando também em nós, leitores, a vontade de conversar mais sobre o orgulho de ser negro, a ancestralidade, a falta de representatividade e o empoderamento das crianças pretas para enfrentarem o racismo.

“Quinzinho”, Luciano Ramos e Bruna Assis Brasil (Caqui)

Além do livro trazer questões fundamentais para a construção urgente de uma sociedade antirracista, a relação entre Quinzinho e seu pai mostra, por meio da história narrada e também das ilustrações de Bruna Assis Brasil, cuja marca registrada são as colagens de imagens antigas que compõem com as ilustrações, a dimensão de uma paternidade ativa ao explorar masculinidades alternativas e afetuosas.

“Eu leio cada linha do livro de Luciano Ramos me emocionando e me conectando com a palavra que fez falta na minha infância. Eu sei que muites de vocês vão pensar que essa palavra é ‘racismo’, mas não é: racismo é aquilo que fazem com a gente. A palavra e a lição mais importante que Lu nos traz é: orgulho”, escreve Viviana Santiago, consultora em relações étnico-raciais e de gênero e colunista do Portal Lunetas, no prefácio.

Esse orgulho está expresso não só no texto, mas em cores vivas das imagens que destacam o orgulho de ser quem se é, enaltecendo atributos físicos, como os cabelos e as formas do rosto, e a relação de afetividade compartilhada pela família de Quinzinho que faz questão de resgatar pessoas negras que vieram antes e fizeram história – da música à presidência da república de um dos maiores países do mundo -, mostrando inúmeras possibilidades de meninos pretos e meninas pretas também estarem onde quiser e ocuparem todos os espaços.

No diz 21 de março, Dia Internacional da Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, “Quinzinho” foi alvo de um ataque nas redes sociais após uma leitora pedir boicote ao livro. Ao comentar o ocorrido, o autor Luciano Ramos lembrou que “a escola é o primeiro espaço onde crianças negras vão vivenciar situações de racismo no início de suas infâncias”, e reforçou que, além da mensagem empoderadora para as crianças negras, o livro é também “um convite às famílias e crianças brancas para a prática do antirracismo”.


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