Embora muitas pessoas associem as vacinas à primeira infância, crianças mais velhas também precisam de imunização. Prova disso é a atual busca ativa da prefeitura de São Paulo por meninos e meninas de 10 a 14 anos para atualizar a vacinação contra a dengue neste período de retorno às aulas. Mas, a questão principal de manter as vacinas em dia após a pré-adolescência é a queda da chamada “memória imunológica”, que acontece ao longo dos anos. “À medida que as crianças crescem, elas continuam expostas a diferentes doenças, algumas das quais podem ser prevenidas por vacinas”, explica a imunologista e pneumologista Larissa Cau Carlet.
“Após os 10 anos, é normal que a imunidade conferida por algumas vacinas diminua com o tempo.”
A médica esclarece que a vacina é eficiente justamente porque cria essa memória imunológica. Porém, ela não dura para sempre e, por isso, a necessidade de reforçar. Um exemplo é a proteção contra o tétano, difteria e coqueluche, que precisa de doses de reforço em idades específicas.
Diagnóstico em adolescentes podem ser mais difíceis
Sem atualização, existe o risco de alta da doença, como ocorreu recentemente com a coqueluche. Até novembro de 2024, o Ministério da Saúde notificou 3.253 casos da doença, o que levou a ser o ano com mais ocorrências desde 2014.
A jornalista Marina* viveu esse conflito com o filho de 15 anos. Ela conta que passou por três ou quatro médicos até descobrir que ele estava com coqueluche. “A gente chegava e imitava como era a tosse, que é a principal característica da doença. Mesmo assim, foi bem difícil conseguir o diagnóstico”, diz.
Apesar de vacinado quando bebê, o adolescente passou pela queda na imunização. Marina acredita que muitos profissionais têm dificuldade de lidar com essa faixa etária, já que o adolescente está numa espécie de limbo: não é nem adulto, nem criança. “Seria bom se o governo pudesse recolocar essa vacina para os pré-adolescentes e adolescentes no calendário do SUS”, defende a mãe.
Atualmente, a vacina tríplice bacteriana, que protege do tétano, difteria e coqueluche, está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) para as crianças menores de cinco anos. Isso porque são o grupo de risco para casos mais graves da doença. Depois, as pessoas recebem a vacina contra tétano e difteria a cada 10 anos, mas sem a imunização contra a coqueluche.
A justificativa oficial para essa prática é que a imunização completa, quando criança, permite que casos de coqueluche não sejam tão graves. Embora a Organização Mundial de Saúde (OMS) tenha recomendações a respeito do calendário de imunizações, cada país tem liberdade para montar seu próprio cronograma.
Quais as vacinas que as crianças com dez anos ou mais devem tomar?
Diante desse cenário, é comum que as famílias fiquem em dúvida sobre quais vacinas ainda são necessárias após os dez anos de idade. A imunologista Larissa Cau Carlet explica o que é recomendado, atualmente, pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI):
- Reforço da dT (difteria e tétano) ou DTPa (difteria, tétano e coqueluche);
- Vacina contra HPV (para meninas e meninos de 9 a 19 anos, dependendo do esquema);
- Vacina meningocócica ACWY ou B, dependendo da região ou recomendação médica;
- Vacina contra Hepatite A e B (caso o esquema não tenha sido completo na infância);
- Vacina contra gripe (Influenza) anualmente;
- Vacinas contra COVID-19;
- Vacinas tetraviral (sarampo, caxumba, rubéola, varicela) e tríplice viral (sarampo, caxumba, rubéola);
- Algumas vacinas adicionais podem ser indicadas para crianças e adolescentes com condições específicas de saúde em situações de surtos regionais.
Atenção à caderneta de saúde
Após os 10 anos, a criança recebe outra caderneta de vacinação, agora com orientações e cuidados sobre as mudanças para a adolescência. A imunologista ressalta a necessidade da família continuar acompanhando este novo documento, de acordo com o calendário do PNI. Além disso, em caso de dúvidas, basta uma visita ao posto de saúde do SUS ou a um centro de vacinação particular.
Caso a caderneta esteja incompleta ou perdida, o médico ou o posto de saúde podem orientar sobre as vacinas recomendadas de acordo com a faixa etária. “Geralmente, não é necessário realizar testes laboratoriais para avaliar a imunidade e a vacinação pendente é simplesmente atualizada”, explica Larissa.
Como identificar se está faltando algum imunizante?
Mesmo com as consultas e vacinas em dia, as famílias devem observar os sinais que podem indicar algum problema relacionado a uma baixa na imunização. “Quando há uma queda da imunidade, com sinais de infecções de repetição, é preciso ir a um imunologista”, sugere a imunologista.
Dependendo do tipo de falha imunológica e riscos de infecções envolvidas, pode ser necessário um reforço vacinal “ou até mesmo a aplicação de outros tipos de vacina, não comuns à população geral, como antipneumocócicas e antivaricela-zoster”, explica.
“É importante lembrar que a vacinação é uma das ferramentas mais eficazes para proteger a saúde individual e coletiva”, alerta Larissa. Portanto, manter o calendário vacinal atualizado ajuda a prevenir doenças graves e reduz a circulação de vírus e bactérias na comunidade.
Outro ponto é que as vacinas valem para todas as fases da vida, incluindo adolescência, idade adulta e, especialmente, a população idosa, que sofre uma queda natural da imunidade. Por isso, sempre que houver dúvidas, as famílias devem procurar orientação médica ou um posto de saúde. “A vacinação é um ato de amor e cuidado”, resume a imunologista.
* Nome alterado para preservar a identidade da entrevistada.