Toda semana, crianças da EMEI Armando de Arruda Pereira saem com seus triciclos para explorar os entorno da praça da República e exercer o direito à cidade
O projeto “Motoca na praça” tem o objetivo de incentivar as crianças a ocuparem a cidade. Com seus triciclos, elas saem semanalmente para explorar a praça da República e os aparelhos culturais do entorno, conhecendo trabalhadores e moradores da região.
Quem frequenta ou já ouviu falar na Praça da República, no centro da cidade de São Paulo, possivelmente associa o espaço à circulação de pessoas apressadas em torno do metrô, onda de assaltos de celulares e moradores em situação de rua. Mas, de 2019 para cá, dezenas de perninhas em suas motocas coloridas disparam na contramão dessa imagem construída: é o projeto “Motoca na praça”, desenvolvido pela EMEI Armando de Arruda Pereira, que atende cerca de 300 crianças.
“Queríamos que as pessoas enxergassem que ali existe uma escola, com crianças pequenas”, diz a professora Lívia Arruda, que iniciou o projeto com as turmas. Além de uma oportunidade de ocupação de um espaço público associado ao medo, segundo ela, a iniciativa também tem o objetivo de criar vínculos afetivos com a região, já que boa parte das famílias atendidas pela escola são imigrantes e migrantes de outras regiões do Brasil.
Primeiro, as crianças aprendem a andar de motoca dentro da escola. Depois, quando se sentem seguras, começam o trajeto em grupo. O projeto se soma a outras iniciativas da EMEI, que buscam interagir com a população ao redor, incentivando as crianças a se livrarem de estigmas e conhecerem a história de quem trabalha e vive por ali, sejam catadores, garis, policiais e moradores. Nessa troca, elas saem com desenhos e flores nas mãos e são convidadas a entregá-las, caso queiram. No frio, elas também ajudam os professores a servirem chá quente na praça.
“Quando as crianças saem nas ruas, elas humanizam o espaço”
Com essa ampliação do território das brincadeiras, o sinal verde se abriu definitivamente para o grupo, e outras turmas da escola passaram a aderir ao projeto. Hoje, Lívia lidera pedaladas com aproximadamente 20 crianças, de duas a três vezes na semana. Em 2022, a rota expandiu seu trajeto e o grupo começou a atravessar a rua. “As pessoas já conhecem o projeto, cuidam e ajudam as crianças a atravessarem. Essa tem sido uma oportunidade de conhecer os espaços culturais do entorno”, conta Lívia.
Para garantir a segurança dos pequenos, eles vestem coletes coloridos e placas, sinalizadas com a descrição do projeto. Lívia também conta com a ajuda de outros professores e auxiliares da escola para acompanhar o grupo. Para ela, o triciclo é mais que um incentivo ao desenvolvimento motor, mas também um objeto pelo qual as crianças se sentem responsáveis e que ajuda a organizar sua atenção durante o passeio, tornando mais difícil a dispersão.
As opções culturais não são poucas: SESC 24 de Maio, Biblioteca Mário de Andrade, Centro Cultural Banco do Brasil, Edifício Copan e Teatro Municipal, entre outras. Algumas delas, acostumadas com o público mais velho, pela primeira vez, dão as boas-vindas às crianças de quatro a cinco anos.
“Nossa intenção não é apenas pedagógica, mas exercer o direito das crianças à cidade”, defende Lívia.
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