‘Precisamos falar sobre cocô no parto’, diz doula

É tão normal que existe até um apetrecho de parto utilizado especificamente para 'pescar' o cocô. Ao contrário do que se pode pensar, não há contaminação

Da redação Publicado em 09.05.2017
Mulher com expressão de dor durante um parto na água. Ela está segurando um chuveirinho nas mãos.

Resumo

"Parto tem cocô. Pouco cocô, muito cocô, algum cocô. Raramente nenhum cocô", diz a doula Kalu Brum, que já acompanhou mais de 350 partos. Nesta matéria, ela comenta o assunto e conta sobre as práticas indicadas (e não indicadas) para lidar com esse tabu 'cocô no parto'.

“Há algo para fazer para evitar o cocô durante o trabalho de parto?” Kalu Gonçalves, doula, jornalista, fotógrafa e criadora do grupo de blogs sobre maternidade Vila Mamífera, respondeu a essa pergunta em seu blog “Olhar Mamífero”. A motivação é a quantidade de mulheres que se preocupa com essa questão, seja por constrangimento, medo ou simplesmente porque desconhecem a normalidade do fato. E a resposta vai de encontro com o entendimento do parto como um movimento natural e fisiológico de todo mamífero.

“Não. O organismo é bem sábio. Quando o trabalho de parto começa geralmente vem acompanhado de um piriri. A gestante acha que foi a feijoada da sogra com laxante ou aquele sanduba do Seu Zé que esqueceu de lavar a mão. Fato é que para muitas gestantes o início do trabalho de parto começa junto com o piriri. Ou o piriri chama as contrações. O organismo começa a se limpar no início e em todo o trabalho de parto”, esclarece a doula Kalu, que já atendeu mais de 350 partos.

Há alguns anos, os obstetras recomendavam que a gestante fizesse lavagem intestinal (ou enema) antes do parto. Segundo Kalu, não é uma prática que deve ser recomendada.

“A lavagem é terrível porque as fezes ficam amolecidas. Aí a mulher, a cada contração, faz cocô. Mesmo que não queira, as fezes escorrem pelas pernas”

As evidencias científicas apontam que a lavagem não diminui de fato as chances de eliminação durante o nascimento, nem a incidência de contaminação fecal durante o parto, enquanto que muitas vezes causa dor e angústia considerável para a mãe em trabalho de parto.

Cocô no parto: o constrangimento

De acordo com Kalu, que se apaixonou pela doulagem logo depois de ter seu filho, “os profissionais de parto humanizado adoram cocô”. E explica o porquê.

“Em muitos partos não há exames de toque. Quando a mulher começa, durante a contração, eliminar fezes, é a certeza de que o bebê está a um passo de coroar. Ou seja todos comemoram o bendito cocô”

Mesmo na banheira, a água não fica contaminada. Além disso, um dos apetrechos que faz parte da bolsa da doula (e da parteira) é uma peneira (daquelas para coar suco) usada para ‘pescar’ o cocô .

“Em geral, as mulheres estão em um estado tão alterado de consciência que nem percebem que eliminaram fezes”

A maioria das gestantes, por uma certa romantização que envolve o parto, não lida bem com a ideia de que isso possa acontecer.  A doula, que também é fotógrafa de parto, esclarece que o parto envolve uma série de secreções vaginais, eliminação de gazes, xixi e fezes. E que todas as pessoas que lidam diretamente com o parto estão habituadas a tudo isso.

Além disso, no período expulsivo ( quando a cérvix está completamente dilatada e o bebé segue pelo canal de parto, preparando-se para o nascimento), a sensação é muito mais no ânus do que na vagina. “Uma das parturientes que atendi me olhou com uma cara assustada quando o bebê começou a coroar e me disse: Kalu, tá nascendo pelo buraco errado”,

 

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