É tão normal que existe até um apetrecho de parto utilizado especificamente para 'pescar' o cocô. Ao contrário do que se pode pensar, não há contaminação
"Parto tem cocô. Pouco cocô, muito cocô, algum cocô. Raramente nenhum cocô", diz a doula Kalu Brum, que já acompanhou mais de 350 partos. Nesta matéria, ela comenta o assunto e conta sobre as práticas indicadas (e não indicadas) para lidar com esse tabu 'cocô no parto'.
“Há algo para fazer para evitar o cocô durante o trabalho de parto?” Kalu Gonçalves, doula, jornalista, fotógrafa e criadora do grupo de blogs sobre maternidade Vila Mamífera, respondeu a essa pergunta em seu blog “Olhar Mamífero”. A motivação é a quantidade de mulheres que se preocupa com essa questão, seja por constrangimento, medo ou simplesmente porque desconhecem a normalidade do fato. E a resposta vai de encontro com o entendimento do parto como um movimento natural e fisiológico de todo mamífero.
“Não. O organismo é bem sábio. Quando o trabalho de parto começa geralmente vem acompanhado de um piriri. A gestante acha que foi a feijoada da sogra com laxante ou aquele sanduba do Seu Zé que esqueceu de lavar a mão. Fato é que para muitas gestantes o início do trabalho de parto começa junto com o piriri. Ou o piriri chama as contrações. O organismo começa a se limpar no início e em todo o trabalho de parto”, esclarece a doula Kalu, que já atendeu mais de 350 partos.
Há alguns anos, os obstetras recomendavam que a gestante fizesse lavagem intestinal (ou enema) antes do parto. Segundo Kalu, não é uma prática que deve ser recomendada.
“A lavagem é terrível porque as fezes ficam amolecidas. Aí a mulher, a cada contração, faz cocô. Mesmo que não queira, as fezes escorrem pelas pernas”
As evidencias científicas apontam que a lavagem não diminui de fato as chances de eliminação durante o nascimento, nem a incidência de contaminação fecal durante o parto, enquanto que muitas vezes causa dor e angústia considerável para a mãe em trabalho de parto.
De acordo com Kalu, que se apaixonou pela doulagem logo depois de ter seu filho, “os profissionais de parto humanizado adoram cocô”. E explica o porquê.
“Em muitos partos não há exames de toque. Quando a mulher começa, durante a contração, eliminar fezes, é a certeza de que o bebê está a um passo de coroar. Ou seja todos comemoram o bendito cocô”
Mesmo na banheira, a água não fica contaminada. Além disso, um dos apetrechos que faz parte da bolsa da doula (e da parteira) é uma peneira (daquelas para coar suco) usada para ‘pescar’ o cocô .
“Em geral, as mulheres estão em um estado tão alterado de consciência que nem percebem que eliminaram fezes”
A maioria das gestantes, por uma certa romantização que envolve o parto, não lida bem com a ideia de que isso possa acontecer. A doula, que também é fotógrafa de parto, esclarece que o parto envolve uma série de secreções vaginais, eliminação de gazes, xixi e fezes. E que todas as pessoas que lidam diretamente com o parto estão habituadas a tudo isso.
Além disso, no período expulsivo ( quando a cérvix está completamente dilatada e o bebé segue pelo canal de parto, preparando-se para o nascimento), a sensação é muito mais no ânus do que na vagina. “Uma das parturientes que atendi me olhou com uma cara assustada quando o bebê começou a coroar e me disse: Kalu, tá nascendo pelo buraco errado”,
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