Paternidade que transforma e uma nova educação para a igualdade

É fundamental que os homens estejam cada vez mais dispostos a questionar o modelo tradicional de masculinidade

Da redação Publicado em 10.08.2016

Resumo

Não é difícil entender a importância da participação ativa dos homens nos cuidados de seus filhos quando lembramos que crianças aprendem pelo exemplo.

Quando o pequeno Arthur, de 4 anos, perguntou à sua mãe por qual razão as bonecas só falavam “mamãe”, ela ficou sem palavras. “Quer dizer que os pais não fazem nada? Os pais não dão comida? Não levam elas [as bonecas] pra cama ou dão carinho?”, completou o menino.

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A mãe, Ligiane Ramos Severiano, compartilhou um post no Fecebook relatando o caso, e a história viralizou.

A pergunta inocente do menino é pano de fundo para uma questão muito mais complexa -do que as bonecas- e urgente: quais os impactos de uma criação pautada por preconceitos e estereótipos de gênero no desenvolvimento infantil?

Não é difícil entender a importância da participação ativa dos homens nos cuidados de seus filhos quando lembramos que crianças aprendem pelo exemplo e experiências vividas ao longo de sua vida. Sim, a família é a maior fonte de referências de comportamento de uma criança.

“É fundamental que os homens estejam cada vez mais dispostos a questionar o modelo tradicional de masculinidade”,

Então, quando pensamos em pais participativos, que dividem os cuidados dos filhos e da casa com as mães, estamos pensando em criar crianças livres de preconceitos e estereótipos -datados, é verdade, mas ainda muito presentes- de gênero.

“A tendência é que uma criança que vê dentro de casa um homem que também é cuidador, que divide tarefas domésticas, seja um adulto mais equitativo também. Da mesma forma que, se a criança aprende que os seus conflitos são mediados pela violência, ela vai agir de forma violenta”, disse Marco Aurélio Martins, do Instituto Promundo.

Nesse sentido, a Escola do Ser, em Goiás, criou o projeto “Paternidade Participativa”. Nele, meninas e meninos de 6 a 14 anos são convidados a fazer uma imersão na rotina de cuidados de uma família com crianças pequenas.

Carolina Acari, a diretora da escola, acredita que é importante que as famílias incentivem esse tipo de projeto. “É muito legal poder passar esse recado e pedir que os pais deixem os meninos terem esse contato com bonecas e bebês, pois isso vai aguçar a sensibilidade e a gente precisa disso na nossa sociedade, pessoas empáticas, sensíveis, e aí a gente vai chegar a um mundo mais igualitário, mais gentil e de respeito”.

A presença e a licença

Educar para a igualdade ainda é uma tarefa complicada para as famílias, a começar pelas políticas públicas do país. Atualmente, no Brasil, os pais que trabalham em empresas participantes do programa Empresa Cidadã têm direito a 20 dias de licença-paternidade, aqueles cujas empresas empregadoras não participam do programa, apenas 5.

Para se ter uma ideia, na Suécia, a licença é parental, ou seja, são 480 dias de licença para o casal, sendo que cada um é obrigado a tirar pelo menos 60 dias, e o restante dividir como quiser.

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Martin Gagner, 35, administrador: “Sinto culpa por não ter ficado em casa com a Matilda (primeira filha) tanto quanto agora com o Valdemar (caçula). Tenho medo que isso enfraqueça nossa relação no futuro.”

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Göran Sevelin, 27, estudante: “Ao ficar em casa, tenho mais tempo para me conectar com minha filha e isso é muito importante para nosso futuro juntos.”

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Marcus Pranter, 29, comerciante de vinhos: “Minha parceira e eu somos igualmente responsáveis por colocar nosso filho no mundo, então dividimos a responsabilidade de criá-lo.”

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Andreas Bergström, 39, oficial de justiça: “Meus filhos confiam tanto em mim quanto na mãe. Saber que posso confortá-los é algo importante para mim.”

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Tjeerd van Waijenburg, 34, desenvolvedor de produtos: Fui encorajado no trabalho a tirar licença-paternidade, o que foi bom. É uma pena que pais de outros países não tenham essa vantagem como na Suécia.”

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Ola Larsson, 41, comprador: “É uma verdadeira dádiva poder criar laços emocionais tão fortes com os filhos.”

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Samad Kohigoltapeh, 32, engenheiro civil: “Acho que é importante para os filhos terem a presença do pai desde cedo em suas vidas.”

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Loui Kuhlau, 28, artista: “Se eu não tivesse a oportunidade de ficar em casa com nosso filho por quase um ano, eu provavelmente não teria o conhecido tão bem e entendido suas necessidades.”

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Urban North, 32, consultor de infraestrutura: “Minha mulher e eu tentamos ser o mais igual possível em nossa vida diária.”

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Johan Ekengård, 38, desenvolvedor de produtos: “Ganhei confiança como pai, consegui entender melhor minha parceira e criei laços mais fortes com meus filhos.”

“O desafio deste século deve ser construir um novo modelo social mais democrático, justo e igualitário, e para isso, é fundamental que os homens estejam cada vez mais dispostos a questionar o modelo tradicional de masculinidade, a renunciar aos privilégios que recebem do sistema patriarcal, a se libertar do peso de uma masculinidade mal entendida e a se comprometer, junto com as mulheres, de maneira ativa, na realização de um mundo melhor para todas as pessoas, que permita melhorar as possibilidades do desenvolvimento humano”, disse Ritxar Bacete, antropólogo especialista em gênero, em entrevista ao jornal El País.

*Este conteúdo foi produzido pelo extinto Catraquinha em agosto de 2016, em parceria com a Huggies. Em maio de 2018, o Catraquinha migrou para o Lunetas.

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