O projeto Crianças na Rede, da Rede Nacional Primeira Infância, ouviu as crianças para saber o que elas entendem como direito básico de todo ser humano
Ouvir as crianças é muito potente para entender o mundo. Para elas, os pais são 'os protetores da criança'. Todo mundo precisa de comida, senão "fica branco, amarelo e roxo". "E a família que não faz nada junto, fica triste”.
Será que ouvimos as crianças como deveríamos? Mesmo quando o foco são as decisões que terão impacto sobretudo na vida delas, damos a oportunidade de fala? A Rede Nacional Primeira Infância concluiu que não e, para virar esse quadro, decidiu incluir os pequenos da roda de discussão.
Assim nasceu o projeto Crianças na Rede, publicado em 2010. Pela primeira vez no Brasil um plano que diz respeito às crianças considerou o ponto de vista delas.
O Plano Nacional pela Primeira Infância contribui para a concepção das políticas públicas relativas aos cuidados e à educação das crianças pequenas, de zero a seis anos. Envolve não apenas a educação infantil, mas tudo aquilo de que elas precisam para crescer saudáveis, seguras e capazes de aprender: saúde, nutrição, vida em família e em comunidade.
E para se comunicar com as criança não basta ter uma sala com cadeiras em círculo, certo? Isso é coisa de adulto. Por isso, o jeito de ouvi-las é brincando. E nem apenas as palavras dizem tudo, mas os gestos, desenhos, olhares, sorrisos ou não sorrisos. Tudo é informação.
“O mais surpreendente foi perceber a clareza com que as crianças elegeram suas prioridades. Bons pais, antes de tudo, ‘os protetores da criança’, nas palavras delas. Depois, casa e comida, que ‘sem casa vai morar embaixo da ponte’, e sem comida ‘fica doente e acaba no hospital’. Além disso, uma boa escola, em que brincar e aprender aconteçam simultaneamente, e um hospital alegre, pois ‘brincando a gente sara mais depressa'”, diz a a apresentação do documento.
“Sem casa vai morar embaixo da ponte’, e sem comida ‘fica doente e acaba no hospital”
A leitura do conteúdo é importante não apenas para responsáveis por leis e políticas públicas, mas também por mães, pais e cuidadores. As crianças falaram sobre suas necessidades e sobre o que não podem ficar sem em primeira pessoa.
“Quando se fala na criança sujeito de direitos, fala-se de todos os direitos garantidos à pessoa, entre eles o direito de participar e expressar sua opinião livremente”
“Além disso, o direito de buscar, receber e transmitir ideias e informações; direito à liberdade de pensamento e de crenças, sempre considerando a idade, maturidade e o estágio de desenvolvimento da criança”, afirma outro trecho.
Segundo o estudo, o Brasil tem mais de 23 milhões de crianças com até seis anos de idade, com diversidade de repertórios, costumes e condições de vida que se poderia falar em muitos Brasis. Não foi possível abranger todos eles nesta primeira vez.
A mostra da pesquisa contou com 95 crianças, de cinco e seis anos, das cinco regiões do Brasil: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul, que, no conjunto, representam um pouco da diversidade brasileira. As crianças foram selecionadas por empresa especializada em recrutamento e pesquisa, equilibrando crianças
Houve o cuidado de mesclar os perfis de cada uma delas, garantindo ouvir usuárias de serviços de saúde e educação da rede pública e privada, nas classes AB e CD. Ao todo, formaram-se 16 grupos, com média de seis participantes, em nove capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Brasília, Recife, Porto Alegre, Florianópolis, João Pessoa e Manaus.
“As crianças surpreendem: colocaram dois temas que não estavam nas prioridades da pesquisa e estão entre as necessidades mais básicas e, portanto, mais legítimas do ser humano: comida e casa”
“As crianças revelam, em cores e em uníssono, que sabem exatamente o que não podem ficar sem: criança não pode ficar sem comer e sem beber. E não pode ficar sem casa. Isso veio livremente de todas as crianças”, contou a pesquisadora Fátima Belo.
Veja abaixo algumas frases das crianças e, para ler o conteúdo completo, clique aqui.
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