O primeiro brinquedo do bebê: conheça a potência do tecido de poá

Confira a conversa com a pediatra francesa Isabelle Deligne, formadora na Abordagem Pikler de desenvolvimento de crianças na primeiríssima infância

Da redação Publicado em 22.01.2020
Imagem em preto e branco de um bebê sentado com as pernas cruzadas sorrindo
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Resumo

“Brinquedos não devem vir com manual de instruções”, é o que sugere a abordagem Pikler. O primeiro brinquedo do bebê deve proporcionar à criança um brincar livre, por sua própria iniciativa.

Um pequeno lenço, leve, macio e de fácil manuseio é o ideal para ser o primeiro brinquedo do bebê.  “A estampa vermelha de bolinha branca (muito comum na Hungria), desperta interesse do bebê pelo fato de ter poucas cores e as bolinhas convidam a criança a focar o olhar”, explica ao Lunetas a pediatra francesa Isabelle Deligne, formadora na Abordagem Pikler de desenvolvimento de crianças na primeiríssima infância.

Além disso,  o tecido de poá também não impede a movimentação dos dedos, palma das mãos e punhos. Com um tamanho de 35×35 cm, o tecido permite que o bebê agarre e explore com autonomia o objeto de brincar sem se machucar.

“O brinquedo não precisa vir com ‘manual de instrução”

O experimentar do bebê e o primeiro brinquedo

“É de extrema importância que sejam oferecidos objetos que possibilitem a liberdade de movimentos, a exploração e a experimentação sensorial”, é o que defende a pediatra e a abordagem e Abordagem Pikler. Ela explica que o primeiro brinquedo do bebê deve proporcionar à criança um brincar livre, por sua própria iniciativa, não precisando de orientação ou estimulação direta por parte do adulto.

Na primeiríssima infância, a criança explora o brinquedo de todas formas e jeitos possíveis, esgotando todas suas possibilidades no aqui e agora. Conforme a criança vai crescendo, a brincadeira vai se transformando e se complexificando.

O que desperta a curiosidade da criança costuma coincidir com o seu processo de amadurecimento motor e emocional. “Por exemplo, uma criança pequena que está experimentando brincadeiras de encher, esvaziar potes e cumbucas, na verdade ela está também pesquisando sobre a temática da construção da sua própria identidade e a noção de mundo interno e mundo externo”, aponta Isabelle.

Foto de Isabelle DeligneIsabelle Deligne

Pediatra membro da Association Pikler-Lóczy France e formadora na Abordagem Pikler há mais de 20 anos. Dá cursos e formações relacionados a diversas temáticas que vão ao encontro da primeira infância, entrelaçando aspectos vinculados a motricidade livre, cuidados de qualidade privilegiados e o trabalho continuado com a equipe de profissionais, princípios norteadores da Abordagem Pikler.

Qual é o papel do adulto no brincar dos bebês?

A Abordagem Pikler faz um convite para que o adulto observe e descubra o prazer de acompanhar a brincadeira da criança, sem portanto criar uma noção de dependência ou de estímulo direto. “É preciso que o adulto esteja atento a preparar o espaço de brincadeira de maneira que desperte curiosidade”, conta.

A brincadeira precisa permitir o prazer de exploração autônoma por parte da criança. A médica sugere, ainda, que adulto confie nas capacidades do bebê e da criança pequena de forma que ela se sinta profundamente competente, interessada e interessante.

Para que o bebê pequeno, que não senta, seja capaz de fazer experimentações, em que posição ele deve ser colocado?
É preciso levar em conta que a sensação de equilíbrio é muito importante para o bebê e desperta nele o sentimento de bem estar e tranquilidade.  Assim sendo, a posição deitada de costas, de barriga para cima, numa superfície estável e firme possibilita que ele tenha todas as ferramentas sensório-motoras à sua disposição, pesquisando de corpo inteiro o que lhe desperta interesse e tendo as duas mãos livres para manusear o objeto.

Quando perguntamos o sobre os ambientes coletivos que as as crianças frequentam, a pediatra afirma que o espaço deve ser preparado e pensado de forma a ter vários cantinhos, sendo apresentado de maneira a convidar a espontaneamente a criança a iniciar a brincadeira por conta própria.

“Os brinquedos devem ser apresentados sempre da mesma forma, pois assim a criança  reconhece o ambiente, sentindo-se seguro para fazer suas explorações” propõe. Diz ainda que ter uma variedade dos mesmos brinquedos ameniza a situação de conflitos e disputas.

“O lenço”, de Patricia Auerbach

Você sabe para que serve um lenço? Eu já descobri. Posso contar para você? Uma menina encontra um lenço na gaveta da mãe, e com ele mil possibilidades: o lenço se transforma numa vela, num manto, num vestido e no que mais a imaginação mandar, mostrando que todo objeto cotidiano tem seu lado lúdico.

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