Daphne Ratter, do Unicef, fala sobre o parto como um evento não só biológico, mas também social e familiar. "Toda família engravida junto", diz
Se a primeira impressão que o bebê tem do mundo é a de amorosidade, de uma experiência positiva, ele vai ficar marcado com isso. Daphne Ratter, do Unicef, fala sobre o parto como um evento não só biológico, mas também social e familiar. "Toda família engravida junto".
Começar uma matéria dizendo que ela interessa a todas as pessoas pode parecer conversa de vendedor. Mas é possível justificar esta afirmação. Se as duas únicas certezas que temos são morrer após nascer. Portanto, o vir ao mundo, e tudo que envolve este contexto faz parte da vida de todos nós.
Como parte da parceria do Lunetas com o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), conversamos com Daphne Ratter , que é professora na Universidade de Brasília, para falar sobre alguns benefícios poucos comentados do parto normal.
“Desde a década de 80, tem gente querendo fazer diferente na humanização do nascimento no Brasil”
A revelação é da presidente da ReHuna – Rede pela humanização do parto e nascimento, a médica Daphne Ratter. A ReHuna é uma organização fundada em 1993 para divulgar a assistência e cuidados perinatais com base em evidências científicas.
A mudança de paradigmas com relação ao nascimento de uns anos para cá foi tão brusca que hoje muitas mulheres agendam a cirurgia cesariana, durante o pré-natal, antes mesmo de entrar em trabalho de parto. A OMS Organização Mundial de Saúde) alerta que a cesárea eletiva (com agendamento prévio e sem indicação médica), eleva em 2,7 vezes os riscos de complicação para o bebê. Desde 1958 estabelece-se que apenas 15% dos partos devem ser operatórios.
Por isso, umas das frentes de trabalho da ReHuna é a defesa do exercício profissional humanizado. “Todos os profissionais que costumam ir contra a corrente acabam incomodando de certa forma os que fazem o que não deveria ser feito. A gente não tem poder nenhum, não somos judiciário, mas a gente tenta sempre negociar, conversar, para conseguir reverter algumas situações de perseguição”, diz Daphne.
Daphne comenta que os benefícios de se esperar pelo trabalho de parto espontâneo e passar por ele sem intervenções desnecessárias é vantajoso tanto para a mãe quanto para o bebê. “Muita gente acha que passar pelo canal de parto é um sofrimento. E não é. Muito pelo contrário, pode ser uma experiência muito vantajosa. A parteira alemã Angela Gehrke da Silva dizia que:
A passagem pelo canal de parto é o abraço ‘mais apertado que qualquer pessoa vai receber na vida inteira
Esse “abraço” ajuda eliminar o líquidos dos pulmões do bebê, reduzindo os riscos da doença chamada de pulmão úmido.
“Toda família engravida junto. Todo mundo fica meio grávido esperando a criança que vem”
A médica especialista em epidemiologia também defende que o parto é um evento “muito sexual e sensual” se ele puder ser vivido como tal. E explica: “é a mesma energia, os mesmos hormônios, a mesma amorosidade vivida. A prostaglandina, substância contida no esperma humano, tem mesmo princípio ativo das substâncias que aceleram o trabalho de parto.
“Isso significa que fazer sexo perto da data provável de parto pode ajudar a iniciar o trabalho de parto”
Há também as vantagens subjetivas relacionadas com o parto e nascimento humanizado, como uma experiência que o bebê levará por toda a vida.
“Se a primeira impressão que o bebê tem do mundo é uma impressão de amorosidade, uma experiência positiva, ele fica marcado com isso. Vai ficar com a mensagem de que o mundo externo é um mundo amoroso. Porém, se ele nasce num meio de violência, ele vai acionar a adrenalina.
“A mensagem que ficará é a de que esse mundo é um lugar hostil , do qual ele precisa se defender”
Os médicos Daphne e Ricardo Herbert Jones descreveram algumas vantagens do parto normal com assistência humanizada que são poucos conhecidas.
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