Mais do que presentes, o que as mães querem é ter seus direitos assegurados para proporcionar uma vida livre, saudável e segura para seus filhos
Para marcar este Dia das Mães, comemorado no domingo, 8 de maio, o Lunetas entrevistou mães diversas. Confira os depoimentos.
Por Camila Hungria e Mayara Penina
Para marcar este Dia das Mães, comemorado no domingo, 8 de maio, o Lunetas entrevistou uma mãe adolescente, uma mãe empreendedora, uma mãe negra, uma mãe bissexual, uma mãe adotiva e uma mãe que cria filho com guarda alternada para e refletir sobre os desafios nos quais a maternidade ainda esbarra.
A ideia aqui não é restringir a história dessas mulheres aos seus perfis, mas, sim, de mostrar que as mulheres mães são múltiplas e têm demandas específicas. Mais do que presentes, o que as mães querem é ter seus direitos assegurados para proporcionar uma vida livre, saudável e segura para seus filhos.
Uma coisa é certa: não haverá uma sociedade melhor, enquanto a infância e a maternidade não forem, de fato, uma prioridade.
Confira os depoimentos:
Eu espero que o dia das mães possa ser uma data além de algo comercial. Eu, como mãe jovem, gostaria que o dia das mães fosse uma data para lembrar que nós também somos mães e não ‘crianças cuidando de crianças’.
A sociedade e o Estado precisam tirar de nós, mães jovens, o olhar de irresponsabilidade, o julgamento de que merecemos punição por termos iniciado a maternidade cedo demais. Esse olhar nos impede de retomar a vida. Não há apoio, quase não há medidas legais e políticas públicas para permitir que continuemos na escola e até mesmo possamos frequentar o ensino superior. O preconceito disfarçado de “lição” é doloroso e nos afasta de muitos espaços.
Sofremos mais violência obstétrica pela idade, somos discriminadas em todos os espaços possíveis: na escola, no posto de saúde, no hospital. É necessário que sejamos vistas e ouvidas para sermos respeitadas. Meu presente de dias das mães seria ninguém mais na rua me abordar e perguntar minha idade ou ainda me dizer “uma criança cuidando de outra”.
Cris Matos é artesã e engravidou aos 17 anos. É mãe da Clara de três anos e da Carmen, de um mês.
Eu espero que mais mães sejam percebidas pela sociedade não apenas como um ótimo alvo para a segunda melhor data comercial do país e sim, como uma força de trabalho importante, relevante e que faz a diferença.
Que mais mães sejam contempladas por políticas públicas que protejam e defendam o seu direito de parir, de amamentar, de cuidar com presença. Que mais mães tenham oportunidades de ascensão em suas carreiras e que o fato de terem filhos seja um aspecto que lhes dê mais destaque, confiança e credibilidade. Que mais mães aproximem-se dos seus sonhos e vivam a felicidade que só a vida vivida no presente é capaz de nos oferecer. E, acima de tudo, que como mães e mulheres possamos escolher o que queremos ser e fazer.
Camila Conti, é uma das criadoras da rede Maternativa de mães empreendedoras.
Eu preferiria que essa data não fosse comemorada da maneira como é feita, pois reforça o papel da mulher como central para a criação de uma criança. Isso pode ser muito legal para algumas mulheres, mas para muitas é uma sobrecarga ser sozinha e totalmente responsável pelo que der errado ou certo com um filho. Eu preferiria que as pessoas refletissem sobre o quanto é cruel e egoísta em pleno século XXI que a gente continue reforçando esse lugar para a mulher, de que ela só é plenamente realizada se for mãe, e que, se for mãe, deve abdicar de outros projetos pessoais.
Eu gostaria mesmo que a sociedade entendesse que a criação de novos seres é muito mais coletiva, seja em políticas públicas que garantam amparo e cuidados com os filhos para que a mulher possa ser o que ela quiser além de ser mãe, seja nos julgamentos morais que relegam a mulher a responsabilidade exclusiva de ser mãe.
Essa ideia romântica que se tem sobre a maternidade é mentirosa e opressora, porque as mulheres abdicam de projetos por ausência de estrutura para conciliar maternidade e outras ações.
Nathalia Oliveira é socióloga, mãe do Pedro de três anos, e divide os cuidados com do filho no modelo de guarda alternada.
Adotar foi a melhor coisa que eu fiz, é um exercício de doação e de amor, e eu acho que ele fez mais bem para mim do que eu para ele.
Mas o processo de adoção é muito burocrático. Ficamos na fila por cinco anos. Nesse tempo, a criança cresce, e muitas vezes perde a chance de ganhar uma família. Eu tenho 54 anos, meu marido é 10 anos mais velho. Para nós, o tempo urge.
Quando chegou nossa vez, fizemos uma semana de adaptação e, no dia de buscar, não conseguimos por erro de organização do sistema. Imagine para a criança, que está pronta para ir para sua nova casa, e, no dia, a família não aparece?
As pessoas também são muito indiscretas e más. Mas eu sou descolada, já tenho as respostas na ponta da língua.
Ele é meu filho, é a alegria da casa, e eu não vivo sem ele, e ele não vive sem mim. Depois de 29 anos, é muito diferente voltar a ser mãe, a gente rejuvenesce. Eu escolhi o Antônio, então minha responsabilidade é dobrada, tenho que fazer muito por ele, muito mais. Depois que ele chegou, pesquisamos se ele tinha outros irmãos, mas não achamos nada. Se ele tivesse, eu adotaria também, por ele.
Eliana de Figueiredo, tem 54 anos é mãe do Antônio, de três anos e da Renata, de 31.
Manoela Gonçalves
Se me perguntarem como eu me defino, não dá para dizer, porque eu sou tanta coisa, sou estilista, costureira e jardineira e eu sei fazer tudo isso justamente pelo fato de ser mãe e mãe solteira, (que eu prefiro chamar de autônoma).
Mas, antes de tudo, sou uma mãe negra e da periferia.
Os desafios começam desde que as crianças nascem, desde a gestação do Manolo, eu percebi que não há apoio para as mães autônomas, que não são ouvidas: É a licença maternidade com pouco tempo, é o horário de trabalho que não condiz com a vida materna até a falta de apoio psicológico para cuidar de uma criança sozinha. E a falta de apoio paterno, não diz respeito apenas a falta da pensão ou do plano de saúde, é não haver divisão de cuidados que nos impedem de várias coisas. Eu por exemplo, estou há sete anos querendo voltar a estudar, mas o pai do meu filho, não fica com ele. Neste dia das mães, vou juntar mais três amigas mães e tirar um dia de folga, ficar juntas e esquecer este dia comercial.
Manoela Gonçalves é fundadora da Casa das Crioulas, espaço para mães autônomas e mãe do Manolo de sete anos.
Gostaria que as mães solo fossem respeitadas, por que é muito julgamento. Mãe solteira, infelizmente, é vista como uma mulher “largada”. Quando eu estava grávida e ia nas sessões de pré-natal sozinha, por exemplo, não tinha uma pessoa que não ficasse me olhando com cara de “nossa, tadinha, grávida, solteira, sozinha aqui”. Foi escolha minha! Entende? Tanto é que acabei voltando com o pai do Pietro, noivamos, aí ele ia comigo no medico e ninguém mais olhava.
Nunca sofri preconceito direto e acredito que o Pietro não tem real proporção do que é a minha sexualidade. Não imponho nada, é tudo muito natural com ele.
Eu tento dar noções básicas de que algumas meninas gostam de meninas, não quero um filho alienado ou preconceituoso.
Carolina Cinti, tem 31 anos, é bissexual e mãe do Pietro, de seis anos.
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