"A gente é corpo e percebe a vida e as coisas primeiramente pelo corpo. O desenvolvimento também está ligado ao movimento", diz a coreógrafa Georgia Lengos
A segunda roda de conversa da Ciranda de Filmes reuniu artistas-educadores para um bate-papo sensível sobre o papel da arte como mestre na infância.
O que a arte nos ensina? Como ela nos inspira? Em que lugar coloca o espectador? A segunda roda de conversa da Ciranda de Filmes reuniu artistas-educadores para um bate papo sensível sobre o papel da arte como mestre na infância.
Com mediação da jornalista especializada em produção cultural para a infância, Gabriela Romeu, a roda contou com a presença de Claudio Feijó, pedagogo, psicólogo clínico e fotógrafo; Georgia Lengos, coreógrafa, bailarina e fundadora da Balangandança Cia de Dança; e Teca Alencar de Brito, educadora musical.
Claudio Feijó, que atualmente trabalha ministrando oficinas de “descondicionamento do olhar” apontou o papel da ignorância como mestre. Para ele, os hábitos e a repetição provocam expectativas limitantes. O nosso olhar sobre nós mesmos, o que os outros têm sobre nós e o que temos do mundo se somam e criam um universo de diferentes interpretações e camadas.
“O que aprendemos com os nossos pais dentro do nosso cotidiano tem arte. Meu pai é grego, eu lembro dos gestos e dele dançando nas festas”, lembrou Georgia. A coreógrafa e dançarina trouxe para a conversa sua percepção de dança e como essa forma de expressão artística está presente em todos os momentos de nossas vidas.
“O movimento e a emoção estão ligados. O tônus da mãe carregando um bebê traz uma comunicação além da palavra, que tem a ver com o corpo da mãe e a transmissão de afeto que acontece pelo tônus do corpo”, diz Georgia.
“A dança para mim é como a brincadeira. Ela existe enquanto experiência dentro de nós, independente de a gente querer, ou não”
“Eu diria que todo ser humano dança. Independente do estilo de dança, época ou função, temos algo em comum: na dança, o corpo e o movimento são os principais veículos de comunicação. Corpo e movimento no espaço e tempo. Desde o início de nossas vidas, somos movimento”, defende a coreógrafa.
Como podemos falar da criança de movimento, se estamos longe do nosso próprio corpo? Como podemos falar de escuta, se escutamos tao pouco nosso próprio corpo?
Em sua pesquisa, na Cia Balagandança, Georgia investiga a brincadeira da criança enquanto linguagem de expressão para a dança.
“Observar as crianças brincando era ver o corpo que eu queria como bailarina, um corpo disponível, livre, que assumia risco e encontrava soluções”
“Qual é a dança da criança? Na natureza a criança se reconhece. E reconhece o sentido de ser vivo. Falta pensar na gente como movimento, como natureza. Todos os elementos que estão na natureza estão na gente, a gente é isso. Para mim, a dança é uma forma de estar no mundo”, afirma.
“Eu faço musica junto com as crianças, eu entro no jogo de fazer musica com as crianças. Não digo que sou professora, ou educadora musical”, explicou Teca. A musicista trouxe para a roda de conversa o fazer música pelo olhar da criança, como um jogo onde não há regras, mas sim uma construção”, explica Georgia.
“Música é som, silêncio e movimento. A ligação que existe entre escutar, se mover, traduzir em som é fazer música. As crianças estão em movimento. A musica das crianças é uma construção. A musicalidade se expressa de muitas maneiras”.
“A forma das crianças se relacionarem com a musica não envolve precisão. O jogo musical da criança é um mergulho na exploração”
Fazendo e aprendendo música, transformando as experiências. Movimento sempre propõe musicalidade. E vida é movimento. Somos seres imagéticos. A palavra está ligada à imagem, e a imagem ao movimento”, conclui.
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