Pinheiros x Pari: os piores lugares para ser criança em São Paulo

Em Pari, na zona leste de São Paulo, os números chegam a 27 mortes para mil crianças

Da redação Publicado em 07.12.2017
Pai com filha bebê no colo em favela

Resumo

O Mapa da Desigualdade revela quais são os lugares mais críticos da cidade para o desenvolvimento da infância. Em Pari, na zona leste, uma criança tem 17 vezes mais chance de morrer antes de completar os cinco anos que em Pinheiros, bairro de alto poder aquisitivo.

Foi lançado esta semana, em São Paulo, o Mapa da Desigualdade da Primeira Infância e o Observatório da Primeira Infância. Trata-se de uma nova plataforma digital criada com o objetivo de oferecer um retrato da situação das crianças paulistanas de zero a seis anos, a partir de 130 indicadores sociais e econômicos – dentre eles, desnutrição infantil crônica, número de leitos hospitalares pediátricos, negligência e abandono.

As informações ajudam a repensar os pontos críticos em relação à infância, e interessam não só a pesquisadores do assunto, mas aos cidadãos em geral. A iniciativa é da Rede Nossa São Paulo, em conjunto com a Fundação Bernard van Leer.

O cenário é alarmante: principalmente na primeira infância, a desigualdade social é responsável por impactos extremamente nocivos ao desenvolvimento do indivíduo.

Para esse estudo, foram avaliados os 96 distritos da cidade de São Paulo. Interativo, o mapa permite comparar até cinco indicativos por distrito, a fim de ter um panorama de como estão as condições de questões específicas, como por exemplo o índice de cesáreas nas redes públicas e privada por região da cidade.

A infância corre perigo

Um dos pontos mais preocupantes do estudo é a taxa de mortalidade infantil até os cinco anos. O mapa reforça a relação existente entre o acesso a condições adequadas de saúde, segurança e mortalidade.

Em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, o índice de mortalidade é de 1,59 para cada mil crianças. Do outro lado da cidade, em Pari, na zona leste, os números chegam a 27 mortes para mil crianças. Isso significa que há 17 vezes mais probabilidade de uma criança morrer antes de completar cinco anos de vida em Pari do que em Pinheiros.

O cenário destoa sobremaneira das diretrizes da ONU, que, nos Objetivos do Milênio, estipulou uma taxa máxima de mortalidade de 18 mortes para cada mil crianças brasileiras, considerando o ano de 2015.

Conversa de gente grande “Uma cidade acolhedora para crianças é uma cidade melhor para todas as pessoas. É um lugar em que as gestantes fazem pré-natal regularmente e os bebês nascem no peso adequado. Onde jovens com menos de 19 anos não precisam abandonar os estudos por causa de uma gravidez precoce. É uma cidade onde as violências doméstica e sexual não fazem parte da relação entre pais e filhos.”

(Texto de abertura do Mapa da Desigualdade da Primeira Infância, 2017)

Segundo os organizadores do projeto, os dados devem funcionar para traçar planos de ação a fim de redirecionar as prioridades do investimento da verba pública. Para Jorge Abrahão, a profunda desigualdade que a análise reforça é resultado da concentração de políticas públicas em regiões da cidade já favorecidas socialmente.

O Mapa da Desigualdade da Primeira Infância traz também uma lista dos 26 piores distritos para ser criança em São Paulo; ou seja, distritos onde há potencialmente um maior risco de as crianças terem seus direitos desrespeitados. Grajaú, extrema zona sul de São Paulo, saiu na frente como pior lugar, ao lado de Jardim Ângela, Cidade Ademar, Parelheiros, Cachoeirinha, Brasilândia, Tremembé, entre outros.

Quanto às regiões com maior desigualdade social, lideram a Sé, o Morumbi e o Ipiranga, ao lado de Vila Maria, Vila Andrade, Vila Leopoldina, Vila Guilherme, Lapa, Campo Belo e Bom Retiro – todos esses distritos têm mais de 11% de suas crianças em situação de vulnerabilidade social.

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iStock

Um dos pontos mais preocupantes do estudo é a taxa de mortalidade infantil até os cinco anos.

Como nascem as crianças em São Paulo

Uma questão fundamental para compor um panorama geral da infância é a forma como as crianças chegam ao mundo. Há marcas de violência ou de acolhimento? As escolhas das mulheres e famílias são respeitadas ou colocadas em xeque em detrimento de protocolos hospitalares abusivos?

O Mapa da Desigualdade traz dados sobre partos cesáreos em São Paulo, em comparação com o índice de partos normais. Utilizando como parâmetro informações de Secretaria Municipal de Saúde, do SIM (sistema de Informação sobre Mortalidade) e do Sinasc (Sistema de Informações de Nascidos Vivos) de 2016, a análise revela que a Vila Mariana, com 71,09%, tem o maior índice de cesáreas em relação ao número total de partos realizados no mesmo período e região. Já a Cidade Tiradentes é o que apresenta o menor número, com 38,95%.

Para acessar o material completo, conhecer os demais dados do Mapa da Desigualdade e ajudar a fomentar essa importante reflexão sobre infância na cidade, clique aqui. Para navegar no Observatório da Primeira Infância, clique aqui.

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