‘Manolito, assim o chamamos’: um livro sobre pertencer

Com humor, o argentino Gustavo Roldán levanta reflexões sobre pertencimento, limites e identidade, possibilitando às crianças muitas camadas de leitura

Renata Rossi Publicado em 04.08.2022
Imagem do miolo do livro Manolito, assim o chamamos em que o personagem do bicho peludo preto está em frente à casa pequena e vermelha em que decide morar. Dentro da casinha, há uma pessoa pequena. Acima da dupla, um sol desenhado
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Resumo

“Manolito, assim o chamamos” nos convida de forma bem-humorada a refletir sobre temas como autoimagem, individualidade, a forma como nos relacionamos e pertencimento.

“O problema com o bicho Manolito é que ele não sabe que não é gente”, pontua o início desta intrigante narrativa. Por não saber que não é gente, ele decide que vai viver entre as pessoas, quer elas queiram, quer não. Planta-se na porta da casa e diz que quer entrar. Sua entrada não é permitida e os vários argumentos para explicar por que Manolito não pode entrar parecem não o convencer.

Cheio do humor e da doçura tão peculiares à obra do argentino Gustavo Roldán, o livro “Manolito, assim o chamamos” levanta questões para as quais não há respostas simples ou diretas. Por isso, ao longo da história, é difícil definir de que lado estamos, para quem estamos “torcendo”.

Capa do livro "Manolito, assim o chamamos". Num fundo branco, um bicho peludo preto

“Manolito, assim o chamamos”, Gustavo Roldán (Livros da Matriz) O livro conta a história de Manolito, um bicho grande e cabeludo, cujo nome foi dado pela família que mora na casa em que ele decide viver. Tudo o que ele quer é entrar e não mede esforços para realizar seu desejo. O autor, argentino, confessa que é uma narrativa autobiográfica, porque uma cidade espanhola fez seus olhos brilharem: “Barcelona tinha me encantado de cabo a rabo. Porém, não é tão fácil. […] Muitas vezes, não se permite que os estrangeiros fiquem em um país por ficar. Mas, eu era — e continuo sendo — muito cabeça-dura. Disse e repeti mil vezes: ‘gosto daqui e, seja como for, eu fico”, nos conta Roldán ao fim do livro. O jogo entre o texto e as concisas ilustrações em preto, verde, laranja e vermelho economizam de forma certeira a atenção do leitor e reforçam o desejo de Manolito de ficar.

Um bicho-gente e muitos questionamentos

Hora com atitudes de bicho, hora de gente, Manolito, por mais estranho que pareça, nos cativa por sua teimosia e insistência. Mas, o que é ele? Uma mistura de elefante com outro animal cabeludo ou será um bicho que ainda não conhecemos? É um problema bicho não saber que é bicho? E querer morar em uma casa como gente? Mas e se essa casa já estiver ocupada? Ele pode entrar sem que os donos permitam? Manolito vai desistir da ideia de viver em uma casa como gente ou enfim realizar seu desejo?

A gente segue pensando em motivos e argumentos para dissuadir o bicho teimoso e grandalhão de querer ficar. Enquanto Manolito segue matutando formas de permanecer ali e fazer parte da vida de uma família que vive numa casa pequenina.

Image

Divulgação

Imagem do miolo do livro “Manolito, assim o chamamos”, de Gustavo Roldán

Entre as tantas perspectivas de leitura para a história de Manolito, chama a atenção a possibilidade de resolver um conflito de forma respeitosa. Se não há espaço — físico e simbólico —, mas existe o desejo genuíno de permanecer, o que pode ser feito?

Distante de moralizar ou mostrar quem está certo ou errado, a narrativa abre espaço para a reflexão, nos convidando de forma bem-humorada a pensar sobre autoimagem e como somos vistos pelos olhos do outro; sobre individualidade e a forma como nos relacionamos; quem chega e quer — ou precisa — ficar. É sobre pertencer.

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