‘ABCDELAS’: livro traz alfabeto ilustrado de mulheres históricas

Na Aviação, na Ciência, na História. As mulheres podem mudar qualquer mundo, inclusive os considerados "masculinos". Conheça "ABCDELAS", de Janaina Tokitaka

Da redação Publicado em 24.04.2019
Ilustração de uma mulher aviadora e outras duas mulheres guerreiras (uma delas negra). Mulheres com olhar de fibra
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Resumo

O livro infantil "ABCDELAS", de Janaina Tokitaka, convida as crianças para um passeio pela trajetória profissional de mulheres transformadoras do mundo todo. Um livro para as crianças conhecerem desde a infância referências femininas de protagonismo e transformação.

Você sabia que muitas áreas de atuação socialmente consideradas masculinas não seriam o que são hoje sem o trabalho das mulheres? Ou melhor: sua criança sabe disso? É o caso da ciência, da programação de computadores, da aviação, e por aí vai. Foi desse desejo de sensibilização sobre como as referências que observamos no dia a dia influenciam na construção do sujeito que nasceu o livro “ABCDELAS”, de autoria da escritora e ilustradora Janaina Tokitaka, lançamento da Companhia das Letrinhas. A literatura infantil pode ser uma janela para uma infância conectada com a diversidade, a igualdade e o respeito.

Representatividade feminina em ABCDELAS

Para apresentar pioneiras de diversas profissões, o livro compõe um abecedário ilustrado do trabalho feminino – e feminista, afinal, no diálogo sobre representatividade da mulher está pressuposta a luta pela igualdade de direitos. O resultado é um divertido acervo afetivo de mulheres que transformaram realidades ao redor do mundo, e uma forma de transmitir às crianças o valor da História que foi escrita antes de nós.

No livro, mulheres como a aviadora Anésia Pinheiro Machado, a bióloga inglesa Margaret Elizabeth Fountaine, e a chef de cozinha francesa Eugénie Brazier ganham cada uma pequena biografia em forma de conto, com linguagem poética e bem-humorada.

Uma mistura de livro informativo com literatura autobiográfica, “ABCDELAS” convida meninas e meninos a reverenciar trajetórias profissionais historicamente invisibilizadas. Se tivermos sorte, as crianças sairão do livro sem ter dúvida nenhuma de que as mulheres mudaram, mudam e ainda mudarão o mundo.

Capa do livro " ABCDELAS", de Janaina Tokitaka,com a ilustração das letras ABCD, e mulheres ao lado das letras
Sobre o livro

A cada letra, o leitor vai conhecer histórias raras e valiosas de mulheres que revolucionaram seus campos de atuação. Foram essas heroínas do dia a dia que contribuíram para que as mulheres de hoje pudessem trabalhar em diferentes áreas, mesmo em profissões que um dia foram consideradas “masculinas”.

Empoderamento feminino é assunto de criança?

“Empoderamento feminino é até mais assunto de criança do que de adulto, porque o poder formativo da infância é imenso. Crianças absorvem tudo ao redor delas” – Janaina Tokitaka.

Por ser indicado para o público infantil – apesar de não encantar somente às crianças – o livro preenche também uma lacuna histórica, que é a da quantidade reduzida de heroínas meninas, em comparação com a de heróis meninos. Ao mostrar mulheres transformadoras em sua área de atuação, a obra mostra às crianças que há outros jeitos de ser menina em uma história, e não só princesa ou mocinha.

Muitas vezes as personagens femininas nos livros infantis só mostram um ideal de feminilidade e eu acho que isso é muito redutor.

A autora chama as referências que os adultos oferecem aos pequenos de “pecinhas de construir identidade”, e resgata sua experiência pessoal ao escrever histórias como essa. “ABCDELAS” não é o primeiro livro de Janaina a se preocupar com a representatividade feminina. O livro “Princesas guerreiras” – leia a matéria do Lunetas sobre – também trazia esse tema. Também escrito e ilustrado por Janaina, o livro “Pode pegar“, que também já apareceu por aqui, trabalha a questão dos papéis “de menina” e “de menino”, e como eles são construídos no nosso imaginário.

“Pensei na minha infância e como teria me sentido melhor se tivesse mais personagens me incentivando a ser independente e forte”

Confira a entrevista com Janaína Tokitaka

Lunetas – Empoderamento feminino é assunto de criança? Por quê? Qual sua opinião sobre o termo em si?
Janaina Tokitaka – Acho que é até mais assunto de criança do que de adulto, porque o poder formativo da infância é imenso. Crianças absorvem tudo ao redor delas. Então acho muito importante que a gente redobre os cuidados no sentido de mostrar para as meninas que elas podem ser o que quiserem: astronautas, químicas, desenhistas. Muitas vezes as personagens femininas nos livros infantis só mostram um ideal de feminilidade e eu acho que isso é muito redutor.

Sobre a palavra “empoderamento”, eu acho a intenção do termo melhor do que o termo em si, porque relações de “poder” não são necessariamente uma utopia em que eu acredito. Acho também que é importante não usar o termo como uma hashtag sem sentido. O que eu entendo por “empoderamento” é ampliar a auto estima, o potencial e abrir os horizontes das meninas e mulheres.

Esse não é o seu primeiro livro nessa temática. No Princesas Guerreiras ele também aparece com força. Conta um pouco como esse assunto dialoga com seus interesses artísticos?
JT – Eu acho que esse interesse partiu da minha experiência com a maternidade. Depois que tive minha filha, comecei a prestar atenção redobrada em como os personagens e narrativas são levados muito a sério pelas crianças. Como tudo ao redor deles, são modelos, pecinhas que eles vão usar para montar suas próprias identidades. Pensei na minha infância e como teria me sentido melhor se tivesse mais personagens me incentivando a ser independente e forte, ou personagens asiáticas em papéis de protagonismo. Então, como escritora, comecei a me preocupar mais. Talvez seja verdade que a maternidade é um eterno “se preocupar”, mas talvez isso não seja uma coisa ruim.

Fiquei curiosa para saber qual critério você usou para escolher uma ou outra profissão. A falta de representatividade feminina em algumas áreas foi uma delas, por exemplo?
JT – Sim! Quis escolher trajetórias e áreas que a gente não imediatamente associa à mulheres, sempre buscando ser inclusiva. A programação de computadores, por exemplo, tem muitas pioneiras e pesquisadoras importantíssimas e no entanto até hoje é uma área em as mulheres sofrem muita discriminação.

“Essa educação para fazer as crianças pararem de ver área x ou y como ‘masculina’ ou ‘feminina’ é muito importante”

O que você gostaria que uma menina pensasse ao ler o “ABCDELAS” e conhecer todas essas personalidades históricas? E um menino?
JT – Gostaria que esse livro funcionasse para elas, como todo bom livro, como uma espécie de janela. Através dessa janela, a leitora vai descobrir muitas possibilidades, muitas maneiras de ser e pensar. Eu gosto muito de biografias e de História no geral porque acho que quando a gente se vê como um ponto em uma linha temporal maior do nós mesmos, isso nos acalma e dá segurança.

Gosto muito de ler as histórias de autoras e ilustradoras que produziram antes de mim, me sinto menos sozinha. E acredito, mesmo, que os meninos vão empatizar e se identificar com as histórias do “ABCDELAS”, mesmo que elas sejam protagonizadas por personagens que não tem o mesmo gênero que eles.

“Para os meninos, é importante que eles tenham várias referências do que é ser uma mulher”

Clique aqui para saber mais sobre o livro.

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