Infâncias plurais: contação de histórias para crianças

Publicado em: 24.08.2021
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Contação de histórias

Quem não gosta de uma história bem contada!? Os projetos que você vai conhecer a seguir apostam no sucesso de uma boa narrativa. Lúdicas, cheias de humor e fantasias, as histórias abordam temas que se relacionam ao universo infantil.

Abaixo você encontrará uma coletânea com 6 vídeos sobre a temática para ver quantas vezes quiser. Divirta-se. Para mais informações sobre o projeto Infâncias Plurais, visite: www.lunetas.com.br/infâncias-plurais.

A bisa precisa ficar em casa

Gustavo Guimarães Gonçalves - São Paulo/SP

A bisa precisa ficar em casa conta a história de uma família de acessórios eletrônicos. O protagonista é Pen, um pen drive filho de uma fita cassete e de um CD e cuja bisavó é uma fita VHS. Quando um vírus infecta parte das mídias, todas ficam  muito preocupadas com a situação. Para proteger sua família e os demais eletrônicos, Pen pensa num aplicativo. Gustavo Guimarães Gonçalves, idealizador do vídeo, destaca que a própria pandemia fez com que o tema viesse à tona: “Achei pertinente para o momento”.

“Brincar com o impossível, como um pen drive que ganha vida, é instigar o mundo fantasioso do universo infantil”, diz. O vídeo conta com recursos de stop-motion, fotografias digitais e efeitos de animação. Para o artista, o maior desafio foi roteirizar uma história extensa em 2 minutos. Animar as bocas das personagens também não foi tarefa fácil.

Gustavo começou a fazer teatro aos 13 anos, na Cia. Paideia, onde assistiu muitas apresentações de obras teatrais voltadas para a infância e a juventude. Depois de estudar teatro de animação, humor e máscaras, começou a trabalhar mais intimamente com o tema da infância ao fundar o grupo Ciclistas Bonequeiros, projeto que leva o teatro de bonecos para crianças que não têm acesso a essas apresentações. Hoje ele também estuda pedagogia. 

https://bit.ly/infancias-plurais-contacao-de-histoiras-a-bisa

De que é feita a lua?

Luana de Souza Cavalcante - Sobradinho/DF

Você já imaginou outras histórias e origens para as coisas? De que é feita a lua? é um convite à imaginação. Ao som do xequerê, questionamentos poéticos vão dando início à criação de uma narrativa alegórica da formação do astro.

Luana de Souza Cavalcante, autora do curta-metragem, é artista visual e aprendiz da pedagogia griô, cujo foco  é a expressão da identidade, o vínculo com a ancestralidade e a celebração do direito à vida, havendo uma grande valorização das histórias e das mitologias pessoais. A partir disso, Luana desenvolveu um interesse pela criação de histórias e refletiu sobre como se daria uma elaboração simbólica e mitológica da origem do astro que tem em seu nome.

O vídeo foi inteiramente realizado por ela. Após escrever o roteiro, buscou imagens que pudessem compor a narrativa, sendo o seu principal desafio a parte mais técnica, de edição. Luana acredita que uma das principais contribuições do trabalho para a discussão do tema da infância não está na narrativa em si, mas na própria produção.

Como mulher com deficiência, ela considera que, no que diz respeito ao debate sobre os direitos do grupo, a representatividade ainda precisa ser discutida com maior profundidade. “Eu cresci sem referências de que pessoas com deficiência poderiam ser o que quisessem. Passei por diversos momentos de questionamento das minhas capacidades […] por isso, entendo esta produção como uma oportunidade para que crianças com deficiências – que geralmente têm as infâncias muito pautadas em diagnósticos médicos e veem suas vidas cerceadas por essa narrativa única – tenham a chance de refletir sobre a potência que elas têm, de fazer o que quiserem e de recontar suas histórias sob diversas perspectivas”.

Foi nesse sentido que se deu a participação da autora na jornada Infâncias plurais, a partir também do desejo de se aprofundar no tema e de experimentar novos formatos de produção artística, como o audiovisual. Como arte-educadora em museus, estudante de pedagogia e integrante de programas educativos, ela busca compreender as infâncias para desenvolver e propor atividades com e para as crianças.

https://bit.ly/infancias-plurais-contacao--de-historias-lua

Histórias da roça - garupa

Tobias Rezende Strogoff de Matos - Campinas/SP

Histórias da roça – garupa é um curta-metragem de animação baseado em uma lenda ouvida na zona rural de Ervália, em Minas Gerais. Na narrativa, um sujeito carrancudo montado em seu cavalo, por ironia do destino, acaba oferecendo garupa para o próprio coisa-ruim.

Tobias Rezende Strogoff de Matos conta que se inspirou nas histórias que ouvia de seus avós durante a sua infância no interior. O vídeo foi produzido também como uma maneira de pensar em modos de preservar, transmitir e salvaguardar elementos de culturas regionais, seus saberes e suas tradições, sujeitos ao esquecimento com a morte de seus detentores.

Sua ênfase foi na construção sonora do vídeo, que deveria remeter a esse universo da roça e aos medos dos que ali habitam. Com a peça sonora editada, foram realizadas a animação das ilustrações e a finalização da produção. Entre os principais desafios, o autor destaca as limitações impostas pela pandemia e o tempo curto para conclusão do vídeo. Ao mesmo tempo, acrescenta: “Compartilhar essa experiência com os colegas que participaram do Infâncias plurais possibilitou encarar as restrições de maneira criativa e motivadora”.

A proposta da jornada ecoou em outros projetos e estudos que Tobias vem desenvolvendo ao longo de sua trajetória profissional, de modo que sua participação possibilitou que colocasse tudo isso em perspectiva, impulsionando-o, diz. O mergulho no tema da infância vem desde o seu primeiro curta-metragem, Coisa-Malu, por meio do qual também realizou oficinas de vídeo com crianças e participou de atividades que o encaminharam para a criação da primeira mostra de cinema infantojuvenil de Ervália, a Recria Cine.

Hoje, “é no terreno da infância que cultivo os meus maiores sonhos”, revela o autor. Para ele, a produção audiovisual tem a missão de criar pontes entre as infâncias, a memória oral e a cultura viva de diferentes territórios e regiões.

https://bit.ly/infancias-plurais-contacao-de-historias-garupa

Monster live

Daniela Fossaluza - Rio de Janeiro/RJ

Já pensou em assistir a uma live reunindo monstros de vários lugares do planeta? De diferentes dimensões, eles poderão se manifestar sem perigo de conflito, cada um no seu quadrado, e com segurança também para quem vai acompanhá-los do conforto do seu lar. Monster live apresenta o lobisomem, a sereia, a medusa, a bruxa, a cabra-cabriola e várias outras criaturas de alta e de baixa monstruosidade. Com humor e música, o vídeo revela os medos de muitas crianças personificados nesses personagens.

Apesar do desconforto, muitas crianças têm necessidade de ver representados seus medos, seus pavores e suas dúvidas por meio do humor, sendo assim possível ressignificar esses sentimentos, acredita Daniela Fossaluza, criadora do vídeo. “Crianças sempre me solicitaram histórias de dar medo ou sobre monstros durante minha trajetória como artista e pesquisadora das infâncias”, conta. Segundo ela, outra motivação para fazer o vídeo foi o fato de seu sobrinho estar internado, o que a fez refletir sobre os medos que as crianças sentem em momentos como esse.

Para a produção, foram utilizados monstros feitos de pano, e as gravações foram feitas com o próprio celular de Daniela. Sua maior dificuldade foi em relação à edição do material, mas sua filha Diana, de 17 anos, conseguiu ajudá-la com os aplicativos que domina: “Foi um alinhavo entre gerações, a arte da costura e da narração que venho praticando há anos com a leveza e o conhecimento audiovisual que minha filha vem exercitando com a produção dos vídeos que ela publica em suas redes sociais”.

Graduada em artes cênicas, ela trabalha com crianças desde a sua formação e atualmente coordena um grupo chamado Costurando Histórias. Sua principal motivação para participar do Infâncias plurais foi a possibilidade de ouvir diferentes profissionais falando sobre infância e trocar experiências.

https://bit.ly/infancias-plurais-contacao-de-historias-monster-live

O menino e o monstro

Ana Elizabeth Japia Mota - Camaragibe/PE

O menino e o monstro conta a história de Luca, um garoto que navega com seu barco em alto-mar à procura de aventuras! Certo dia, ele se depara com uma ilha deserta cheia de caveiras e ossos, e suspeita que por ali exista um monstro… A criatura de mil metros de altura e 4 mil quilos logo aparece, Luca consegue capturá-la e decide vender sua pele. Mas será que é mesmo uma boa ideia? Ao ficar cara a cara com Carantoia, nome que deu ao monstro, o menino lê seus pensamentos e muda o rumo da história.

A narrativa e os desenhos do vídeo foram criados também por Luca, de 8 anos, filho de Ana Elizabeth Japia Mota, idealizadora da produção. “O curta abre espaço para a expressão de uma criança, invertendo a lógica adultocêntrica de quem conta e quem ouve ou vê histórias”, comenta. Para ela, essa é uma das maiores contribuições do trabalho.

“Hoje, minhas criações para o teatro nascem sempre de uma relação dialógica com o universo infantil, abrindo espaço para as expressões das crianças e para as representações da pluralidade das infâncias”, revela Ana, cujo interesse pela infância veio antes mesmo de se tornar arte-educadora e realizadora de teatro. Foi com sua primeira filha que se desenvolveu na contação de histórias, depois passando a adaptar as narrativas para o teatro. Foi nesse contexto que percebeu a capacidade de sua filha de se expressar com palavras e descobriu a criança como grande produtora de cultura.

Os desafios foram muitos, já que a autora nunca havia trabalhado com linguagem audiovisual em stop-motion – técnica escolhida depois de conhecer processos de outros artistas do Infâncias plurais. “Participar da jornada foi um alento para mim em meio à crise vivida como artista de teatro ao longo do primeiro ano de pandemia. O que fazer diante do distanciamento social necessário, se o teatro é a arte do encontro? Descobrir a possibilidade de criação artística na linguagem do audiovisual e ter meu trabalho selecionado foi um verdadeiro presente!”

https://bit.ly/infancias-plurais-contacao-de-historias-menino-e-o-monstro

Pipa pai, pipa filho

Carlos Henrique Morais Reis - Osasco/SP

O que uma pipa pode ensinar? Pipa pai, pipa filho conta a história de pai e filho que costumam soltar pipa na periferia. A brincadeira revela o quão prazeroso e difícil pode ser empinar um simples papagaio. A narrativa propõe uma analogia com a própria vida e os conflitos que a permeiam, além de enfatizar a importância dos vínculos entre pai e filho.

O falecimento do pai de Carlos Henrique Morais Reis trouxe uma enxurrada de memórias afetivas que permeou seu processo criativo. Ao notar que o  céu, antes cheio de pipas, havia se tornado um grande vazio com a pandemia, ele se lembrou de uma história vivida com o pai. “Trabalhar com essa temática me fez perceber que tudo o que ele foi ainda se faz presente em mim.”

Pipa pai, pipa filho foi desenvolvido como uma contação de histórias, mas utiliza outros recursos e linguagens artísticas, como música, teatro de sombras e manipulação de desenhos. Carlos revela que o principal desafio foi adaptar o texto para apenas dois minutos sem que a ludicidade se perdesse: “Com o tempo, percebi que a mesma dificuldade se tornou uma grande aliada para deixar a narrativa mais dinâmica e permitir que as crianças construam as suas próprias ligações de entendimento e reflexão”.

https://bit.ly/infancia-plurais-contacao-de-historias-pipa