Condição comum entre recém-nascidos, a icterícia provoca uma cor amarelada na pele dos bebês e não oferece riscos se controlada
Bebê com pele amarelada pode ser sinal de icterícia neonatal, causada pelo aumento no sangue da substância bilirrubina, fabricada naturalmente pelo organismo. A icterícia é comum em graus variados em 60% a 80% dos bebês e não apresenta grandes riscos se controlada.
É muito comum bebês apresentarem, logo após o nascimento, uma coloração amarelada na pele, que pode também estar presente nas conjuntivas (branco dos olhos). É um quadro característico da icterícia neonatal, alteração causada pelo aumento no sangue de uma substância amarelo-esverdeada chamada bilirrubina, fabricada naturalmente pelo organismo.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, a icterícia atinge aproximadamente 60% dos recém-nascidos até 80% dos prematuros tardios (que nasceram com 34 a 37 semanas de gestação) na primeira semana de vida, permanecendo por 30 dias ou mais em cerca de 10% dos bebês em aleitamento materno.
Como funciona: todos os dias milhões de células vermelhas (hemácias) são produzidas na medula óssea e outras milhões são destruídas no baço. O processo de destruição libera a bilirrubina, que é captada e metabolizada pelo fígado e, em seguida, eliminada pelas fezes ou urina. Como a capacidade de metabolização e eliminação ainda é limitada nos recém-nascidos, ocorre a concentração desse pigmento na corrente sanguínea.
Quem explica essa condição presente nos bebês é o médico neonatologista Joaquim Eugenio Bueno Cabral, da Rede D’or São Luiz, em São Paulo. “A icterícia normalmente é fisiológica (normal) e regride espontaneamente. Alguns fatores, entretanto, podem agravá-la.
O mais comum é a incompatibilidade de sangue entre a mãe e o bebê, tanto do grupo ABO como Rh”, afirma. Isso significa que, a mãe apresentando Rh- e o filho Rh+, por exemplo, pode ocorrer maior e mais rápida destruição das células vermelhas do que a capacidade hepática do bebê de processamento da bilirrubina.
Outros fatores menos comuns, segundo o pediatra, são infecções materno-fetais e doenças congênitas que levam à hemólise (destruição das hemácias e anemia). Entre elas a deficiência de G6PD, esferocitose e falciforme. Estas doenças normalmente são detectadas no teste do pezinho.
“Em variados graus, praticamente todos os recém-nascidos acabam apresentando icterícia. E, muitas vezes, é tão leve que os pais nem percebem”, atenta Joaquim Cabral. Em boa parte dos casos, a ictericia se caracteriza como uma situação transitória e desaparece naturalmente. Ela costuma ser identificada entre o segundo e o terceiro dia de vida do bebê, durando em média dez dias, exceto nos casos dos que nascem prematuros, que podem apresentar quadros mais intensos e duradouros.
Uma das causas nos prematuros tardios, que têm a capacidade de sucção ainda pouco desenvolvida, pode estar relacionada à dificuldade de amamentação, já que o leite materno contém substâncias que auxiliam na deposição da bilirrubina. O diagnóstico da icterícia é feito pelo médico em exame clínico ou por meio de exame sanguíneo, capaz de detectar com precisão o nível de concentração da bilirrubina.
O tratamento padrão da icterícia é a fototerapia (banho de luz). Em casos extremos indica-se a exosanguineo-transfusão (troca de sangue). O tratamento pode e deve ser feito ao lado da mãe, preferencialmente no hospital. Desde que disponível o equipamento de fototerapia, também pode ser feito em casa, mas sempre com acompanhamento médico.
Quando não tratada, a icterícia em caso severo pode levar a deficiência auditiva, além da intoxicação e lesão de vários órgãos, principalmente do cérebro. Infelizmente, também não existe meios para prevenir a icterícia, somente cuidados e controles nos fatores de agravo.