Gestação de risco: ‘a assistência cuidadosa faz toda diferença’

Afinal, o que caracteriza uma gestação de risco?

Martha Lopes Publicado em 27.09.2017

Resumo

Obstetra explica o que caracteriza uma gravidez de risco e seus tratamentos, e mulheres compartilham sua experiência com esse tipo de gestação.

A gestação é um momento muito especial, muitas vezes idealizado como um período tranquilo, sereno e sem maiores preocupações. No entanto, cada gravidez é única e pode apresentar situações que exigem atenção, cuidado e um acompanhamento médico específico para garantir a saúde e o bem-estar da mãe e do bebê. É o caso das chamadas gestações de risco, como a que a apresentadora Eliana Michaelichen vivenciou recentemente enquanto esperava sua filha Manuela. Mas o que caracteriza esse tipo de gestação?

O obstetra Paulo Noronha explica que, na maioria das vezes, a gestação é fisiológica e se desenvolve normalmente, mas uma pequena parcela vive a gestação de risco: “Acontece quando a paciente tem alguma doença que pode comprometer o desenvolvimento da gravidez, como diabetes, pressão alta, lúpus ou quando é tabagista. Isso vale tanto quando ela já tem uma doença ou quando a adquire na gestação”. Também existem gestações de alto risco e de baixo risco – segundo o especialista, o que varia é o nível de cuidado, de acompanhamento médico e de exames exigidos em cada situação.

Um dos quadros mais frequentes quando se fala em gravidez de risco é o descolamento de placenta. Trata-se de uma condição que precisa de acompanhamento porque é a placenta que fornece o alimento e o oxigênio para o bebê. O obstetra esclarece: “Existe um descolamento de placenta que ocorre no primeiro trimestre e, em geral, não causa dano, porque muitas vezes é absorvido pelo organismo. Mas há também o descolamento crônico, que o corpo não absorve e que fica sangrando, e que costuma aparecer no segundo ou terceiro trimestre, necessitando de repouso e acompanhamento de perto”.

Outra condição que designa uma gestação de risco é a Insuficiência Istmo-Cervical, quando o colo do útero não consegue segurar a gestação: “À medida que o bebê ganha peso, o colo se abre e a mulher pode sofrer um aborto”. Nesse caso, recomenda-se a circlagem, necessária logo no início da gestação, que é uma intervenção em que se dá um ponto no colo do útero para que se segure a gravidez.

No geral, quando se fala em gestação de risco, o especialista diz que os casos mais graves são aqueles em que a hipertensão evolui para a pré-eclâmpsia ou para a eclâmpsia, que pode por em risco a vida da mãe e do bebê; quando a grávida diabética tem um bebê com hipoglicemia, que precisa de internação; ou ainda no caso de uma usuária de drogas.

Hipertensão, obesidade e idade avançada representam risco?

Paulo Noronha diz que uma grávida hipertensa ou obesa é caracterizada como vivenciando uma gestação de risco porque precisará de mais exames em seu pré-natal: “Elas podem ter uma gestação sem consequências, mas mesmo assim precisarão de determinados exames”. Já as mulheres que engravidam depois dos 35 anos não são tidas como pacientes de risco apenas por conta da idade – contará, neste caso, seu estado geral de saúde, se não têm doença prévia e o desenvolvimento de sua gravidez.

Mas e o parto? De acordo com o especialista, a gestação pode sim determinar o tipo de parto: “No caso de uma paciente hipertensa ou diabética, não esperamos entrar em trabalho de parto espontaneamente, mas induzimos. Se tiver uma pressão muito descontrolada, com repercussão no feto, precisaria de uma cesariana. Já se houver um descolamento completo de placenta o parto será de emergência”.

Vivenciando uma gestação de risco

Para as mulheres que vivem uma gestação de risco, uma assistência cuidadosa, capaz de tranquilizar a paciente, faz toda a diferença. É o que relata Thais Habka, mãe da Maria Flor, de 18 meses, que atua facilitando grupos e rodas de conversa entre mães. Thais descobriu que tem trombofilia, uma condição caracterizada pela propensão a ter trombose, depois de vivenciar um AVC (Acidente Vascular Cerebral) aos 20 anos. “Não fiquei com sequelas do AVC, mas descobri essa alteração genética sanguínea que exigia um acompanhamento e planejamento maior em situações de risco como a gravidez”, diz. Na gestação, a trombofilia pode gerar entupimento das veias da mãe e obstrução da circulação do sangue que vai para a placenta.

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Thais tem trombofilia por isso enfrentou o risco na gestação.

Quando engravidou, Thais procurou um hematologista e teve que aplicar uma injeção de anticoagulante em si mesma todos os dias ao longo dos nove meses de gestação. O amparo do médico, no entanto, a tranquilizou: “Tive um sangramento nas primeiras semanas que me deixou um pouco tensa, mas eu sabia que estava fazendo o tratamento correto e relaxei. Lógico que algumas vezes me passou pela cabeça: e se eu perder o bebê? E se tiver uma complicação no parto? Mas eu me sentia muito confortável e segura com o médico que escolhi”.

A obstetriz Juliana Freitas, mãe dos gêmeos Otávio e Bernardo, de nove meses e meio, também conta que a equipe que a acompanhou foi decisiva para a sua saúde e seu bem-estar, assim como um atendimento humanizado. Juliana teve uma gestação monocoriônica-diamniótica, ou seja, tinha uma placenta para as duas bolsas de seus bebês, uma gemelaridade associada a maiores riscos. “A gemelaridade por si só aumenta os riscos de desenvolver diabetes, doenças hipertensivas, sobrecarga geral dos órgãos, tem maior risco de prematuridade, cesariana etc.”, explica.

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Juliana Freitas vivenciou o risco em sua gestação gemelar

Com 31 semanas, a obstetriz entrou em trabalho de parto prematuramente, por isso teve que ser internada, tomar medicamento para impedir a evolução do trabalho de parto e fazer repouso. Já com 37 semanas demonstrou sinais de pré-eclâmpsia e precisou ter o parto induzido. Seus bebês nasceram de parto normal, mas, na decorrência, teve uma hemorragia que a levou a ficar internada na UTI. O parto normal ajudou muito: “Se eu tivesse tido uma cesariana, o quadro seria mais grave, pois perderia mais sangue”, explica.

Para manter a tranquilidade ao longo da gestação, Juliana conta que fez acupuntura, radiestesia, massagens e teve acompanhamento psicológico. Por ser obstetriz, diz ainda que foi preciso trabalhar para dissociar as histórias de partos anteriores que havia acompanhado e se focar na sua história. Durante o trabalho de parto, os profissionais que atenderam Juliana garantiram que ela pudesse se concentrar e vivenciá-lo integralmente, tendo uma experiência rica e prazerosa: “As pessoas precisam saber que existe a oportunidade de um parto bacana e seguro, mesmo no caso de uma gestação de alto risco. Uma assistência humanizada não é só para o parto domiciliar, ela também existe para o parto hospitalar e mesmo para gestantes de alto risco”.

 

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