O desajeitado panda do filme ‘Red’ contra o tabu da menstruação

Filmes e séries podem auxiliar familiares e educadores a conversar sobre menstruação, puberdade e amadurecimento com meninas e meninos

Camila Santana Publicado em 23.03.2022
Cena do filme 'Red' em que Mei está se divertindo com suas amigas
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Resumo

Precisamos falar abertamente sobre menstruação e os desafios da puberdade para auxiliar crianças, em especial meninas, no seu processo de amadurecimento. Confira filmes e séries para refletir sobre o tema.

Em uma alegoria delicada sobre a menstruação, o filme “Red – Crescer é uma fera”, da Disney Pixar, trouxe para o centro das telas os desafios da puberdade feminina, abordando de maneira bem-humorada a onda hormonal, a autonomia e a sexualidade de jovens meninas. Obras audiovisuais como essa ajudam a quebrar tabus e criam oportunidades para conversas francas entre adultos e crianças. Pensando nisso, o Lunetas preparou uma lista de conteúdos para auxiliar familiares e educadores nesse diálogo.

“Red” e a metáfora da puberdade

O filme conta a história de Meilin, uma garota sino-canadence, de 13 anos, confiante, delicada e divertida. Tudo muda quando, em uma manhã, ela se transforma em um panda vermelho gigante. Repleto de elementos da cultura nerd e do K-POP, a animação multicolorida e sua linguagem dinâmica retratam a adolescente enfrentando as novidades da puberdade.

“Red” representa um marco importante na trajetória do estúdio ao trazer não só uma protagonista feminina, mas também por tratar de forma aberta e sensível sobre menstruação, hormônios, TPM e sexualidade feminina, como sugere Tatiana Nequete, mestre em Audiovisual Contemporâneo, diretora e roteirista de conteúdos infantojuvenis premiados, como o curta-metragem ‘As férias de Lord Lucas’ e a série o ‘Oráculo das borboletas amarelas”.

Crianças e adolescentes precisam saber que a menstruação, assim como outros processos da puberdade, é uma parte saudável e normal da vida. Tatiana reforça que, se homens e mulheres tivessem mais acesso a narrativas que tratam do feminino e dos ritos de passagem das meninas da infância para adolescência, como é o caso de “Red”, questões como essa seriam naturalizadas e as histórias femininas também seriam vistas como universais.

“Garotas menstruam. Então, vamos normalizar e comemorar!” – Sandra Oh, intérprete de Ming Lee, a mãe de Mei

Representatividade por trás das telas

“Red” é o primeiro filme da Disney Pixar a ser dirigido exclusivamente por uma mulher (Domee Shi) e possui equipe criativa majoritariamente feminina. Tatiana comemora a escolha de mulheres para narrar a história e dar o devido tratamento ao tema: “Não basta que as histórias tenham uma protagonista feminina. É muito importante que as narrativas sejam também controladas por mulheres.”

Para ela, “Red” mostra que estamos dando um passo adiante em narrativas audiovisuais que possam desconstruir estereótipos, quebrar tabus e falar abertamente sobre as particularidades do feminino.

Transformações no corpo e nas emoções

A transformação de Meilin em panda vermelho faz parte de uma conexão ancestral que é passada de mãe para filha. No passado, essa magia era vista como dádiva, mas as gerações seguintes começaram a encará-la como um inconveniente perigoso. Por isso, as mulheres da família decidem reprimir e esconder seus pandas. O filme narra de forma corajosa o amadurecimento de Mei que, ao abraçar sua “fera interior”, é capaz de se aceitar, ao mesmo tempo em que ganha autonomia e reinventa sua relação com amigos e familiares.

Acompanhamos Meilin enfrentar transformações características da puberdade (crescimento de pelos, variação de humor, mudanças hormonais, sexualidade e rebeldia, por exemplo) ao lado de uma rede de apoio cheia de cumplicidade rumo a encontrar seu próprio caminho.

“Eu estou mudando, mãe. Eu estou finalmente descobrindo quem eu sou.” – Meilin

Ao naturalizar a menstruação e outros processos da puberdade, a animação pode auxiliar meninas a se sentirem mais confortáveis com seus corpos em transformação e a aliviar a carga emocional que atravessa essa jornada. Com reflexões sobre conflitos comuns a todas as crianças em transição para a adolescência, ninguém mais precisa enfrentar nada sozinho, muitas vezes, em silêncio.

Confira outros conteúdos que inspiram conversas sobre menstruação:

Absorvendo tabu é um documentário indiano, de 25 minutos, dirigido por Rayka Zehtabchi. Em 2019, venceu o Oscar na categoria de Melhor Documentário de Curta-metragem. O filme acompanha um grupo de mulheres em Hapur enquanto aprendem a fazer absorventes biodegradáveis, que vendem a outras mulheres a preços acessíveis. Com mulheres atuando por trás das câmeras, é uma oportunidade de debater o fim do tabu e dos estigmas ligados à menstruação, além de tratar a dignidade menstrual como um direito que passa pela disponibilidade de produtos para menstruação.

Pergunte à Lara é uma série animada produzida na Espanha e transmitida pela TV Brasil. A animação é voltada para o público jovem e mostra o cotidiano da adolescente Lara e seus amigos de intercâmbio. Cada episódio traz uma questão referente ao amadurecimento dos personagens e aos desafios da puberdade. O público é convidado a refletir sobre os temas abordados por meio de perguntas sobre o que faria se passasse por situações parecidas.

Que corpo é esse? é uma série de animação, produzida em parceria entre Unicef Brasil e Childhood Brasil, que tem como objetivo alertar adolescentes sobre o conhecimento do próprio corpo. Através de uma animação dinâmica e rica em detalhes, a série retrata o dia a dia de uma família brasileira que reflete sobre o desenvolvimento dos cinco filhos em diferentes etapas de vida. Entre os temas tratados estão: os dilemas da puberdade, a primeira relação sexual, preconceito e os perigos na internet.


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