A pandemia de coronavírus chegou como um furacão para muitas famílias, que repentinamente se viram isoladas em casa com suas crianças – algumas em grandes residências, outras em pequenos cômodos ou aldeias indígenas. Apesar de classe social, raça, gênero e outros demarcadores tornarem a existência diferente para cada pessoa, o brincar é uma atividade universal, sem nenhum pré-requisito para acontecer. No média-metragem “Brincar livre: de dentro pra fora”, Renata Meirelles e David Reeks mostram como o brincar aconteceu para 24 famílias de São Paulo, entrevistadas por seis meses, durante a pandemia em períodos pré e pós-flexibilização das medidas restritivas. O filme mostra a transição do brincar de dentro de casa para a volta ao convívio social, ao espaço público e à escola.
São Paulo é uma cidade com distribuição desigual de áreas verdes e adequadas para que as crianças possam brincar em segurança. Da bicicleta ao escorrega, terra, blocos de madeira, bolinhas de gude e gira-giras são alguns dos elementos que fazem o brincar acontecer do norte a sul, de leste a oeste, aliados ao maior bem das infâncias: a criatividade. Para Raquel Franzim, diretora de educação e cultura da infância no Instituto Alana, o “brincar é um dos maiores fatores de promoção da saúde integral das crianças. Com a pandemia e seus efeitos severos na vida das crianças, ele se mostrou ainda mais fundamental, tanto quanto atividades essenciais como se alimentar, dormir e aprender”, conta, em nota.
Como é o brincar das crianças?
“A dança e o canto estiveram presentes em vários relatos de crianças que, desde o começo da pandemia, dançavam e cantavam bastante, numa expressão que ‘põe pra fora’ uma conversa muito bonita com o brincar em si”, relata Renata Meirelles. O fato do canto e da dança não serem atividades consideradas “brincadeiras” por si só levantou debates sobre o que deve ser colocado nessa “aba” do brincar, garantindo que seja amplo, múltiplo e faça sentido para uma infância feliz.
Se a questão do uso de telas se intensificou durante o isolamento, não poder brincar como antes atualizou o desafio. “Enquanto as crianças menores entraram pro mundo das telas com muito mais força do que antes da pandemia, o corpo das mais velhas não parava na frente das telas da televisão, celular ou computador”, explica a diretora. Isso porque a energia acumulada não estava sendo gasta da maneira adequada, além das alterações nos corpos e perdas do traquejo social. “Ver mães reclamando para que os filhos parassem, sentassem e assistissem alguma tela foi bastante revelador pra gente. Houve também um grande lamento de pais, mães e avós sobre sentirem culpa por não estarem disponíveis para as crianças”, finaliza. Em um momento de maior flexibilização das medidas restritivas, o brincar livre foi um dos responsáveis em possibilitar um desenvolvimento integral e espontâneo das crianças.
* “Brincar livre: de dentro pra fora” é um filme produzido pelo Território do Brincar. O filme foi lançado no Festival LED (Luz na Educação) hoje (8).
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