O documentário "Todos nós cinco milhões" é baseado em um dado do CNJ: 5,5 milhões de crianças não têm o reconhecimento paterno
O filme "Todos nós, cinco milhões" é um misto de documentário e ficção, e traz histórias de abandono paterno. Homens e mulheres que cresceram sem os pais, e também mães que assumiram o papel integral da criação, contam quais os impactos da ausência paterna.
“Todos nós cinco milhões” é um longa brasileiro de gênero híbrido, misto de documentário e ficção, dirigido por Alexandre Mortagua, da produtora O Baile Filmes. O filme parte de um dado de realidade bastante sensível sobre como se dá a parentalidade no Brasil. A informação do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) revela: mais de 5,5 milhões de crianças não são reconhecidas pelo pai no país. O abandono paterno configura um problema social, que sobrecarrega as mulheres, reforça a culpabilização materna por nunca conseguirem dar conta da tarefa complexa que é educar um filho e, sobretudo, prejudica as crianças.
Para a produção, foram entrevistadas 22 personagens, incluindo pessoas que por diferentes motivos não tiveram convívio com seus progenitores, mães solo que vivenciaram diferentes formas de negligência paterna (algumas, inclusive, por mais de uma vez), e também pais que abandonaram seus filhos. No elenco, os atores Vaneza Oliveira, Angela Valentin, Kathia Calil, Jéssica Monte, Felipe Barros e Luciano Chiroli encenam os trechos ficcionais, que contribuem para abordar o tema de outras perspectivas.
No filme, essas e outras questões perpassam a vida dos entrevistados com maior ou menor intensidade, sempre com um denominador comum: a ausência do pai – por consequência, a presença muitas vezes desproporcional e sofrida da mãe – gera feridas emocionais difíceis de curar. Para debater de forma justa a questão da parentalidade no Brasil, é preciso considerar esse contexto, e o filme contribui para disseminar esse debate e sensibilizar as pessoas sobre o assunto.
Em entrevista à Helen Ramos, no canal Hel Mother – que contribui com depoimentos no filme -, o diretor explica que o filme procura dar visibilidade às mães que lutaram sozinhas para educar os filhos.
“O filme não é sobre as crianças, é sobre as mulheres e a família que se formou em torno disso [o abandono paterno]”, diz Alexandre.
Com 23 anos e este que é o seu primeiro longa, o diretor aborda uma questão que faz parte de sua própria vida, já que ele também integra o índice de crianças que cresceram sem pai. Filho do ex jogador de futebol Edmundo, com quem não conviveu, Alexandre tinha inicialmente a ideia de levar para as telas a narrativa de sua história pessoal, mas acabou optando pela mistura entre realidade e ficção.
Ao trazer para o debate outras histórias, contextos, argumentos e a penosa conclusão de que conexão genética não basta para que um sujeito assuma de fato sua paternidade, Alexandre dá conta de deixar no ar uma questão que segue sem resposta: o que é ser pai, afinal? A pergunta “Você conhece a sua história?”, uma das chamadas do longa nas redes sociais, relembra que, para muitos que nem sequer sabem quem é seu pai, a ferida emocional que fica é a de ter uma biografia familiar com uma peça faltando.
“Todos nós cinco milhões” estreou no YouTube no último domingo, 11, e está disponível online na íntegra, com mais de uma hora e vinte minutos de duração. Não por acaso, a data escolhida para liberar o filme foi o Dia dos Pais, data em que fica evidente a quantidade de brasileiros que não possuem a figura paterna em suas vidas. Para saber mais, acompanhe a página do filme no Facebook.
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