Junho é o mês de relembrar as tradições sertanejas com danças e comidas típicas. Mas, para além dos dias de santo e das quadrilhas, existem outras celebrações ancestrais. “O cultivo da terra está também na tradição da matriz africana e indígena porque dialoga com a nossa relação com a natureza”, comenta Luciana Santos, coordenadora pedagógica do Colégio Estadual Polivalente de Amaralina, na periferia de Salvador (BA).
Apesar de sempre comemorar a festa junina, a escola tenta apresentar aos estudantes perspectivas de uma celebração rica em diversidade cultural. “A gente não particulariza religiosidade. Explicamos mais sobre a cultura nordestina, a importância de celebrar a colheita do cultivo daquilo que a terra nos oferta”, conta a coordenadora.
A instituição é uma das referências na abordagem decolonial nas disciplinas para o ensino médio e este ano terá uma festa temática voltada para o meio ambiente. “Estamos falando muito sobre a sustentabilidade e o cuidado com a terra, discutindo sobre os impactos do uso dos agrotóxicos e do agronegócio”, conta Santos. A decoração será de materiais reutilizados a partir da coleta feita por alunos e professores.
Pode parecer diferente, mas a festa propõe unir as tradições sertanejas com o forró, as comidas típicas e as brincadeiras, junto ao entendimento de que o mês de junho também é celebrado por culturas ainda mais antigas. “Os alunos entendem que essa época é de comemorar a fartura, o milho, o amendoim” diz. No ano passado, por exemplo, eles celebraram um “São João da Liberdade”, em que o tema era o bicentenário da independência do Brasil na Bahia.
Celebrar o mês de junho é ancestral
As festas milenares com o culto ao sol, à terra e que exaltam a fecundidade da colheita têm origens africanas e também dos povos originários da Amazônia. No candomblé, por exemplo, a cultura dos orixás, divindades que representam elementos naturais, têm nas fogueiras de junho a lembrança de Xangô, que simboliza com o fogo a justiça e a purificação.
A partir do sincretismo que mistura as diversas culturas do Brasil, a umbanda também celebra, no mesmo dia 24 de junho, considerado pelos cristãos o dia de São João Batista, o dia da Fogueira de Xangô. Nesses festejos, uma grande fogueira erguida por galhos de árvore é acesa com chamas que queimam em frente ao terreiro, onde se faz danças e batuques em homenagem à Xangô.
Já para os católicos, a fogueira celebra São João, que foi o santo do batismo de Jesus. O fogo representaria a comemoração das boas notícias com a colheita do verão. No dia 24 também tem o banho de cheiro, quando devotos do santo se banham com ervas para purificar o corpo, semelhante ao batismo. Ainda no mesmo mês, há os dias de Santo Antônio e São Pedro.
Um novo ciclo para os povos originários
Já para as comunidades tradicionais peruanas, o dia 24 é a Festa do Sol, ou o Inti Raymi. Nela, o sol é o protagonista em um festival de culto à natureza que mantém a tradição do Império Inca. No centro histórico de Cusco, turistas acompanham a festividade que têm rituais próprios, encenações e cantos ao deus Sol.
Junho ainda tem festas milenares na Amazônia e nos Andes, onde alguns povos originários comemoram a boa colheita do verão. As tradições mais antigas marcam o solstício de inverno com uma grande festa. Neste dia, geralmente na metade do mês, o hemisfério sul recebe menos luz, e, portanto, seria a noite mais longa do ano. O momento é de agradecer à terra fecunda e se preparar para um novo ciclo, considerado como o Ano Novo para as comunidades originárias andinas.
Segundo o centro cultural Andino Amazônico, a festa maior ainda acontece sempre no dia 21 de junho. São fogueiras, danças em culto à mãe terra e ao pai sol, e um banquete compartilhado com todos os participantes. Em São Paulo, a data costuma ser lembrada por religiosos de comunidades originárias, principalmente vindas da Bolívia, que se reúnem no Parque Dom Pedro II, organizados por ativistas aimaras, quechuas e guaranis. Este ano será o ano 5.532 para esses povos.