Estudantes criam projetos para uma internet segura 

Vencedores do prêmio Cidadania Digital em Ação 2023 ensinam crianças e adolescentes a reconhecer riscos na internet e como denunciá-los

Célia Fernanda Lima Publicado em 06.02.2024
imagem de capa para matéria sobre o prêmio de internet segura mostra um menino negro, de cabelos curtos sentado na frente de um computador de mesa.
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Resumo

Estudantes criam iniciativas para o uso de uma internet segura para o Prêmio Cidadania Digital em Ação 2023. Os projetos vencedores incluem podcast, revistas digitais e perfil educativo em rede social para alertar e orientar como denunciar casos como o cyberbullying.

Aprender sobre segurança na internet com podcasts, revistas digitais e até por troca de mensagens com robôs programados para combater discursos de ódio nas redes sociais. Essas foram soluções que alunos do ensino médio de escolas públicas encontraram para construir uma internet mais segura. Num contexto em que o Brasil bateu recorde de denúncias de imagens de abuso e exploração sexual infantil, em 2023, o objetivo é ficar longe de alguns perigos em plataformas digitais e saber como denunciar casos de cyberbullying e aliciamento sexual, por exemplo.

Os projetos vencedores do Prêmio Cidadania Digital em Ação 2023 foram anunciados nesta terça-feira, 6, Dia Mundial da Internet Segura no Brasil. O evento, promovido pela Safernet, organização de defesa dos direitos humanos na internet no Brasil, discutiu também novas formas de proteger os jovens de situações como exploração sexual, extorsão, cyberbullying e discurso de ódio.

Ao mesmo tempo que “a tecnologia tem o poder de transformar vidas e ampliar o crescimento de toda uma geração”, disse Sara Clegg, vice-cônsul geral do Reino Unido em São Paulo, “não podemos ser pegos pelos riscos das redes”. Segundo ela, embora crianças e adolescentes estejam presentes nos ambientes virtuais, eles não estão prontos para lidar com esses problemas. Por isso, precisam ser amparados e instruídos por uma rede de apoio, o que inclui pais, educadores e comunidade.

Segundo a Safernet, foram 71.867 mil denúncias de imagens de abuso e exploração sexual infantil na internet. Sobre a variação de 77% em relação ao ano passado, Thiago Tavares, fundador e diretor-presidente da organização, diz: “Fatores como o uso da Inteligência Artificial para a criação de conteúdo de exploração infantil, vendas de imagens de nudez geradas por adolescentes e o enfraquecimento da segurança e moderação de plataformas digitais podem explicar esse aumento”. Além disso, outros dois casos mais denunciados foram a xenofobia (14.196) e a incitação a crimes contra a vida (4.041). Já as denúncias de LGBTfobia, misoginia e racismo tiveram uma queda em comparação ao ano de 2022.

Confira os projetos vencedores do Prêmio Cidadania Digital em Ação 2023:

1º lugar

Alunos do segundo ano do ensino médio, do Instituto Federal da Paraíba, venceram o prêmio com um perfil de Instagram. O grupo da cidade de Cajazeiras produziu conteúdo com memes e vídeos sobre como não cair em golpes, proteção de dados e combate ao discurso de ódio. Até o protótipo de um chatbot – programa de computador que simula uma conversa com respostas em tempo real – foi desenvolvido durante as aulas de Cidadania Digital. “Começamos com uma gincana digital para engajar os conteúdos que eles produziam. A turma que venceu criou o perfil. A gente discutia os assuntos da semana que estavam na internet e eles tinham liberdade para produzir os conteúdos”, conta o professor João Paulo Oliveira.

2º lugar

O segundo lugar ficou para uma revista digital sobre cyberbullying produzida por seis alunos do primeiro ano do ensino médio. Eles estudam na Escola Estadual Dona Benedita Freire de Macedo, de Jacareí, interior de São Paulo. As professoras Biana Nascimento e Maria Régia Pereira orientaram os estudantes no processo de produção de textos, fotos e entrevistas, durante a disciplina de Cidadania Digital.

“Toda a ideia partiu deles e levamos duas semanas para produzir. Eles entrevistaram as pessoas da escola, como a psicóloga e a diretora”, conta a professora Nascimento. Além das entrevistas, eles produziram um quiz e uma proposta interativa para que outros alunos enviassem memes criativos para compartilhar um “humor responsável”, sem bullying ou constrangimento. Por fim, o grupo apresentou o projeto para toda a escola e para familiares saberem mais sobre o assunto.

3º lugar

Em terceiro lugar, outro projeto ganhador foi do município de Caçador, do Instituto Federal de Santa Catarina. A turma do último ano de Administração, Informática e Plásticos, em 2023, curso integrado ao ensino médio, desenvolveu o podcast “Empatia em foco: desvendando o bullying”. Os programas explicam sobre cyberbullying, sexting, sextorsão e aliciamento sexual.

A disciplina de Cidadania Digital, combinada às aulas de Língua Portuguesa, foi baseada no material da Safernet sobre esses temas e pesquisa em grupos. Desse modo, eles desenvolveram o formato que queria trabalhar. “A proposta era um podcast de bate-papo entre os estudantes, que falasse da maneira deles e de forma natural. Assim, outros estudantes também podem entender”, conta o professor Ricardo de Campos. A produção apoiará as próximas campanhas sobre o uso de internet segura do núcleo pedagógico do instituto.

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Divulgação

Produzido pelos alunos de Jacareí (SP), o projeto da revista digital “Desvendando os ghosts” tem entrevistas, quiz e informações que orientam os leitores a combater o cyberbullying.

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Divulgação

Alunos do município de Caçador (SC) criaram um podcast com uma série de programas que informa sobre os riscos em plataformas digitais e como denunciar casos de cyberbullying e extorsão por imagens íntimas.

Cidadania digital nas escolas

Promovida pela Safernet Brasil em parceria com o Reino Unido, a disciplina de Cidadania digital está presente em 116 municípios brasileiros e já impactou mais de 11 mil estudantes e 183 professores em dois anos. A partir de cadernos de aulas voltados para adolescentes e cursos on-line para educadores, o foco é entender direitos e deveres nos ambientes digitais. Além disso, trabalha questões sobre a importância da informação e segurança digital contra crimes virtuais, como o cyberbullying e o abuso e a exploração sexual.

Os professores, portanto, podem participar das turmas do curso de formação online que segue com turmas regulares em 2024. São 40h, com certificação, e material que orienta os profissionais da educação a prevenir violências online e estimular o protagonismo dos estudantes. Todo o acesso ao material é gratuito.

Onde denunciar?

No Brasil, os caso de suspeita de violência sexual contra crianças ou adolescentes devem ser denunciados no Disque 100. A ligação é gratuita e funciona 24 horas. A Safernet também tem um canal de denúncia anônima contra páginas que contenham imagens de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes, o denuncie.org.br.

* A 16ª edição do Dia da Internet Segura teve o apoio do Instituto Alana, Unicef, Childhood, Governo do Reino Unido, Governo do Brasil, Ministério da Justiça e Segurança Pública, Abranet, Febraban, Ministério Público Federal, Safe Online, TSE e Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal.

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