Escolas e comunidades na mobilização por um futuro sustentável

O engajamento comunitário é essencial para aumentar a resiliência frente a eventos climáticos extremos e mobilizar toda a sociedade no combate à crise climática

Leila Vendrametto Publicado em 03.11.2021
Na foto, três crianças regam mudas de árvores sob a supervisão de uma mulher adulta
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Resumo

O engajamento de escolas e comunidades na construção coletiva e participativa de conhecimento sobre as mudanças climáticas é peça-chave para aumentar a resiliência local a desastres ambientais e promover a mobilização pelo combate à crise climática.

Instituições da sociedade civil, coalizões, movimentos sociais, fóruns e fundações têm exercido um papel estratégico para engajar a sociedade em ações de justiça climática espalhadas pelo mundo. Para apoiar o enfrentamento do colapso climático, atores da sociedade civil somam esforços para a mobilização global pela difusão, pela promoção e pelo monitoramento da implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) e assinados por 193 países (entre eles, o Brasil), compõem uma agenda de metas que devem ser alcançadas até o ano de 2030. São um apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e prosperidade.

Além de atitudes e posturas individuais, aplicar políticas que fomentem uma cultura mais sustentável é fundamental para garantir melhores condições de vida para todas e todos. Alguns documentos que inspiraram educadores foram decisivos para a criação de políticas públicas nacionais. 

A Eco-92 ou Rio-92 foi a primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, com desdobramentos importantes dos pontos de vista científico, diplomático, político e na área ambiental, além de ceder espaço a debates e contribuições para o modelo de desenvolvimento ambientalmente sustentável. Redigidos na Eco-92, a Carta da Terra, a Agenda 21 Escolar e o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e de Responsabilidade Global apresentam objetivos comuns para um futuro socialmente justo, ambientalmente equilibrado e economicamente viável.

Em 1999, foi regulamentada a Política Nacional de Educação Ambiental (Lei 9795/1999), um marco regulatório para todo o território brasileiro, atribuindo responsabilidades, diretrizes gerais e recursos específicos.

No ano 2000, foi a vez da ONU lançar os ambiciosos 8 Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM), para firmar acordos internacionais alcançados em cúpulas mundiais sobre direitos humanos, meio ambiente, racismo e direitos das mulheres. Em 2015, após a avaliação das metas alcançadas pelos ODM, a ONU lançou os ODS, tendo 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável feitos de forma participativa entre entidades, pontuando indicadores e metas a serem alcançados até 2030. Os ODS abraçaram uma visão socioambiental, integrando o meio ambiente às questões sociais.

O plano de ação global da Agenda 2030 propõe a construção de uma governança conjunta com governos, empresas, escolas e sociedade civil. O ODS 13, de combate às mudanças climáticas, em específico, prevê alcançar, entre outras metas, a 13.3:

“Melhorar a educação, aumentar a conscientização e a capacidade humana e institucional sobre mitigação global do clima, adaptação, redução de impacto, e alerta precoce à mudança do clima” 

Além disso, apresenta estratégias de construção coletiva e de cocriação entre especialistas e comunidades locais. 

Um dos pontos-chave para alcançar a almejada transformação é aumentar a resiliência de comunidades vulnerabilizadas dentro do planejamento urbano, por meio da construção de conhecimento sobre os desafios e os impactos locais a fim de criar sistemas de alerta e planos de emergência contra eventos extremos. Apesar do tema ser denso, envolver as crianças e os jovens nesse processo de construção de conhecimentos locais engrandece na busca de soluções com um olhar criativo e lúdico.

A alfabetização ecológica, sobretudo na infância, estimula conexões com a natureza local, seja ela um bicho de jardim ou um riacho do bairro. Possibilitar infâncias mais plurais e conectadas à natureza é uma forma de inspirar a transformação da sociedade ao acolher ensinamentos como cooperação, diversidade e interdependência.

Amplificar o diálogo sobre ‘fazer ciências juntos’, envolvendo os saberes científicos e os saberes locais, é uma ferramenta estratégica para alcançar as metas traçadas no ODS 13.

Para isso, espaços que garantam o diálogo e a reflexão devem ser criados e fortalecidos, favorecendo a cooperação e as ações de adaptação. As práticas educativas comunitárias, que extrapolam os muros das escolas, têm a capacidade de promover articulação local e contribuir para a prevenção de riscos de desastres e eventos climáticos extremos, uma vez que aproxima os saberes científicos aos da comunidade. Com isso, os processos de aprendizagem social são fortalecidos e, consequentemente, a valorização do diálogo e da participação democrática.

Para alcançar a meta 13.3 é imperativo o envolvimento das comunidades locais com campanhas sobre uso consciente da água, energia e implementação de coleta seletiva, bem como garantir o espaço de diálogos para uma governança democrática. Adaptar e reduzir os impactos com planejamento e capacidade para lidar com as emergências é imprescindível para os desafios atuais. Dessa forma, a Agenda 2030 tem mais possibilidades de alcance das metas transcendendo do plano global para a realidade local.

A construção de conhecimento sobre mudanças climáticas a partir de processos coletivos e participativos integra novas formas de se relacionar com as pessoas e com o meio. Com base nos conceitos da aprendizagem social e na ciência cidadã, que coloca o engajamento comunitário como essencial para o enriquecimento da democracia e alcance das adaptações, o horizonte para alcançar as metas do ODS 13 será com base em informações, capacitações, conhecimentos e mobilizações para motivar os governos locais, as empresas e a sociedade civil a mudarem suas práticas.

* Leila Vendrametto é doutoranda em Ciência Ambiental no PROCAM/IEE/USP, graduada em Comunicação Social, Geografia pela PUC-SP e especialista em Ecologia, Arte e Sustentabilidade pela UNESP. Atualmente, é coordenadora do projeto Urbanizar no Instituto Alana, com o objetivo de desenvolvimento e articulação comunitária no Jardim Pantanal. Também pelo Alana, fez parte da equipe do EcoAtivos, um projeto de formação de professores em Educação para a Sustentabilidade de redes municipais e estaduais de ensino nas 5 regiões do Brasil, em parceria com o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente).

** Este texto é de exclusiva responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Lunetas.

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