Como a matemática pode ser aliada de uma educação igualitária?

Em conversa com o Centro de Referências em Educação Integral (Crei), educadora reforça o potencial da matemática na promoção de igualdade de gênero

Na foto, duas crianças com pele clara e cabelos loiros rabiscam números com canetinhas coloridas
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Resumo

Matemática e igualdade têm muito em comum: saiba como as duas coisas se relacionam.

Você sabia que menos de 30% das universitárias escolhem carreiras relacionadas à ciência, tecnologia ou matemática, segundo pesquisa da Unesco? É comum que educadores tenham menos expectativas em relação à aprendizagem de matemática por parte de meninas, estudantes negros e com deficiência, por exemplo. Para Tereza Perez, diretora da Comunidade Educativa CEDAC e professora de matemática, “não é que o professor faça isso de propósito, mas não se dá conta [do desvio no ensino]. Então, é preciso estar atento”.

Quando falamos de gênero, estereótipos de “coisas para meninas” e “coisas para meninos” ainda são muito recorrentes, apesar de seus inúmeros prejuízos ao desenvolvimento infantil. Mesmo danosos, é comum ver a ideia de que existem coisas exclusivas para cada gênero, como cores, brincadeiras, tarefas domésticas e até disciplinas escolares ou profissões, dificultando caminhos para uma educação não sexista.

Em conversa com o nosso parceiro Centro de Referências em Educação Integral (Crei), a professora ressalta que fazer matemática não é só resolver exercícios: é uma maneira de expressar pensamentos, seja por meio da linguagem convencional da matemática, ou de textos, desenhos e materiais. A matemática também trabalha a memória e a metacognição, isto é, primeiro o aluno registra o seu modo de pensar no papel, e depois analisa esse pensamento quando vai corrigir o exercício sozinho, ou com colegas e professores. Quando as atividades são feitas em duplas ou grupos, o respeito às diferenças de pensamento e o diálogo também são acentuados, ainda mais quando as crianças chegam a resultados iguais por meio de caminhos diferentes.

Tereza endossa que vivemos em um contexto matemático: se as crianças conseguirem enxergá-lo, elas estão aprendendo. Para que isso aconteça, o educador deve estar atento ao seu modo de lecionar, para que não haja detrimento do potencial de um aluno enquanto outro é favorecido. Se os alunos não se sentem acolhidos e estimulados pelo ensino e tomam para si jargões comuns, como associar mau desempenho na matemática a ser burro, fica mais difícil de assegurar que as crianças possam se manifestar livremente no processo de aprendizagem.

Ter liberdade para se colocar também faz parte do desenvolvimento do sujeito no mundo

 

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