Uma análise sobre os comentários mais absurdos vistos nas redes sociais quando falamos em extinguir o trabalho infantil
Viviana Santiago reflete sobre os principais comentários tirados das redes sociais quando veículos de comunicação ou instituições defendem o combate ao trabalho infantil.
Já parou pra pensar que toda vez que são divulgadas reportagens que mencionam a necessidade de combater o trabalho infantil, imediatamente surgem aquelas pessoas, mais chatas que o “tio do pavê”, para fazer sua intransigente defesa do trabalho?
Tem um monte de gente que perde a paciência em ler ou contestar tais comentários, e eu compreendo, mas precisamos ir ao encontro deles e responder exatamente o que está sendo dito.
Pensando nisso, decidi analisar as quatro respostas mais absurdas na defesa do trabalho infantil. Vamos nessa?
Essa é a frase mais comum que aparece em comentários quando a mídia denuncia a exploração do trabalho de crianças pobres. Ou seja, utilizam a pobreza como justificativa para o trabalho.
Mas sabe o que é melhor do que passar fome? Trabalhar? Não… Comer! Alimentar-se é um direito humano, e na impossibilidade das famílias poderem prover este alimento a crianças e adolescentes, é dever do Estado e de toda a sociedade garanti-lo.
Já reparou que as pessoas não podem ver as crianças em paz, né? A sociedade criou uma obsessão com a ideia de “utilidade” e precisa o tempo todo ter certeza de que as crianças estão ocupadas em atividades que, de preferência, apontem para um retorno financeiro quando elas forem maiores. Brincar livremente, olhar as nuvens, ler, correr… Nada disso faz mal às infâncias, muito pelo contrário!
Sabe o que é melhor do que estar na rua desprotegida de suas famílias e acabar sendo cooptada pelo tráfico? É estar socialmente protegida, indo à escola, frequentando espaços de lazer, podendo praticar esportes, conviver com sua família e comunidade, interagir com pessoas e situações que estimulem a criança de forma positiva.
É muito perverso acreditar que as únicas opções possíveis para as crianças sejam o trabalho – que prejudica o seu desenvolvimento, afetando presente e futuro e impactando na vivência de outros direitos – ou a possibilidade de serem cooptadas pelo tráfico de drogas.
É isso mesmo que essas pessoas acreditam? As únicas opções viáveis para uma criança, geralmente pobre e negra, são o trabalho ou a criminalidade? Por que será que somente pensam nesses destinos como os possíveis para tais crianças?
Quando mostramos às pessoas o que de fato elas estão defendendo ao partilharem seu posicionamento acerca do trabalho infantil, revelamos como esse é um pensamento frequentemente utilizado para definir lugares possíveis – e “merecidos” – para crianças negras, pobres, moradoras das periferias. Ou você acha que quando mencionam esses argumentos, as pessoas estão pensando em todas as crianças? Óbvio que não!
Existe uma forma de pensar a infância pobre e especialmente negra que não reconhece a sua humanidade, muito menos o seu direito de ser legitimada como pessoas em condição peculiar de desenvolvimento.
Não existe infância para as crianças negras e pobres. As pessoas as observam apenas como uma força de trabalho a ser explorada, um corpo a ser contido ou uma presença a ser apagada.
Fazer uma reflexão acerca do trabalho infantil nos possibilita pensar em que tipo de antirracismo as pessoas estão praticando, em que tipo de defesa de direitos da infância estão se engajando e qual é o mundo que querem viver no futuro, porque, como disse o lema do Fórum Nacional para Prevenção e Eliminação do Trabalho Infantil:
“É muito triste, é muito covarde, cortar infâncias pela metade”
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