COP30 também é assunto de criança: como falar nas escolas?

Estudantes discutem a crise climática e participam de projetos sobre a conferência global que acontece no Brasil. Saiba como falar do assunto em sala de aula

Célia Fernanda Lima Publicado em 29.10.2025
Imagem mostra projeto sobre COP30 nas escolas. Um grupo de adolescentes estão no meio de uma floresta ao redor de uma árvore.
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Resumo

Escolas já se preparam para acompanhar a COP30 estimulando o pensamento crítico e o engajamento dos estudantes em questões ambientais. Conheça projetos escolares sobre o assunto e como trabalhar os temas da conferência global em sala de aula.

Com a proximidade da COP30, que acontece em novembro em Belém, a sala de aula já mostra sintonia com os temas dos debates da conferência global do clima. Na escola estadual Professora Palmira Gabriel, em Belém (PA), adolescentes apresentaram cartazes sobre a poluição ambiental, jogos educativos autorais e maquetes que demonstram como a floresta importa para quem vive nas cidades.

“Os estudantes assumiram papel de protagonistas porque pesquisaram e debateram conceitos fundamentais sobre mudanças climáticas. Eles passaram por sustentabilidade, energia limpa e consumo consciente”, explica a professora Denise Araújo, especialista em educação ambiental.

Durante cinco meses, os alunos se mobilizaram no projeto “Mini COP30”, que criou a própria conferência na escola e envolveu toda a comunidade.

“Eles mostraram um comprometimento em compreender como as ações locais podem impactar positivamente o planeta. Além disso, puderam entender mais sobre a COP30, que vai acontecer na cidade deles”, pontua Denise.

A COP30 ou 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas é a reunião global mais importante sobre as discussões ambientais que impactam o mundo. Este ano, o evento oficial acontecerá em Belém, entre os dias 10 e 21 de novembro, marcando a primeira vez do evento no Brasil e em uma cidade na Amazônia.

Em São Paulo, os alunos do ensino médio da escola Gracinha trabalham os temas da COP30 desde o início do ano. Segundo a professora Danielle Canteiro, responsável pelos projetos de ciências da natureza, as atividades foram interdisciplinares. “Os alunos organizaram mesas de debate, produziram boletins, criaram identidade visual para o projeto e pesquisaram conteúdos sempre com olhar crítico e criativo”, conta.

Para os alunos, um dos momentos mais produtivos foi o intercâmbio com lideranças indígenas, artistas e ativistas que irão para a conferência em Belém. “A Amazônia muitas vezes é vista como algo distante, onde os desafios parecem não nos atingir. Mas ouvir diretamente quem enfrenta essas dificuldades causa um impacto e nos mostra que estamos mais próximos do que imaginamos”, conta a estudante Alícia, 17.

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Arquivo escola Professora Palmira Gabriel

No Pará, estudantes produziram a própria COP30 na escola estadual Professora Palmira Gabriel. Eles envolveram toda a comunidade em exposições, atividades educativas, debates e criação de materiais informativos.

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Arquivo Escola Gracinha

Estudantes da escola Gracinha, de São Paulo (SP), trabalham a COP30 desde o início do ano em projetos interdisciplinares. Eles organizaram uma feira agroecológica, debates climáticos e fizeram uma pesquisa de campo para conhecer a floresta amazônica, no Amazonas.

Estudantes como protagonistas das discussões

Apesar de atividades de protagonismo estudantil já estarem previstas na BNCC (Base Nacional Comum Curricular), quando ligadas às discussões da conferência mundial podem render bons frutos. Por isso, os educadores afirmam que é possível desenvolver projetos em todas as etapas de ensino e trabalhar temas como:

  • Racismo ambiental;
  • Emissões de carbono;
  • Crise hídrica;
  • Aquecimento global;
  • Demarcação de terras indígena;
  • Poluição do ar.

“Isso pode fortalecer o sentimento de pertencimento, a consciência ecológica e o trabalho coletivo, pois estimula o engajamento dos alunos em projetos ambientais e o desenvolvimento de habilidades como liderança, argumentação, pesquisa e cooperação”, ressalta a professora Denise Araújo.

Os professores também concordam que as discussões não precisam se limitar ao evento, mas continuar da escola para fora. “Os estudantes refletem sobre o que aprendem, como aprendem e por que esse conhecimento importa para o mundo”, aponta Diogo Fonseca, professor de linguagens da escola Gracinha. “Os jovens podem então seguir pensando e se articulando para transformar suas realidades com consciência e compromisso.”

Aprendizado pode ir além da escola

No Pará, o envolvimento dos estudantes já faz parte da disciplina educação para o meio ambiente, sustentabilidade e clima, obrigatória nas escolas públicas do estado. Segundo Denise Araújo, o objetivo não é focar apenas nos problemas atuais mas no engajamento da comunidade para buscar soluções locais. “Nosso projeto não finaliza na Mini COP30, pois é uma atividade que não vai ficar só na escola. Os alunos produziram materiais pedagógicos e podem mobilizar suas comunidades.”

Para Alícia, aluna da escola Gracinha, aprender sobre a crise climática e ouvir as lideranças indígenas inspiraram um novo jeito de se entender na natureza. “Os encontros trouxeram uma reflexão sobre novas formas de relação com o meio ambiente assim como entender que podemos romper com a lógica colonial de exploração”, diz.

Quando os estudantes debatem e se posicionam, é sinal que a escola está cumprindo seu papel de formar um pensamento crítico, explica o professor Diogo Fonseca. “Ao articular os saberes e as experiências, eles refletem sobre como podem transformar a percepção de mundo.”

Por isso, mesmo que as questões ambientais já estejam no currículo escolar, precisam de continuidade, segundo os professores. “A COP30 é uma oportunidade de formação cidadã e planetária. Então, devemos tratar de temas como justiça climática e soberania territorial nas escolas para que os alunos compreendam as realidades além da sala de aula”, conclui Diogo.

Marcando presença na COP30

Ouvir e serem ouvidos é a expectativa de 18 estudantes dos projetos vencedores do prêmio Criativos Escola + Natureza, que vão representar seus biomas durante a COP30 em Belém. Todos participam de atividades práticas de soluções para transformar a natureza na escola. Dentre as ações, estão a valorização de saberes indígenas de Manaus (AM); o reaproveitamento de água em uma escola de Codó (MA); a construção de filtros vegetais em Carnaíba (PE); a defesa dos manguezais em Estância (SE), a arte ambiental em Porto Alegre (RS) e um curta-metragem sobre as queimadas no Pantanal, em Corumbá (MS). Os estudantes estarão presencialmente, juntos com seus professores, em atividades ligadas à COP30, em Belém, durante os dias da conferência, em novembro.

Ideias para botar a mão na massa

Para iniciar projetos escolares com foco na COP30 de acordo com a BNCC já existem materiais específicos que servem como um guia prático. Conheça alguns deles:

  1. Material didático sobre a COP30

O Observatório do Clima, rede de entidades ambientalistas, disponibiliza materiais pedagógicos impressos e digitais para escolas e educadores. O objetivo é trabalhar as questões climáticas ligadas às discussões da COP 30. Os kits são gratuitos e fazem parte do projeto “Estação Central COP Educadores”, produzido por especialistas. O material aborda temas como o efeito estufa, justiça climática e racismo ambiental. Para acessar o conteúdo, basta entrar no site da Central COP.

Imagem mostra foto de materiais de kit educativo para trabalhar a COP30 nas escolas
  1. Como fazer uma MiniCOP nas escolas

Para ampliar o protagonismo dos estudantes, o Instituto Alana e o Unicef lançaram o guia “Passo a passo para organizar uma MiniCOP”. O documento explica como funcionam as conferências climáticas e ensina a fazer um evento semelhante em escolas, centros comunitários, associações e outras instituições. O objetivo é engajar crianças e adolescentes nas decisões dos temas. Além disso, propõe incluí-los na organização dos espaços e das atividades.

Imagem mostra capa de guia Mini COP com desenhos coloridos.
  1. Roteiros e planos de aulas sobre a COP30

No livro digital “COP30 nas escolas: amigos da casa comum”, professores vão encontrar sugestões de atividades e temas para trabalhar em sala de aula, conforme a BNCC. Produzido pela Pastoral da Educação da região norte, o livro apresenta a importância da Amazônia e da COP30 para a população mundial em quatro capítulos feitos por educadores da região. Dessa forma, o material apresenta projetos para a educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e até para universidades, e está disponível para download gratuito.

Imagem mostra capa de livro COP30 nas escolas, da CNBB, com uma reprodução do planeta terra e mãos de crianças.

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