Como transformar o mercado de trabalho? Educando para a igualdade

Ao quebrar estereótipos de gênero na educação das crianças, contribuímos para a construção de um mundo com relações de trabalho mais igualitárias

Da redação Publicado em 28.09.2016

Resumo

Ao quebrar estereótipos de gênero na educação das crianças, contribuímos para a construção de um mundo com relações de trabalho mais igualitárias e equilibradas.

“Ela tem filhos, não vai render tanto, pois precisará sair para cuidar da criança o tempo todo. Melhor contratar ele, que apesar de ser pai, não precisará se ausentar por esse motivo”, quem nunca viu ou ouviu um julgamento dessa natureza – no qual estão presentes diversos preconceitos e estereótipos de gênero – no ambiente de trabalho?

Esse é apenas um exemplo de muitas situações ainda comuns nesse universo. São situações que contribuem para a perpetuação de uma relação de desigualdade entre homens e mulheres no âmbito profissional, e precisam ser combatidas, por meio de boas práticas implementadas pelas empresas, mas também de uma forma mais profunda e a longo prazo: com a criação de crianças, os futuros profissionais e líderes, livres de preconceitos de gênero.

Uma iniciativa realizada em escolas de Londres pela campanha Inspiring the future exemplificou a presença dos estereótipos na infância, e ajudou as crianças (e adultos) a perceberem – e desconstruírem – os mesmos:

Entre os desenhos feitos pelos pequenos – de um piloto de avião, um bombeiro e um cirurgião – 61 representavam homens nestas profissões e apenas 5 mostravam mulheres.  Da onde surgem essas construções sociais? O que leva as crianças a, automaticamente, retratarem esses profissionais como homens?

A resposta são os vieses inconscientes de gênero, uma reação rápida (e inconsciente) que as pessoa têm, muitas vezes, sem perceber.

“Todo preconceito é um viés, e o viés de gênero nasce de um contexto social. Se começarmos desde cedo a tratar meninos e meninas de maneira mais igual, será mais fácil desconstruir isso”, aponta Regina Madalozzo, especialista no tema e coordenadora do Mestrado em Economia do Insper.

A pesquisadora e professora de física experimental e conselheira da Universidade de Cambridge,  Athene Donald, alerta para o fato de que o espaço de mulheres em profissões atreladas ao universo científico começa a ser cerceado ainda na infância, justamente por conta dos estereótipos atrelados à influência dos brinquedos e estímulos que a criança recebe. Sabe aquela coisa do “isso é brinquedo de menino e isso é brinquedo de menina”? Então.

Os exemplos que as crianças recebem na infância também são muito importantes. Levantamento da Universidade de Harvard indica que filhas de mães que trabalham fora, ao se tornarem adultas, têm maiores salários e melhores cargos do que aquelas cujas mães trabalhavam em casa.

“Se as meninas nunca imaginaram que existem mulheres cientistas, como elas vão querer ser cientistas? Elas vão querer ser coisas que elas veem mulheres fazendo”, destaca Regina. Ou seja, o exemplo de uma mãe que investe em sua carreira mostra às meninas desde cedo que elas podem, sim, pertencer ao universo do trabalho.

Da mesma forma, o exemplo de um pai que divide as tarefas domésticas e os cuidados com as crianças com a mãe, mostra aos meninos que eles pertencem, sim, a esse universo.

“Sobre a divisão de responsabilidades familiares, se a gente não colocar o nosso preconceito na frente, falando para os meninos que eles não podem brincar de boneca, por exemplo, eles vão fazer isso naturalmente, e isso vai contribuir para que eles criem e naturalizem a imagem de que eles podem se ver como cuidadores”, completa Regina.

Indo mais longe, a partir desses exemplos, e da quebra de paradigmas na infância, as famílias poderão criar crianças, e futuros profissionais, que, um dia, acolherão e valorizarão mulheres mães no mercado de trabalho e não pensarão duas vezes em colocar uma mãe em um cargo de liderança ou, então, não torcerão o nariz quando um pai informar que precisará se ausentar do trabalho para cuidar de seu filho doente, ou buscá-lo na escola.

*Este conteúdo foi produzido em outubro de 2016, em parceria comercial com o Movimento Mulher 360º, pelo extinto Catraquinha. Em maio de 2018, o Catraquinha migrou para o Lunetas.

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