Cidades acolhedoras: arquitetura também é assunto de criança

“A arquitetura e o urbanismo ainda parecem ser um tema restrito aos arquitetos e não precisam nem podem ser”, dizem as autoras do livro Casacadabra

Mayara Penina Publicado em 04.05.2018
Ilustração mostra a cidade de São Paulo idealizada. Ao lado esquerdo pode ser visto o MASP e outros prédios tradicionais da cidade. A imagem chama atenção pela quantidade de pessoas que circulam no meio da rua e a ausência de carros.

Resumo

O livro Casacadabra se propõe a ser leitura e também objeto de brincadeira e de aprendizagem. A ideia é estimular a criança a pensar sobre sua casa e sua cidade, e desenvolver maneiras de ver o mundo à sua volta.

Se você mora em uma grande cidade brasileira, tente fazer este exercício: olhe ao redor e conte quantas crianças você vê utilizando o espaço público, brincando na rua ou nas praças. Quantas estão usando o transporte público para se locomover?

O número da sua resposta é um bom indicador para avaliar se esta é uma cidade acolhedora. Crianças que vivem e sentem as cidades as tornam mais inclusivas, mais justas e mais participativas.

Pensando em aproximar o espaço urbano do cotidiano das crianças – e dos adultos – a dupla de autoras Simone Sayegh e Bianca Antunes, abriu uma campanha de financiamento coletivo para lançar o livro Casacadabra 2. Esta edição traz a história de dez espaços públicos pelo mundo – alguns assinados por arquitetos, outros construídos pela comunidade, e muitos feitos em conjunto pelos dois.

Como no primeiro livro, as autoras abriram uma campanha de financiamento coletivo na plataforma Catarse para publicá-lo. É possível apoiar com doações de a partir de R$25 até o dia 15 de junho.

Bianca Antunes é jornalista e Simone Sayegh é arquiteta. Juntas, elas defendem que “falar de urbanismo com as crianças é falar de novas e diferentes possibilidades de cidades”.

“Falar de cidade é apontar espaços e relações às vezes escondidos em meio à velocidade do deslocamento dos dias de hoje”

Image

reprodução

As ilustrações do livro são da artista Luisa Amoroso.

Se uma cidade não acolhe seus moradores, em consequência, seus cidadãos não a acolhem de volta. É um círculo vicioso de não pertencimento.

Diante disso, a proposta do livro é mostrar diferentes formas de habitar a cidade, e dizer que é possível construí-la de outra maneira. Com a obra, as autoras pretendem incentivar as crianças a olharem “para aquela praça deteriorada, aquela calçada muito estreita”.  “Principalmente em nossas cidades rodoviaristas, as crianças não conhecem sua cidade – elas vivem em caixinhas, de casa para o carro, do carro para a escola. Elas vivem sempre dentro de algo. Não conhecem as calçadas, os pequenos recantos escondidos, não sabem se uma escada pode virar um local de permanência – que é um dos projetos que mostramos no livro, a escadaria da Praça da Espanha, em Roma”, apontam.

O que é uma cidade acolhedora para crianças?

A resposta é simples: uma cidade lúdica e segura. Lúdica no sentido de gerar prazer e pequenos desafios. Segura para permitir vivências de crianças com desenvoltura e liberdade.

Bianca e Simone dão alguns exemplos: “é também uma cidade acolhedora para os pais, que podem levar os filhos à escola a pé porque é um caminho bem pavimentado ao pedestre e sem grandes ruídos ou carros em velocidade; é ter um transporte público no qual se possa entrar sem dificuldades com um carrinho de bebê”.

Uma cidade acolhedora para crianças é acolhedora para todos.

Pensando nisso, uma cidade acolhedora para crianças é acolhedora para todos. Se você pensa em um transporte público em que se entra facilmente com carrinhos de bebê, ele também vai ser acolhedor para pessoas de mais idade, ou com dificuldades de mobilidade.

A mesma ideia vale para calçadas bem pavimentadas, menos velocidade nas ruas, para mais lugares de estar e de se encontrar na cidade. É uma cidade de encontros: se eu vejo o outro com calma, e usufruímos do mesmo espaço, criamos um vínculo, compartilhamos algo; a cidade torna-se nossa. Simone e Bianca também atentam para as discussões mais recentes em torno do déficit de natureza. “De que adianta falar que crianças devem brincar em meio à natureza se os pais precisam atravessar a cidade para encontrá-la?”, finalizam.

Mini-urbanista na escola

O livro reúne propostas de atividades para fazer em casa ou na escola em uma seção especial – todas relacionadas à aprendizagem crítica da criança em relação ao espaço urbano, e inspiradas nos projetos do livro.

As propostas podem ser usadas como plano de aula para os professores ou como orientação de atividades para os pais nas férias ou finais de semana. Os exercícios foram pensados para serem feitos por crianças de sete a 12 anos – mas podem ser facilmente adaptados para adolescentes, com indicações de como se aprofundar mais em cada exercício.

 

 

 

Comunicar erro
Comentários 1 Comentários Mostrar comentários
REPORTAGENS RELACIONADAS