Piá, erê, curumim: como crianças são chamadas Brasil afora

As diferentes formas de nomear a palavra “criança” nos convidam a reconhecer e valorizar a diversidade cultural do país

Da redação Publicado em 11.10.2022
Na imagem, duas meninas e um garoto de pele clara e cabelos castanhos estão de frente um para o outro com as mãos para cima
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Resumo

O Lunetas reuniu 15 expressões usadas para se referir às crianças em diferentes regiões do Brasil. Apesar de celebrar a diversidade cultural, é importante lembrar que muitas dessas palavras são utilizadas de modo depreciativo e refletem a própria concepção de infância.

Se existe alguma coisa que é unânime para todas as crianças do país certamente a palavra em si não é uma delas. Hoje, são muitos Brasis que chamam seus filhos por diferentes nomes, reflexo de uma história negra e cabocla que ainda busca afirmar múltiplas formas de estar no mundo. Eles também são “niños” para refugiados venezuelanos em Roraima, “komodo” nas feiras japonesas do bairro da Liberdade, em São Paulo, ou “bambino” na memória das casas tombadas de Antônio Prado, no Rio Grande do Sul. 

A palavracriança” tem as mesmas raízes de cria, criação e criatura, que assimilam o verbo “criar”, do latim “creare”. Mas o léxico de uma língua é dinâmico e carrega muito da diversidade cultural do país, das influências históricas, do processo de ocupação dos territórios e também da interação das pessoas com o meio ao redor. Essa diversidade também inspira os modos de olhar, de conhecer e de brincar das crianças. 

“Precisamos perguntar às crianças como se sentem sendo chamadas assim”

A afirmação é da jornalista e educadora Renata Meirelles. Ela chama atenção para o fato de que essas definições partem de uma perspectiva do adulto, refletem arquétipos e a própria história da concepção de infância. “Muitas delas carregam tom negativo e tratam a criança como um ser inacabado ou sinônimo de bagunça”, diz. Isso porque criança é puro movimento e presença, o que muitas vezes causa desconforto para os adultos. 

Para comemorar o 12 de outubro, o Lunetas reuniu 15 palavras usadas para se referir às crianças, meninas e meninos pelo Brasil. E na sua região e família, como os pequenos são chamados? Conta pra gente! 

  • Erê

“Isso é coisa de erê”, dizem filhos de santo nos terreiros de religiões de matriz africana. Em iorubá, a palavra significa “brincar” (com sentido diferente de “omo” que significa criança) e se refere à energia infantil ligada aos orixás. O vocabulário saiu das giras para nomear as “traquinagens” e a pureza na relação dos pequenos com o mundo. 

  • Curumim e cunhatã

Curimim” vem do tupi “kunumim” (menino). No norte do país, é comum usá-la para se referir às crianças indígenas. Já para as meninas, o termo que se usa é “cunhatã”. 

  • Guri

A palavra tem origem tupi, provavelmente como indígenas chamavam os “kï’rï” ou  “bagres novos” (tipo de peixe). Hoje, quem passa pelas ruas do sul do Brasil se acostuma rapidamente com a expressão – ou sua variação no feminino “guria” -, que se trata de um regionalismo para designar “menino” ou “criança”. 

  • Piá

Parece som de passarinho, mas é como as pessoas chamam os meninos em regiões do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, especialmente comum nos interiores. Em alguns dicionários, o verbete se refere a meninos mestiços de indígenas com brancos. 

  • Bacuri

“Bacuri” ou “bacurim” é um jeitinho de se referir carinhosamente aos filhos, uma expressão muito usada no Sul do país. Bacuri também é o fruto do bacurizeiro, uma árvore de grande porte encontrada na região amazônica. 

  • Cria

Ainda nos sentidos carinhosos também é comum, em várias regiões do Brasil, se referir aos filhos como “minha cria”, que tem a mesma origem do latim da palavra “criança”. 

  • Bichinho

No nordeste, se diz “meu bichinho” e “minha bichinha” tanto para crianças quanto para se referir a uma pessoa muito querida.  

  • Moleque

Embora as palavras ganhem novos sentidos ao longo do tempo, muitas vezes sua origem e seu uso, em determinados contextos, carregam um tom pejorativo e até racista. É o caso de “moleque”, utilizado na região Sudeste. Esse é um vocabulário africano que vem do quimbundo para designar “menino”. 

  • Rapaz

“Rapaz” também é um exemplo que carrega origem ligada à esperteza e traquinagem. Vem do latim “rapaces”, que designa alguém que rouba ou muito rápido e voraz. Uma curiosidade é que em algumas regiões do Nordeste, a expressão se tornou uma gíria para se dirigir a homens e mesmo mulheres. 

  • Garoto

O vocábulo “garoto”, nos dicionários consultados, apresenta dentre outras acepções algumas que se referem à criança. Em verbetes dos dicionários, “garoto” também apresenta uma acepção depreciativa sobre meninos e adolescentes, que brincam nas ruas. 

  • Neném

Em todos os cantos do Brasil, é muito comum que, mesmo não sendo mais bebês, as crianças sejam chamadas de neném. Apesar de ser usado de forma gentil, isso nem sempre agrada os pequenos. 

  • Garraio

Para se ter uma ideia, no dicionário, “garraio” é sinônimo de “má qualidade”.  No Sul do Brasil, para dar broncas ou chamar atenção das crianças, os adultos também usam essa expressão. 

  • Pirralho

Em várias partes do Brasil, “pirralho” é usado para falar dos meninos pequenos ou crianças atrevidas. Também pode ter um tom depreciativo e significar xingamento.

  • Pimpolho

Palavra usada para se referir aos brotos que nascem das videiras ou também às crianças. Nos dicionários consultados, pode significar “criança bem pequena” ou “criança robusta”. 

  • Ibeji

Um “orixá-criança” ou divindades gêmeas nas religiões de matriz africana, associadas à dualidade da vida e sincretizadas com os santos católicos Cosme e Damião. Por isso, a expressão pode ser usada para se referir a irmãos gêmeos.

“Criançário” indígena 

A seguir, selecionamos exemplos de como se diz “criança” em algumas línguas indígenas. Atualmente, há, pelo menos, 274 línguas indígenas faladas no Brasil, segundo o Censo de 2010.

Da’ra (Xavante)
Gĩr (Kaingang)
Kwarer (Guajajara)
Pitanga (Tupi antigo)
Xoima; exoimala; ohiromokose (menina) (Paresi-Haliti)
Poeto (Apalaí)

(Fonte: EBC)

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